União da Cadeia Vidreira

União da Cadeia Vidreira

Capa: União da Cadeia Vidreira

Há 46 anos no mercado do vidro, José Domingos Seixas assumiu, em meados de 2017, a presidência da Abravidro (Associação Brasileira de Distribuidores e Processadores de Vidros Planos), após dois mandatos consecutivos de Alexandre Pestana. O executivo já foi diretor da associação e presidente, em 2015, do Sincavesp (Sindicato do Comércio Atacadista de Vidros Planos, Cristais e Espelhos do Estado de São Paulo), além de ter uma longa atuação em uma das mais tradicionais e antigas empresas do mercado, a Cyberglass. Sua gestão está pautada no objetivo de unir toda a cadeia vidreira.

“Este ano, também passamos por graves problemas como os aumentos sucessivos da matéria-prima e até mesmo falta de vidro. A Abravidro e as entidades regionais fizeram forte pressão junto às usinas, e os processadores restabeleceram aos poucos seus estoques. Com isso, o mercado começou a registrar uma discreta melhora no mês de novembro”.

 

Conte-nos sobre sua trajetória profissional, desde o início de carreira e atuação na Cyberglass.

Trabalho no vidro há 46 anos. Iniciei essa jornada com meu pai, naquela época em que se carregava vidro na mão e se cortava com diamante. Vivenciei vários momentos de mudança e transformação em nosso mercado quanto ao acesso à matéria-prima, formação das indústrias de processamento, entrada de novos fabricantes, aumento do consumo de vidro e, por último, esse momento de retração da nossa indústria, desde 2015. A Cyberglass foi fundada com o nome Seixas e Cia pelo meu avô, e a empresa completa 93 anos em 2018. A mudança para Cyberglass ocorreu há doze anos. Hoje, meus sobrinhos Rodrigo e Gláucia já representam a quarta geração da família no negócio.

 

 

Como encara a responsabilidade de assumir a presidência desta importante associação, após dois mandatos consecutivos do último presidente, Alexandre Pestana?
É um grande desafio, sem dúvida, em especial pelo momento difícil que nosso setor está atravessando nos últimos anos. A minha entrada no mundo do associativismo se deu justamente na gestão do Alexandre Pestana, pessoa que admiro muito e que fez um excelente trabalho à frente da entidade. A capacidade da Abravidro de contribuir com o desenvolvimento de nosso setor me motivou muito.

 

 

Qual sua avaliação sobre os seis primeiros meses dessa nova gestão? Quais os planos já executados e desafios enfrentados?

2017 foi repleto de grandes desafios para a indústria vidreira. Mesmo com todas as dificuldades enfrentadas, a Abravidro não abriu mão de realizar o Simpovidro, maior encontro do setor vidreiro no Brasil. Considerando o cenário econômico e seus impactos no nosso setor, decidimos adequar o evento ao momento e reunimos 516 participantes – número que superou a meta inicial de 450 pessoas. Este ano, também passamos por graves problemas como os aumentos sucessivos da matéria-prima e até mesmo falta de vidro. A Abravidro e as entidades regionais fizeram forte pressão junto às usinas, e os processadores restabeleceram aos poucos seus estoques. Com isso, o mercado começou a registrar uma discreta melhora no mês de novembro.

 

 

O que tem mudado na nova gestão e no que ela se difere e/ou agrega em relação à anterior? 

Desde o início do meu mandato tenho dito que vou trabalhar com um objetivo: unir toda a cadeia vidreira. A base será fazer com que as usinas de base conversem com transformadores e que os transformadores conversem com vidraceiros – um trabalho iniciado na última gestão. E isso já está acontecendo. Represento uma classe e, junto com a diretoria, tenho buscado não apenas uma, mas várias soluções. Tenho acompanhado os projetos pessoalmente e dividido tarefas para que não fique tudo concentrado apenas no presidente.

 

 

Qual sua avaliação sobre o período de retração do mercado de processamento do vidro depois de um grande crescimento?

O ano de 2017 ficará marcado como um dos piores da história do mercado vidreiro. Acho que ninguém tem a solução para a crise, mas precisamos nos movimentar e nos mobilizar para viabilizar a nossa atividade apesar das dificuldades. Existe uma política de governo que não está clara, de impostos malcobrados em nosso setor, gerando um desequilíbrio muito grande e estimulando a competição desleal. Por outro lado, acredito que a crise não é só econômica — é política e social também – e a Abravidro tem muito a contribuir com educação, disseminando conhecimento em várias frentes de trabalho.

 

 

Qual a expectativa de crescimento do setor para 2018?

A economia brasileira começa a registrar melhora, as perspectivas vão ficando mais favoráveis e o ano novo já passa a ser encarado como uma real oportunidade de voltar a crescer, mesmo que em patamares mais tímidos. Em 2018, a Abravidro continuará a trabalhar no desenvolvimento de nosso mercado. Elaboração e revisão de normas técnicas, cursos de especialização, consultoria no processo de certificação, o melhor conteúdo sobre o mercado, combate à sonegação fiscal, consultorias técnica e jurídica, e a defesa dos interesses dos processadores e distribuidores são algumas das atividades que estão em nossa pauta.

 

“Desde o início do meu mandato tenho dito que vou trabalhar com um objetivo: unir toda a cadeia vidreira. A base será fazer com que as usinas de base conversem com transformadores e que os transformadores conversem com vidraceiros – um trabalho iniciado na última gestão. E isso já está acontecendo”.

 

Quais são os projetos da Abravidro em seu mandato para alavancar o segmento?

Há muitos projetos sendo realizados, mas ainda temos quase noventa iniciativas diferentes a serem levadas adiante. Meu maior objetivo é manter as rotinas e colocar em prática tudo aquilo que já foi planejado. Vamos profissionalizar cada vez mais nosso setor e isso inclui, principalmente, a participação dos vidraceiros, profissionais fundamentais para essa evolução.

 

 

O mercado deu um grande avanço com a CB37 e tem evoluído muito nos últimos quanto à preocupação e disseminação das normas técnicas, além da facilidade de acesso hoje deste processo para todos os elos da cadeia. Como avalia essa evolução?

Nenhum setor se desenvolve se não tiver referências técnicas estabelecidas. Essa sempre foi a motivação da Abravidro, que desde 1998 é sede do Comitê Brasileiro de Vidros Planos (ABNT/CB-37), órgão responsável por desenvolver e atualizar as normas técnicas relacionadas aos vidros planos sob responsabilidade da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). Em função desse trabalho, o setor vidreiro conta com parâmetros técnicos atualizados para utilização dos vidros planos com segurança, além de poder explorar o produto em todas as suas potencialidades.

 

 

O que ainda pode ser feito para que mais profissionais acompanhem as normas e aplique as orientações de forma mais efetiva e abrangente?

O conhecimento em relação ao conteúdo da norma está aumentando juntamente com o crescimento da capacitação e da profissionalização do setor. Isso é resultado, em grande parte, das várias ações que têm sido feitas pela Abravidro para que a norma seja aplicada. Os treinamentos técnicos direcionados para diversos públicos como estudantes de engenharia e arquitetura, engenheiros, arquitetos e vidraceiros são exemplos disso. 

A associação ministra treinamentos e apresenta a NBR 7199 ao Corpo de Bombeiros de vários Estados do Brasil, para que os vidros utilizados nas edificações sejam averiguados na avaliação de projetos e durante a vistoria para emissão do Auto de vistoria do Corpo de Bombeiros (AVCB), documento obrigatório para a obtenção do Habite-se. É uma forma de as corporações incluírem a NBR 7199 em suas instruções técnicas, verificando se os vidros estão adequados a cada aplicação e garantindo a segurança dos usuários. 

Outra conquista importante foi viabilizar junto à ABNT a participação remota, pela Internet, nas reuniões das comissões de estudo. Essa era uma demanda antiga da sociedade e uma bandeira da Abravidro para permitir a cooperação de empresas do País todo. Importante destacar ainda a presença cada vez maior de vidraceiros nas comissões de estudos. A participação desses profissionais em reuniões vem crescendo e eles também têm discutido as normas técnicas em grupos de WhatsApp, o que mostra que estão mais preocupados com o tema. Tudo isso contribui para o cumprimento da norma.

 

 

Quais são as principais carências e entraves do mercado de processamento do vidro e do segmento vidreiro em toda extensão de sua cadeia que impedem um crescimento maior?

As principais dificuldades estão no desconhecimento dos atributos do vidro por parte dos mais diversos públicos, o que envolve também alguns elos de nossa cadeia produtiva. Afinal, nem sempre o vidro mais barato proporciona a maior economia ao usuário, mas poucos conseguem repassar essa situação tão importante ao cliente. Para superar esses gargalos, é preciso investir em projetos de educação para o vidro, com mensagens específicas para cada público. 

 

 

O senhor afirmou que a questão do desequilíbrio da carga tributária é um dos principais focos do planejamento de seu mandato. Explique, por favor, quais são os principais problemas e como eles afetam o setor.

O modelo tributário do vidro plano é um pouco deturpado, sujeito a interpretações que geram competição desleal, dificulta a fiscalização e estimula a informalidade. O ideal para nossa categoria seria o sistema monofásico, no qual todos os impostos seriam recolhidos pelo primeiro elo da cadeira produtiva, logo no fornecimento da matéria-prima. Tentamos por um momento levar isso até Brasília, mas nos deparamos com inviabilidade técnica de implementação. Hoje, estamos pleiteando a equalização do Imposto sobre produtos industrializados (IPI). A ideia é aumentar a alíquota desse imposto na base e reduzir o porcentual na indústria de transformação, estimulando a completa formalização das operações e proporcionando facilidade de controle do mercado. Nesse momento, é nisso que a Abravidro está trabalhando, junto com a Abividro, que é representante das usinas de base.

 

 

O que de fato a Abravidro tem buscado e quais são as expectativas de melhorias neste sentido? Comente as ações da associação e parcerias. 

A Abravidro busca unir não apenas processadores e distribuidores, mas também usinas de base e vidraceiros, fazendo com que essa união promova desenvolvimento do mercado. Além disso, a associação tem como premissa disseminar conhecimento a todo o setor vidreiro, oferecendo qualificação e especialização para profissionais das mais diversas áreas do mercado.