Autor de uma obra essencial para toda a produção artística que o sucedeu, Vincent Van Gogh é um dos mais importantes nomes da história da arte. Maior expoente do pós-impressionismo, o artista holandês autor da série “Os Girassóis” e tantas outras pinturas célebres produziu, em uma carreira meteórica de apenas dez anos, um total de mais de 800 telas, entre as quais cerca de 200 integram o acervo permanente do Museu Van Gogh, em Amsterdã, um dos mais populares da Holanda.
Situado na Praça do Museu (Museumplein), junto a outros da cidade, o Museu Van Gogh recebe anualmente cerca de 1,6 milhões de visitantes, número que cresce a cada ano. Concebido pelos arquitetos Rietveld e Kisho Kurokawa, o projeto original do edifício, erguido em 1999, pedia soluções inteligentes para receber esse intenso fluxo de pessoas de forma adequada. E foi dessa necessidade que nasceu o novo hall de entrada, uma estrutura transparente integralmente envidraçada, assinada pelo escritório holandês Hans van Heeswijk Architects.
Aberto ao público em setembro, o novo hall consiste em um complemento do design do edifício já existente, em forma de uma asa elíptica. “O objetivo central foi garantir harmonia e diálogo entre a nova estrutura e a já existente, criando um conjunto integrado, sem abrir mão de soluções arrojadas e modernas”, afirma o arquiteto Hans van Heeswijk, chefe da equipe que assina o projeto. Segundo ele, o envelopamento envidraçado conta com avançada tecnologia nos sistemas de engenharia estrutural e abriga um iluminado e espaçoso foyer, além de vestiários e uma loja. “O vidro cumpre o papel de assegurar um ambiente espaçoso, claro e aberto”, comenta o arquiteto. “Queríamos captar a atmosfera ensolarada de muitas pinturas de Van Gogh.”
Para o diretor do museu, Axel Rüger, a obra enriqueceu tanto o edifício como o quadrilátero do Museumplein, formado por um amplo gramado, em torno do qual ficam os demais espaços culturais da região, como os famosos Stedelijk Museum e Rijksmuseum. “Agora todos eles têm suas entradas principais voltadas para a praça”, comenta Rüger. “A estrutura transparente confere um ar arejado de modernidade, condizente com o espirito da cidade, ao mesmo tempo em que preserva as características e a linguagem do antigo edifício.” Para a inauguração do hall, a prefeitura da cidade enfeitou a praça central com mais de 125 mil girassóis. A nova entrada agregou ao edifício mais de 800 m2 de área, com o objetivo de melhorar o fluxo de pessoas, além de criar mais salas para receber e acomodar os visitantes.
Em dose tripla: fachada, cobertura e escadas
Em termos de engenharia construtiva, o projeto de Hans van Heeswijk já registra os primeiros recordes. Executado pela empresa de engenharia holandesa Octatube, o novo hall do Museu Van Gogh converteu-se na maior estrutura arquitetônica de vidro de toda a Holanda. Composta por vigas e pilares de aço sustentando unidades de vidro duplo, a obra é avaliada pelo arquiteto como uma inovação técnica importante no uso do vidro como material estrutural. “As hastes estruturais de vidro chegam a atingir 12 metros, as mais longas já usadas na arquitetura holandesa”.
Com área total de aproximadamente 600 metros quadrados, a cobertura tem como geometria principal uma concha sob um ângulo de 16,5 graus. As 30 hastes de vidro, únicas em seu comprimento, apresentam uma altura otimizada para acentuar o formato curvo da cobertura. “Para garantir estabilidade, as hastes verticais foram conectadas à estrutura de aço, ou seja, ambas trabalham juntas como uma única estrutura”, explica Heeswijk.
Já a fachada curva é composta por unidades de vidros insulados, laminados e curvados a frio. “Isso significa que os painéis retangulares foram moldados no local, durante a instalação”, conta o arquiteto. A fachada cobre uma área aproximada de 650 metros quadrados. O fechamento vertical recebeu 20 hastes estruturais de vidro, cada uma com seu próprio tamanho e formato. A maior delas atinge 9,4 metros de comprimento.
A terceira estrutura envidraçada que chama atenção é a da escadaria no centro do hall de entrada. Seus degraus são sustentados por um arco de vidros laminados triplos, ao qual se transferem as cargas mais elevadas da escada. “Graças a esse arco, as estruturas de alumínio são mínimas, garantindo máxima transparência”, comenta o arquiteto. Luzes de LED integradas aos vidros que formam os degraus conferem ainda mais luminosidade ao conjunto. Todos os vidros são laminados com o polímero SentryGlas, da Dupont.
“O vidro é a essência da edificação e traduz todo o objetivo do projeto. O envelopamento envidraçado conta um uma estrutura de sustentação única, que mal pode se percebida”, ressalta o arquiteto. “Ao entrarmos, a pergunta que ocorre é: como todo esse edifício envidraçado está sendo sustentado? E a experiência que se tem é de luminosidade, amplitude e vistas desimpedidas”.