O otimismo da multinacional Guardian com relação ao mercado nacional foi mais uma vez evidenciado no mês de julho, quando a empresa anunciou oficialmente a intenção de construir uma nova fábrica em Tatuí, no interior de São Paulo, voltada à produção de espelhos e vidros pintados. O projeto da Guardian do Brasil, já instalada no município, prevê um investimento da ordem de US$ 30 milhões, a ocupação de uma área de 7mil m² e a geração de 150 empregos diretos e indiretos. “A decisão de ampliar nossa fábrica em Tatuí e aumentar nossa capacidade produtiva de espelhos está baseada no próprio crescimento do País, considerado um de nossos principais mercados de atuação”, afirma Ana Paula Camargo, diretora de marketing da Guardian no Brasil. “O mercado brasileiro seguirá crescendo. Sabemos que sob a ótica do consumo per capita ainda temos muito espaço no Brasil, quando comparado com mercados mais maduros”, acrescenta Evandro Costa, diretor geral da empresa no País.
De acordo com Ana Paula, a nova linha de produção vai contar com a mais avançada tecnologia do setor, seguindo o padrão mundial de qualidade da Guardian, e deverá conferir à empresa uma linha de espelhos com capacidade para processar peças de grande dimensão (jumbo). “Vamos praticamente triplicar nossa capacidade de produção de espelhos”, garante. “A nova linha de produção vai permitir manter o padrão Guardian de atendimento, focado na agilidade de entrega em todo o território nacional.”
A primeira unidade da Guardian em Tatuí foi instalada em 2008, numa área de 43 hectares, e sua linha de montagem começou a funcionar em abril do ano seguinte. A fábrica tem capacidade de 800 toneladas de vidro plano por dia, considerada a maior do mundo no segmento. Em meados de 2010, com um investimento total de R$ 350 milhões, a fabricante de origem norte-americana já inaugurava uma nova unidade na região e ampliava sua fábrica de Porto Real, no Rio de Janeiro, primeira planta da empresa no Brasil, que passou a contar com uma linha coater [ou, na tradução literal do inglês, “revestidor”], responsável pela fabricação de vidros especiais, principalmente os voltados à eficiência energética. “Trata-se da linha de revestimento de vidros mais avançada do mundo, com capacidade para gerar produtos como o vidro de controle solar de alto desempenho Sun Guard, os vidros de eficiência Low-E e o Diamond Guard, linha dez vezes mais resistente a riscos”, afirma Evandro Costa.
Eficiência e sustentabilidade
Os investimentos realizados em 2010 na planta de Tatuí têm atendido às expectativas da Guardian do Brasil, fato que se deve, principalmente, à forma como a empresa preparou o mercado para a construção da nova unidade. “Já com o coater, sabíamos que seria um desafio maior, porque trouxe para o Brasil uma linha de produtos pouco conhecida pelo público, inclusive em relação aos seus benefícios”, comenta o diretor. “Trata-se de um desafio não somente da Guardian, mas de toda a indústria vidreira. É preciso haver um esforço geral para que o consumidor final conheça, por exemplo, os vidros de controle solar.”
Estratégia de mão dupla: decoração e fachadas sustentáveis. Acima, edifício Eco Berrini, em São Paulo, com mais de 26 mil m² de vidro SunGuard Neutral Plus 50. O produto oferece bloqueio de radiação de 64% e transmissão luminosa de 35%.
Os esforços da Guardian estão especialmente dirigidos à oferta e desenvolvimento de produtos com características de eficiência energética, principal aposta da empresa para lidar com a crescente concorrência no setor. “O revestimento de fachadas com vidros de controle solar tem sido cada vez mais explorado no Brasil e no mundo”, afirma a diretora de marketing. Pensando em atender este segmento, a Guardian tem dado particular atenção ao desenvolvimento de novas tecnologias segmentadas para cada um dos países onde comercializa seus produtos. “Contamos com centenas de novas patentes e novas fábricas ao redor do mundo. No Brasil, o grande destaque é a fabricação local, o que garante todo o suporte técnico e comercial que o cliente necessita”, ressalta a diretora.
A estratégia de concentrar o foco neste segmento é reforçada a partir da aliança com a Pythagoras Solar, empresa especializada em soluções para eficiência energética. A parceria prevê o uso dos vidros Sun Guard para a fabricação e comercialização de painéis solares com tecnologia PGVU (sistema para construção de painéis fotovoltaicos integrados aos vidros), para aplicação em fachadas de edifícios comerciais. “As características destes vidros fabricados pela Guardian, como controle de calor e luminosidade, com aumento da eficiência energética, oferecem atributos importantes para o avançado sistema de geração de eletricidade, colaborando diretamente na obtenção de certificações com foco em sustentabilidade”, diz Ana Paula.
Outro segmento em que a Guardian tem expandido sua participação é o de interiores, por meio de opções que substituem outros revestimentos de parede, como papéis e tintas, da aplicação de vidros e espelhos na divisão ambientes e mesmo em móveis como armários e mesas, que ganham sofisticação com vidros coloridos e espelhos ou maior nível de transparência.
Dentro do programa de ações e investimentos realizados em 2012, a empresa destaca o lançamento de quatro produtos incorporados ao portfólio de interiores: UltraClear, Espelho SatinDeco, DecoCristal e Ebony DiamondGuard versão 2.0. “O espelho Guardian é reconhecido pela qualidade, e esse é o posicionamento que vamos manter”, diz a diretora.
Além disso, a linha de coater ganhou capacidade para produzir vidro baixo emissivo (low-E) com dupla camada de prata (a Guardian já produz o low-E convencional desde 2010). Com relação à nova linha em Tatuí, a empresa espera produzir as primeiras chapas de teste no final de 2012. “Vale ressaltar que, somada ao fato de que em breve contaremos com uma linha para espelhar jumbos, a capacidade instalada de produção de float jumbo dobrará em Tatuí. As duas plantas já produzem chapas desse porte, acompanhando a tendência de maior consumo desse tipo de produto”, reforça o diretor Evandro Costa.
Para os próximos anos, a Guardian deverá se concentrar em ações que promovam o aumento da utilização do vidro pelo consumidor final. Ana Paula chama atenção para estudos recentes que revelam que, enquanto no Brasil, o consumo per capita de vidro plano é de 6 quilos por ano, países europeus consomem o triplo deste volume. “Esses dados reforçam a necessidade de amadurecimento deste mercado, ainda tímido comparado aos padrões americanos e europeus.”
Se a chegada de novos players, como a japonesa AGC e a brasileira CBVP chega a incomodar a Guardian? Ana Paula garante que não. “A Guardian já compete há muitos anos no mercado nacional, principalmente com vidros importados. A principal mudança é que a livre concorrência vai oferecer novas perspectivas às empresas e aos consumidores, com produtos fabricados localmente, sem subsídios governamentais, algo que se traduz em valores de comercialização semelhantes”, aponta a diretora.