A possibilidade de produzir múltiplos jogos de cores, luzes, reflexos e transparência é um dos mais fascinantes atributos estéticos oferecidos pelo vidro. Na arquitetura universal isso já foi descoberto faz tempo, e o resultado traduz-se em projetos arrojados, que combinam características do vidro para causar impacto e chamar atenção. No mundo das artes não é diferente. Menina dos olhos de designers e escultores adeptos das mais variadas tendências e linguagens, o material ganha espaço também em ousadas instalações artísticas, firmando-se como base para a criação de incomparáveis efeitos visuais. É o caso das mais recentes obras assinadas pelo artista Phillip K Smith, do estúdio californiano Royale Projects, que há alguns anos tem-se dedicado a desvendar até onde as “brincadeiras estéticas” com o vidro podem chegar.
Especializado na criação de instalações artísticas de grande porte, Smith tornou-se particularmente famoso depois de produzir a obra Lucid Stead, monumento em pleno deserto da Califórnia. Exposta entre os meses de outubro de 2013 e janeiro de 2014, a obra instalou faixas de espelhos em uma antiga construção de madeira para criar a ilusão de que era possível enxergar através das paredes. “A proposta foi prestar uma homenagem à luz e a todas as suas nuances, variações de cores e possibilidades de reflexão”, comenta o artista. A instalação, projetada para receber um punhado de pessoas em um fim de semana, acabou atraindo gente de todas as partes dos Estados Unidos e do Canadá e, em cerca de 30 dias, já era considerada um fenômeno.
Com uma fachada que combinava painéis transversais de madeira e vidro, a pequena casa contava também com janelas espelhadas que à noite se transformavam em quadrados iluminados com luzes coloridas de LED. Cravada no coração da paisagem desértica de Joshua Tree, no Sul da Califórnia, a escultura propunha um jogo de contraposição entre reflexo e paisagem, luz natural e artificial.
Ao estabelecer uma experiência de imersão plena com o meio em que foi instalada, a obra sugeria uma experiência quase espiritual, de delírio e miragem. “Mais do que ser vista ou contemplada, a instalação teve como objetivo principal ser experimentada pelo espectador, acionando outros sentidos além do visual e convidando-o a misturar-se com ela”, comenta. “Ela permitia uma transformação sensorial ao longo do dia, à medida que o sol se põe e a noite cai, momento em que as luzes eram acionadas, compondo campos geométricos de cor por meio do vidro espelhado e produzindo efeitos, de luz refletida e luz projetada, transparência e opacidade”, descreve o artista.
O sucesso incentivou Smith a uma nova empreitada, diferente na proposta formal, mas similar nos efeitos produzidos e materiais empregados. Poucos meses depois, o artista foi convidado a produzir uma monumental instalação, dessa vez para o famoso festival de música e arte Coachella 2014, realizado em abril em Índio, na Califórnia, e que recebeu mais de 200 mil pessoas, incluindo celebridades como Leonardo di Caprio.
Exposta ao longo de duas semanas, a instalação era composta por cinco volumes envidraçados autônomos, que formavam cubos espelhados e produziam diferentes escalas de luz e reflexão, medindo 5,5 m de altura por 5 m de largura. “A proposta de fundir a obra com a paisagem se repetiu, misturando cores e brincando com os reflexos”, diz o artista. Durante o dia, os volumes espelhados monolíticos convertiam-se em prismas da terra e do céu, envolvidos pelo cenário ao redor. “À noite, tornavam-se extensos campos de cores em camadas sobrepostas, que se misturavam por meio de ecos refletivos.”
Por definição, a instalação artística é um expressão que busca explorar materiais capazes de transformar um determinado espaço ou ambiente e criar uma experiência sensorial. Nas obras de Smith, o vidro exerce a função de forma magistral, atuando para criar uma forte integração com o meio e estabelecendo com ele uma relação indissociável, ao ressaltar suas características e provocar radicais transformações visuais na paisagem. “É como se o vidro atuasse para dissolver as linhas que separam a arte e a natureza”, observa o artista californiano. “Por meio do vidro, as obras estimulam as pessoas a parar e se sentir inseridas naquele meio ambiente, envolvidas por ele, misturadas com ele. A instalação provoca uma verdadeira imersão do espectador na obra e simultaneamente em seu entorno.”