O vidro tem sido um material de crescente importância nos trabalhos do arquiteto Antonio Caramelo. Autor de projetos pioneiros e relevantes para a arquitetura brasileira, Caramelo afirma que, ao longo de seus 40 anos de experiência no segmento da construção civil, viu muitos produtos entrarem em evidência por uns tempos, para depois caírem em desuso. Com o vidro, diz ele, o processo tem sido inverso. Quanto mais se usa, mais se quer usar, sobretudo por sua versatilidade e tecnologia. Situado entre os grandes nomes da arquitetura baiana, é presidente da Caramelo Arquitetos Associados. Em sua carreira, atuou nas áreas de construção civil, patologias construtivas, planejamento urbano, projetos arquitetônicos e assessoria empresarial. Sua trajetória é marcada pela forma como tem respondido aos desafios do mercado com pioneirismo e soluções inovadoras fortemente embasadas na tecnologia e sustentabilidade. Em entrevista a Vidro Impresso, ele ressalta sua relação especial com o vidro, material que, associado a originalidade, criatividade e eficiência, ganha protagonismo em projetos com sua assinatura.
Como começou a explorar o vidro em seus projetos?
Com uma carreira de 40 anos vi muitos produtos se aprimorarem ou desaparecerem, e posso dizer que o vidro foi um dos que só ganharam em tecnologia e diversidade de aplicação. É um material que acompanha as tendências e vem agregando valor em segurança, beleza, durabilidade, tecnologia, sustentabilidade e ganho energético. O uso do vidro nos projetos da Caramelo Arquitetos Associados veio da necessidade de oferecer a melhor solução para alguns problemas, explorando características como transparência, impermeabilidade, controle solar, térmico e acústico, resistência e beleza para dar sofisticação e funcionalidade aos projetos.
Concorda com a afirmação de que ainda há muito concreto no Brasil? Como o vidro poderia ser mais explorado em projetos residenciais, por exemplo?
O uso do vidro no segmento residencial vertical encontra hoje muito mais liberdade estética e menos preconceito. Está havendo uma valorização da iluminação natural, da quebra da barreira entre espaço interno e externo, entre a natureza e o espaço construído. Estamos em franca evolução no uso do vidro em todo tipo de construção que requeira qualidade, conforto e sustentabilidade. O vidro pode ser usado em escadas, paredes, muros, móveis, nas fachadas, na decoração.
Acredita que os arquitetos brasileiros conhecem a fundo os diferenciais dos novos vidros, suas características tecnológicas e vantagens de aplicação?
Aqueles profissionais conceituados, que já especificam vidros inteligentes de alta performance ou que buscam desenvolver projetos com conceitos sustentáveis têm conhecimento mais aprofundado sobre o material. Para a grande maioria ainda há um hiato nesse aspecto.
Por que os vidros de maior valor agregado ainda são pouco usados no Brasil em comparação com outros países?
Primeiramente por falta de conhecimento de suas vantagens. Em seguida, pela dificuldade de aculturar os construtores de modo que estes repassem seus benefícios ao consumidor final.
Quais considera os projetos com aplicações mais arrojadas do vidro, no Brasil e no mundo?
Na Bahia, o Salvador Prime (Caramelo Arquitetos Associados). No Brasil, o Edifício Vitra (Daniel Libeskind). Na Inglaterra, o 30 St. Mary Axe, mais conhecido como “The Gherkin” (Fosters & Partners).
Como costuma ser aplicada a especificação técnica do vidro em suas obras?
Buscamos a especificação que se enquadre na perspectiva do cliente, tanto no quesito orçamentário, quanto naquele qualitativo, que tenha o melhor desempenho técnico e estético. Os critérios usados referem-se à qualidade dos produtos, serviços e garantia oferecidos pelos fornecedores. Há uma comunicação clara entre os arquitetos e fornecedores na definição dos produtos mais adequados para cada projeto, incluindo a caixilharia. Logicamente a comunicação com o cliente permeia todo processo.
As normas técnicas da ABNT relacionadas ao vidro têm sido satisfatórias para orientar arquitetos e engenheiros?
As normas têm ajudado muito a definir um nível essencial de qualidade. Apesar da necessidade de alguns ajustes, vêm atendendo aos requisitos do mercado.
Na sua avaliação, o que de mais arrojado os avanços da tecnologia do vidro, aliados aos de estruturas metálicas, têm permitido criar na arquitetura moderna?
O desenvolvimento tecnológico nas vedações externas, principalmente do vidro e dos sistemas de fixação, possibilita aos arquitetos usar a criatividade para elaborar projetos mais impactantes, surpreendentes e inusitados. Além dessa liberdade, o mercado vidreiro tem colocado à disposição uma série de produtos como os vidros de alto desempenho, aqueles nos quais podem ser impressas imagens, os que alternam opacidade e transparência em segundos, entre outros. As fachadas ventiladas, assim como as unitizadas, também se desenvolveram muito, permitindo o melhor aproveitamento das potencialidades dos materiais usados, no caso, o vidro e as estruturas metálicas.
O cliente ou o consumidor final costuma estar informado sobre a potencialidade do vidro arquitetônico?
Alguns clientes chegam a nós com uma idéia das potencialidades do vidro, sobretudo suas características sustentáveis, mas somos nós que, na maioria das vezes, sugerimos o uso do material de acordo com suas vantagens. A maioria ainda tem pouca informação sobre o material ou preconceitos que procuramos desfazer.
“O desenvolvimento tecnológico nas vedações externas, principalmente do vidro e dos sistemas de fixação, possibilita aos arquitetos usar a criatividade para elaborar projetos mais impactantes, surpreendentes e inusitados”
Quais os principais entraves para que os vidros de valor agregado sejam mais usados em obras residenciais e comerciais?
O principal impedimento é a falta de maior conhecimento sobre o material e as tecnologias a ele agregadas, além da falta de cultura em projetar considerando o vidro. Ainda há arquitetos que limitam o uso do vidro nos projetos residenciais, ao contrário do que acontece nos comerciais, onde o vidro é cada vez mais usado, especialmente nas fachadas.
Quais as aplicações do vidro com maior potencial em projetos residenciais?
Vejo uma tendência à utilização do vidro no envoltório, guarda-corpos, claraboias, muros e piscinas. Hoje é bastante comum o uso de sistemas de envidraçamento especiais, com ferragens em inox, cabos de aço e vidros de grandes dimensões.
Quais soluções protagonizadas pelo vidro destacaria em projetos de sua autoria?
A utilização do vidro tem sido uma constante nos meus projetos para dar maior transparência, amplitude e fluidez aos espaços, bem como pela resistência a agentes agressores. Tenho usado o material aplicado em grandes esquadrias, tipo teto-piso, em fachadas com revestimento em pele de vidro de alto desempenho, para promover maior eficiência energética e facilitar a manutenção, além de imprimir modernidade e sofisticação à edificação. Também tenho usado painéis contínuos em vidro transparente para integrar os espaços internos e externos; e, nos guarda-corpos, vidros temperados laminados, que combinam segurança e design, valorizando a transparência e ressaltando a beleza e o conforto.
Quanto às obras de alta complexidade, como recrutar os profissionais e empresas envolvidas na aplicação do vidro?
Em geral a aplicação do vidro é de responsabilidade da construtora, que por sua vez usa uma consultoria especializada e uma instaladora com capacidade comprovada. Cabe ao escritório de arquitetura acompanhar e exigir o cumprimento do que foi especificado.
Como avalia o potencial dos vidros de proteção solar no Brasil, especialmente em regiões mais quentes como o Nordeste?
O potencial é enorme, sobretudo no Norte e Nordeste, onde a incidência de raios solares é prolongada e ocorre praticamente em todas as estações do ano. A redução de custos com climatização é significativa, assim como com os gastos relativos à troca de mobiliário e outros materiais, que se deterioram mais rapidamente devido à incidência de raios UV. Com a maior divulgação dos benefícios e características dos vidros de controle solar, acredito que serão cada vez mais usados por arquitetos e clientes.