A chegada de novos players à base industrial do mercado brasileiro de vidros planos deverá acarretar significativas mudanças na atual dinâmica do setor vidreiro em todo o País e, em especial, na região Nordeste. O pontapé inicial desse processo foi dado no mês de março, pela pernambucana Companhia Brasileira de Vidros Planos. Em evento que reuniu centenas de empresários do vidro, além de autoridades e representantes das principais associações vidreiras, a empresa lançou a pedra fundamental de sua fábrica, que será erguida no município de Goiana, a 65 quilômetros de Recife.
A construção da primeira fábrica de vidros planos do Nordeste e a única no Brasil viabilizada com capital 100% nacional foi oficializada no dia 15 de março pelo Grupo Cornélio Brennand, detentor da CBVP, em evento no próprio terreno onde o empreendimento será instalado. “O Ceará tem conseguido uma base de diversificação da sua indústria muito importante. A Bahia já tem uma concentração maior de commodities. Pode ser futurologia, mas eu diria que a ordem de crescimento será Pernambuco, Ceará e Bahia”, disse o presidente da CBVP, Paulo Drummond, em suas palavras aos presentes. Segundo ele, é sobre os três estados que tradicionalmente mais aportam investimentos na região que a nova indústria deverá concentrar suas expectativas.
A solenidade reuniu nomes do cenário político e econômico do Estado de Pernambuco, do Nordeste e do Brasil, entre os quais estavam os ministros Fernando Pimentel, do Desenvolvimento, e Fernando Bezerra Coelho, da Integração Nacional, o presidente da Assembleia Legislativa de Pernambuco, Guilherme Uchoa, o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, os senadores Humberto Costa e Armando Monteiro Neto e o prefeito de Goiana, Henrique Feneron, além de membros do conselho administrativo do Grupo Cornélio Brennand, que atua no Estado há mais de 90 anos, em segmentos que vão da produção de açúcar e álcool à fabricação de embalagens de vidro e utilidades domésticas. Além da CBVP, fazem parte do Grupo as empresas Atiaia Energia e Iron House.
Incremento
A nova planta contará com uma área construída de 90 mil metros quadrados e terá como alvos principais as indústrias da construção civil, moveleira e automobilística. O maior volume da produção de vidros planos deverá ser direcionado para a construção (65%), seguida do setor automotivo (15%). O restante será pulverizado entre os segmento moveleiro, de decoração e produtos da linha branca. A unidade irá atender especialmente a aquecida indústria da construção civil nordestina, mas também deverá ser a fornecedora de vidros para a fábrica da Fiat, prevista para ser inaugurada em Goiana em meados de 2014.
Com investimentos iniciais previstos em R$333 milhões, a construção da CBVP passou recentemente por uma revisão de ações e ajustes que elevaram esse valor para R$770 milhões. “Esse salto se deu em consequência da ampliação da capacidade de nosso forno, de 600 para 900 toneladas por dia. Além disso, incluímos no cronograma a construção de uma usina de beneficiamento de matérias-primas e a inclusão de uma linha de espelhos e laminados”, informou Drummond, ressaltando que a empresa visa, com a ampliação, à fabricação de produtos com maior valor agregado.
A escolha por Pernambuco levou em consideração a localização estratégica em relação aos outros Estados da região, além do estímulo e apoio oferecidos pelo governo ao projeto. “Se você considerar que Recife está a 800 quilômetros de Salvador e a 800 quilômetros de Fortaleza, essa já é uma distância economicamente competitiva. Os principais concorrentes, localizados no Sudeste, estão a dois mil quilômetros, então nós temos uma vantagem de 1,2 mil quilômetros no raio que agrega mais valor no Nordeste”, observou Drummond.
Metade do investimento será financiado por linhas da Superintendência para o Desenvolvimento do Nordeste (Sudene). Outros 30% virão de empréstimos do BNDES, via Banco do Nordeste, e o restante, de recursos próprios do grupo Cornélio Brennand.
Olho no Sudeste
Além do aditivo na fábrica pernambucana, o grupo anunciou a decisão de investir em uma unidade na região Sudeste, ainda sem endereço definido. De acordo com Drummond, uma consultoria especializada está analisando as melhores opções de localização, e um anúncio oficial deve ser feito em breve. A unidade consumirá pelo menos outros R$ 300 milhões em investimentos, segundo informações do presidente da CBVP.
Mariana Fortes e Helena Brennand, acionistas do Grupo Cornélio Brennand, participam do descerramento da placa que marca o início das obras
Enquanto a fábrica não fica pronta, a empresa fomenta sua carteira de clientes com vidro importado. Um centro de logística no entorno do Porto de Suape, no litoral sul de Pernambuco, e outro na capital paulista servem de base para a distribuição do material, cujo país de origem não foi revelado pela CBVP por razões concorrenciais.
Conforme ressaltou o presidente, um dos pontos fortes da CBVP será a utilização de tecnologia pioneira, com ganho de eficiência operacional, o que a posicionará no patamar das mais modernas fábricas de vidros planos do mundo. Como grande diferencial, a unidade produtiva da CBVP utilizará uma tecnologia inédita no Brasil, a L.E.M ( Low Energy Melter), que reduz o consumo de energia em até 20%, em comparação com a média mundial das indústrias de vidros planos. Segundo Drummond, a previsão é de que sejam gerados cerca de 370 empregos diretos e mais de 1.500 indiretos.
A planta de Goiana será inaugurada em 2013 e entrará em um mercado com índice elevado de concentração, onde quatro indústrias respondem pelo atendimento da demanda: Cebrace e Guardian, que fabricam vidro plano para a indústria da construção civil e automotiva; e Saint-Gobain Glass e a União Brasileira de Vidros (UBV), fabricantes de vidro impresso. Drummond, adiantou também que mesmo antes de iniciar sua operacão, a fábrica já conta com uma carteira de 160 clientes e a expectativa é que as primeiras fornadas de vidro saiam entre julho e agosto.
Confira o acendimento do forno da Vivix (nova marca CBVP):