Norma para sacadas entra em vigor

Norma para sacadas entra em vigor

Capa: Norma para sacadas entra em vigor

Em alta tanto em cidades onde o inverno é rigoroso, como Porto Alegre e municípios serranos da Região Sul, como em regiões mais quentes como Salvador, Recife e Rio de Janeiro, o envidraçamento de sacadas tem sido cada vez mais empregado como forma de proteger os ambientes e ao mesmo tempo controlar a temperatura interna de forma adequada. Recurso de uso crescente entre arquitetos e construtores, as sacadas envidraçadas ganham espaço no cenário urbano, seja em grandes capitais, no interior e no litoral, promovendo integração e valorizando ambientes sociais e de lazer. 

 

Diante desse panorama, a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) publicou em janeiro uma nova norma para regulamentar esse tipo de instalação. Em processo de discussão e elaboração desde 2009, a NBR 16259:2014 — Sistemas de envidraçamento de sacadas — Requisitos e métodos de ensaio define as diretrizes que asseguram o desempenho dos sistemas de envidraçamento de sacadas, em edificações de uso público ou privado e passou a vigorar no dia 16 de fevereiro. Seu texto está disponível para consulta no site da ABNT. 

 

“É de fundamental importância regulamentar um sistema que vem sendo vendido no mercado sem qualquer controle, colocando em risco usuários e moradores de edifícios”, afirma a coordenadora da Comissão de Estudos sobre o tema, Cláudia Patrícia Lopes, gerente da divisão Glass da fabricante de ferragens Dorma. 

 

Inédito no mundo, o projeto estava em elaboração por uma comissão formada no âmbito do Comitê CB-37 em março de 2009. Segundo Cláudia, a inexistência de uma referência internacional dificultou a tarefa. “Nosso conceito arquitetônico de edificação vertical é diferente de outros 

 

países por dois fatores. O primeiro é cultural: usamos nossas sacadas como área de convívio social. O segundo é climático: a sacada envidraçada permite que o espaço seja usado o ano todo”, observa a coordenadora. A falta de parâmetros obrigou a comissão a partir do zero, em um processo que foi dividido em duas partes: o desenvolvimento do projeto com base na norma ABNT-NBR 10821 – Esquadrias Externas para Edificações; e a obtenção de dados técnicos reais, com apoio de laboratórios que permitam ao Comitê ABNT/CB-37 realizar ensaios, para verificar se os valores propostos são exequíveis e se trazem benefício ao sistema.

 

Ao longo do processo, foram realizados testes de reforços verticais e de manuseio em laboratórios especializados, que remeteram aos parâmetros para o ensaio da norma. Fixação, ancoragem, resistência e desempenho são aspectos de fundamental importância para o sistema de envidraçamento de sacadas, tanto quanto o vidro, e estão entre os procedimentos abordados pela norma.

 

 

 

 

 

Acompanhe, a seguir, a entrevista com Claudia Lopes, coordenadora da Comissão de Estudos do projeto e gerente de produtos da Dorma Glass.

 

Entrevista: Claudia Lopes

 

 

 

Quais os aspectos mais relevantes da norma?

 

Para mim, que trabalhei por mais de quatro anos como coordenadora desta norma, o ponto mais importante é o fato de o sistema ser analisado como um todo, incluindo ferragens, perfis e vidros. Estamos falando de um sistema que deverá suportar pressões de vento de acordo com a região em que será instalado, sob testes de salinidade e ciclagem entre outros. Os testes também vão avaliar a resistência às operações de manuseio, ciclos de abertura e fechamento. Outro quesito importante diz respeito à emissão de um atestado de responsabilidade técnica, que deverá ser fornecido por um profissional, arquiteto ou engenheiro, que assumirá toda a responsabilidade técnica pelo produto instalado. 

 

 

Quais foram os principais desafios ao longo dos estudos e análises para elaboração da norma?

 

Nosso primeiro desafio foi conscientizar o mercado da importância de estabelecer uma normatização para o segmento. Em seguida, foi encontrar os pontos de maior relevância para, a partir dessas informações, definir os ensaios e seus critérios de avaliação. Nesse aspecto tivemos uma surpresa, pois grande parte dos fornecedores do mercado desconhecia o desempenho de seus produtos. Assim, começamos por convidar algumas empresas, para viabilizar a definição de parâmetros mínimos de qualidade.

 

 

Quais foram as principais etapas de elaboração da norma, desde 2009 até sua publicação?

 

Nesses quase cinco anos de comissão de estudos, nós fornecedores tivemos em mente que estávamos desenvolvendo uma norma técnica e não uma norma comercial. Ou seja, os interesses comerciais tiveram de ser colocados de lado. No final do desenvolvimento da norma, tivemos dois pontos polêmicos. O primeiro, com relação à instalação do sistema de envidraçamento sobre guarda-corpos; o segundo quanto à importância do atestado de responsabilidade técnica, em razão da complexidade do projeto e instalação do produto. Depois de muito tempo de discussão, conseguimos aprovar os dois tópicos.

 

Por que o envidraçamento de sacadas é cada vez mais difundido no Brasil?

 
Vejo nosso conceito de construção civil totalmente diferente do resto do mundo. Nossos terraços, por razões climáticas e até mesmo culturais, são voltados para o convívio com amigos e família. Usamos nossas varandas como uma extensão de nossas casas, como os quintais de antigamente. As grandes cidades brasileiras estão se tornando cada vez mais verticais, mas não abrimos mão dos nossos antigos hábitos.

 

 

Quais os principais cuidados tomar no envidraçamento de sacadas?

Temos de considerar os aspectos primordiais de segurança e desempenho. Entender que os sistemas têm suas limitações e não substituem os caixilhos já existentes na edificação.

 

 

 

Como é composta a comissão fornada no âmbito do Comitê CB- 37? 

A comissão foi formada primeiramente pelos integrantes do CB37, por nós fornecedores, por grandes consultores como doutor Paulo Duarte, e por empresas do mercado de vidros, películas de segurança, produtos de fixação e vedação entre outras. Frequentemente com a presença de consumidores.

 

 

Quais as principais referências em que o projeto foi baseado? 

Sem dúvida a norma de esquadrias foi nosso norte, sempre buscávamos nessa norma as respostas que faltavam.

 

 

 

Em que consistiram os ensaios e quais foram seus principais objetivos?

Tivemos o apoio do ITEC e do Instituto Falcão Bauer, este nos fornecendo o laboratório e realizando testes. O objetivo dos nossos primeiros ensaios era conhecer os produtos comercializados e suas limitações para assim definir desenhar da melhor maneira os testes e avaliar o desempenho dos produtos.