Qualificar mão de obra levando conhecimento para dentro das unidades de distribuição de vidros e ferragens. Com esse objetivo em mente, o instrutor Ricardo Câmara lançou as bases, em 2010, do que se tornaria a Central do Vidraceiro, empresa de treinamentos itinerante que, ao lado de parceiros do segmento de vidros e ferragens, tem-se empenhado em tornar os cursos acessíveis a profissionais de todos os níveis. Projetista, instrutor e diretor da organização, Câmara acumula 22 anos de experiência no mercado de vidros temperados e esquadrias de alumínio. Foi gerente de vendas na empresa Alushow por nove anos e, na sequência, assumiu a gerência de projetos da Alumishow, função em que permaneceu por outros nove anos.
Em entrevista a Vidro Impresso, ele conta como foi criada a proposta da Central do Vidraceiro, que em 2012 se ramificou no projeto Qualificação ao seu Alcance, com a missão de levar cursos de formação e técnicas em vidros temperados para várias regiões do Brasil. Ministrados dentro de têmperas, unidades fabris, distribuidoras, revendedoras e vidraçarias, os cursos da Central do Vidraceiro já atenderam mais de 3 mil alunos e têm-se tornado uma alternativa acessível a profissionais com variados objetivos e níveis de capacitação. Compartilha, também, sua visão sobre os caminhos a serem percorridos para aumentar a qualificação de mão de obra no Brasil, enfatiza a necessidade de formar profissionais que sejam multiplicadores e oferece orientações àqueles que desejam ingressar no ramo vidreiro ou galgar patamares mais altos no setor.
Como nasceu a Central do Vidraceiro?
Sempre ouvi as pessoas comentando sobre a falta de mão de obra qualificada. Criamos a Central do Vidraceiro para ajudar a sanar esse problema. Iniciamos nossos cursos dentro de uma distribuidora de ferragens no Rio de Janeiro. O sucesso do projeto já rendeu parcerias com fabricantes, têmperas, distribuidores e publicações do setor. Os cursos incluem Instalação de box, medição e projeto, envidraçamento de sacada, guarda-corpo e portão de garagem.
Conte um pouco sobre sua relação com o mundo vidreiro e sua trajetória profissional neste setor.
Iniciei minha carreira aos 15 anos em uma empresa de esquadrias de alumínio, a Alushow, como ajudante de serralheiro. Dois anos depois fui promovido a gerente de vendas, função em que permaneci por nove anos. Em seguida fui para a Alumishow Vidros Temperados, como gerente de Projetos. Lá tive a oportunidade de trabalhar com grandes engenheiros e arquitetos, convivência que me propiciou traquejo e desafios no mundo do vidro.
Quais os passos seguintes até chegar à função atual?
A falta de mão de obra levou muitas empresas a nos convidarem para realizar treinamentos para suas equipes, consultoria e até mesmo especificação de obras. Foi daí que nasceu o projeto de montar uma empresa de treinamento itinerante. Comecei a organizar pequenos cursos, a valores simbólicos, apenas para entender as necessidades das pessoas que nos procuravam. Foi neste momento que entendi o tamanho da carência no segmento e percebi que a Central do Vidraceiro poderia estender esse modelo para outros estados. Em 2012 criamos projeto Qualificação ao Seu Alcance, que visa levar o curso para todas as regiões do Brasil.
Qual sua principal meta à frente da Central do Vidraceiro?
Transformar pessoas sem experiência em profissionais em um curto espaço de tempo.
Acredita que a falta de mão de obra qualificada é um dos principais gargalos para o desenvolvimento do setor vidreiro?
Acompanho muitas vidraçarias que apresentam potencial para dobrar seus faturamentos, mas não conseguem devido à falta da mão de obra qualificada, e por esse motivo acabam dispensando obras de grande valor agregado. Tecnicamente nosso setor tem que crescer muito, mas a Central do Vidraceiro enxerga esse problema como uma grande oportunidade.
Como descreve o público alvo atingido por esses cursos e que avaliação faz de seus resultados?
O público alvo são profissionais de qualquer setor que tenham interesse em ingressar no ramo vidreiro, ou mesmo aqueles que necessitem de uma reciclagem. Temos acompanhado alunos que vieram de ramos totalmente diferentes, como motoristas de caminhão, gerentes de lanchonetes, militares, pedreiros, marceneiros, pintores etc. E o mais importante é que, em grande maioria, todos se encontraram, não apenas profissionalmente, mas também financeiramente.
Em que consiste a parceria firmada recentemente com a revista Vidro Impresso?
A Vidro Impresso sempre foi uma referência no setor vidreiro. Nossa parceria já chega a dois anos e temos estreitado esse relacionamento cada vez mais. Juntos vamos divulgar e levar o projeto Qualificação ao Seu Alcance para todo o Brasil, contribuindo de forma efetiva com o setor.
Como funcionará essa parceria e de que forma ela deverá beneficiar o segmento, tanto do lado das empresas como dos profissionais?
Essa pareceria visa levar os cursos para serem ministrados dentro das empresas, utilizando o alcance de mídia que a Vidro Impresso já tem. Com essa ação nosso trabalho profissionaliza pessoas a um custo acessível, ajuda o distribuidor a fidelizar seus clientes e especifica de forma correta a aplicação de cada material, transmitindo as informações técnicas das fábricas diretamente aos profissionais.
Em que segmentos do ramo há maior necessidade de qualificação?
Entre distribuidores, deve haver melhor atendimento ao vidraceiro no balcão, pois os vendedores são contratados para vender ferragens sem sequer conhecer o vidro temperado e suas aplicações. Entre instaladores, o maior gargalo é a falta de conhecimento técnico e ferramentas precárias. Já com relação às vendas, a falta de conhecimento técnico é o maior problema.
O que recomenda ao profissional do ramo vidreiro que deseja buscar qualificação?
Em primeiro lugar decidir em que área do vidro quer atuar. Começar pelos módulos mais simples, como instalação de box, engenharia, medição, folgas e projeto para têmpera. O ideal é que seja o mais próximo de casa, para que o investimento seja o menor possível. Em caso de dúvida, entrar em contato com a Vidro Impresso.
Quais os principais desafios para o profissional vidraceiro que busca qualificação no mercado?
Viajando pelo Brasil, descobri que temos regiões muito carentes, nas quais as informações demoram em chegar. Por esse motivo, o profissional acaba tendo que buscar qualificação no Rio de Janeiro ou em São Paulo, e nem todos têm essa disponibilidade financeira.
Em que consistem os cursos oferecidos pela Central do Vidraceiro?
Os principais cursos são Instalação de box; Instalação de portas, janelas, portas de abrir e mola de piso; Medição, folgas, pedidos e projeto para têmpera; Envidraçamento de varanda; Fabricação e instalação de guarda-corpo; e Fabricação e instalação de portão de garagem. Os cursos são ministrados em linguagem simples e de fácil entendimento, e, principalmente voltados para iniciantes ou para profissionais que buscam reciclagem. Em nossos cursos ressaltamos tópicos que vão de comportamento e apresentação a procedimentos de instalação com segurança. Também desenvolvemos cursos customizados para as empresas.
Onde esses cursos são realizados?
Nossos cursos são realizados no Rio de Janeiro, com 5 unidades; Minas Gerais, com 2 unidades; e Bahia, Pernambuco, Ceará e Maranhão, 1 unidade cada. Em 2015 temos a pretensão de levar os cursos para todo o Brasil.
Como avalia o desempenho atual do mercado vidreiro?
Acredito que temos um tesouro a ser explorado. As informações técnicas sobre os produtos de valor agregado ainda estão muito longe do vidraceiro. Gostaríamos de convidar os grandes fabricantes para conhecer nosso trabalho e perceber que 70% dos nossos alunos são profissionais que estão migrando para o vidro. Interessados, portanto, em trabalhar com produtos de maior valor agregado.
Quais os principais desafios para qualificar a mão de obra e atender às exigências do mercado? Qual a responsabilidade de cada elo da cadeia para suprir esta carência?
Temos que ir por partes, pois o mercado está em fase de pleno aquecimento e lançamentos de produtos. Primeiramente temos que qualificar profissionais que sejam multiplicadores e em seguida formar técnicos nessa área. A nossa cadeia é muito grande e pouco apoia esse tipo de projeto. Falando em nome da Central do Vidraceiro, posso dizer que estamos empenhados no objetivo de ajudar o setor vidreiro.
Quantos alunos a Central do Vidraceiro já atendeu até hoje? E qual a meta para o próximo ano?
Desde seu nascimento a Central do Vidraceiro já atendeu 3 mil alunos. Para o próximo ano temos a meta de atender 1,5 mil alunos.
Quais são as principais empresas parceiras da Central do Vidraceiro? Como funcionam essas parcerias?
Revista Vidro Impresso, AL Puxadores, UBV Vidros e Molas Marix.
Essas empresas nos apoiam com um valor mensal para ajuda de custo de apostila e divulgação. Em contrapartida, divulgamos os produtos dos parceiros em nossos cursos, com informações técnicas e suas aplicações.
Quais as mais recentes tecnologias, ferramentas e procedimentos disponíveis hoje no mercado que podem ser incorporados ao dia-a-dia do vidraceiro?
Na linha de ferramentas temos os equipamentos a laser, tais como nível, prumo, trena, medidor de ângulo digital e máquinas de furar a bateria. E para a gestão da empresa temos excelentes softwares disponíveis no mercado, desde orçamento, controle de estoque, vendas, caixa, contas a pagar e receber, projeto para têmpera, ordem de serviço e logística.
Quais dicas daria ao profissional vidraceiro que deseja melhorar o desempenho e a rentabilidade de seu negócio?
Em primeiro lugar, identificar os erros e pontos fracos de sua vidraçaria, em seguida participar de treinamentos específicos. Por exemplo, se sua vidraçaria erra muitos vidros, já está identificado o ponto fraco. Seu medidor terá então que fazer um curso de medição, folgas e projetos para têmpera, e em seguida um curso de instalação, pois para fazer um projeto ele tem que entender de instalação.