Há poucos dias, uma família viveu momentos de tensão ao visitar a atração turística Skydeck, localizada no 103º andar da Willis Tower, um dos arranha-céus mais altos dos Estados Unidos, situado em Chicago. Formada por uma caixa com piso e parede de vidros projetada para propiciar vistas para a cidade nas alturas, a plataforma, que recebe anualmente em torno de 1,5 milhão de turistas, ficou com a superfície craquelada (trincada) durante uma visitação. O espaço foi interditado e submetido a uma rigorosa inspeção, que concluiu não ter havido comprometimento da estrutura nem risco para os visitantes, já que foi afetada apenas uma camada de proteção do piso.
Embora tenha sido só um susto, o episódio chamou a atenção para a importância que as propriedades de segurança dos vidros assumem em aplicação de alto risco, cada vez mais frequentes na arquitetura moderna, em especial em projetos voltados para o turismo. Nesse quesito, garantia e confiança são atributos fundamentais, garantidos por meio de processos inteligentes e inovadores nos mais variados níveis.
O setor está em plena expansão, segundo os dados do Panorama Vidreiro 2014 da Associação Brasileira de Distribuidores e Processadores de Vidros Planos (Abravidro). Em comparação com o ano anterior, a demanda de vidros temperados cresceu 7,5% e a de laminados registrou aumento de 9,7%, números que traduzem a busca por produtos de segurança.
Vidros de segurança são indicados para guarda-corpos, pisos, escadas, paredes, muros, coberturas, fachadas, marquises, passarelas, varandas ou sacadas. Seja qual for a área de instalação, o denominador comum será a resistência. O recomendado é escolher produtos que evitem ao máximo a ocorrência de acidentes, com propriedades estruturais capazes de suportar ventos, cargas extras, bombas, projéteis ou vandalismo. “Para determinar o nível de segurança de um vidro é preciso conhecer as propriedades físicas e químicas e composição do produto”, explica o gerente de projetos da Divinal Vidros, Leandro Gonçalves.
“No Brasil, há muitos anos que o vidro temperado é chamado de vidro de segurança. É verdade que a têmpera confere em média cinco vezes mais resistência em relação ao vidro comum, mas o verdadeiro vidro de segurança é o laminado”, ressalta o diretor da Avec Design, José Guilherme Aceto. “O vidro laminado é o que mais cresce em consumo no mundo. Peças ligadas por películas plásticas não soltam lascas quando rompidas”, acrescenta. Por isso, quando o objetivo é segurança, o especialista recomenda o uso de vidros temperados-laminados, que unem a alta resistência ao filme plástico que mantém colados a ele os fragmentos quebrados.
“O vidro comum quando se quebra forma pontas agudas que são extremamente perigosas”, lembra a arquiteta Silvia Romano, gerente de projetos da projetos da Pacaembu Vidros. “Com a expansão do mercado da construção civil, algumas normas técnicas foram revistas e os vidros de segurança se tornaram indispensáveis na maioria das edificações”, acrescenta. O diretor geral da Conlumi, Claudio Passi, endossa: “O vidro laminado traz em seu DNA a performance esperada em termos de segurança, pois sua película interna de difícil dilaceração chega a torná-lo intransponível mesmo quando atingido por arma de fogo.”
A Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) tem 37 documentos de regulamentação de vidros. De acordo com o gerente-técnico da Abravidro, Silvio Carvalho, no caso dos vidros de segurança, as especificações devem atender as seguintes regulamentações: ABNT NBR 14697 – vidro laminado, ABNT 14698 – vidro temperado e ABNT NM 295 – vidro aramado. Outra norma importante a ser consultada é a NBR 7199 – projeto, execução e aplicações de vidros na construção civil. “Instalações incorretas, descumprimento das normas, processamento inadequado e desconhecimento do consumidor podem comprometer a segurança do vidro”, avalia.
De acordo com o engenheiro Maurício Margaritelli, diretor da T2G, alguns itens determinam o nível de segurança do vidro: coeficiente de deslizamento e resistências mecânica, ao atravessamento, ao calor, à abrasão, à umidade e ao impacto com “Phanton”. “Para garantir que o vidro de segurança tenha o máximo desempenho deve haver o correto uso dos componentes de fixação e cálculos sobre a influência de ações externas”, indica. “No caso de vidros estruturais, os cuidados com as ligações são mais importantes do que o próprio vidro, na medida em que respondem pela confiabilidade do conjunto.”
“Os cálculos matemáticos usados para definir os níveis de segurança de cada vidro têm como base as variáveis de segurança, como cargas de vento e esforços físicos, entre outros, principalmente requisito de aplicação. As normas indicam a metodologia de classificação do produto como vidro de segurança”, esclarece a diretora de Marketing e Produtos da GlassecViracon, Claudia Mitne.
O gerente de marketing da Cebrace, Carlos Henrique Mattar, cita vários fatores que podem comprometer o sucesso do projeto: problemas de armazenagem e transporte, falta de testes periódicos de fabricação, instalação sem a utilização de calços, folgas e elementos mais duros que o vidro, além da especificação correta”.
Segundo a responsável pelo marketing da Saint-Gobain Glass, Marcela Calabre, o avanço das tecnologias dos vidros de segurança tem contribuído para a versatilidade dos projetos. Rebeca Andrade, da especificação técnica da PKO do Brasil, comenta que o desenvolvimento de novos produtos, em especial ionômeros plásticos, mais resistentes e rígidos que o PVB comum, possibilita projetos inovadores, em aplicações diferenciadas. “Arquitetos e designers mostram crescente interesse pelo produto, atraídos por sua principal característica: proteger, separar e integrar ao mesmo tempo.”
Tecnologia de ponta
Um componente que tem contribuído para a expansão dos vidros de segurança são os polímeros usados como interlayers estruturais de vidros laminados, como o SentryGlas® – antiga marca da DuPont e recém-adquirida pela empresa Kuraray – e o Saflex DG – da Solutia, que integra agora a Eastman. Para favorecer a produção de peças mais resistentes e de máxima proteção, as lâminas intermediárias dos vidros suportam mais peso, estão menos suscetíveis às intempéries e cada vez mais reforçadas.
Como exemplo é possível citar obras como a passarela flutuante Skywalk, localizada em uma das atrações turísticas naturais mais bonitas do mundo, o Grand Canyon, no Arizona (EUA), destino de milhões de pessoas todos os anos. A plataforma no formato de U suporta o peso de até 120 pessoas e resiste a ventos de até 160 km/h. O piso de vidro tem 5,08 cm de espessura, 3 m de largura e 20 m de profundidade. Consiste em uma estrutura de vidro multilaminado, interlayers estruturais SentryGlas® e quatro camadas do vidro Diamant da Saint-Gobain.