Como começou sua trajetória no mercado vidreiro e quando decidiu montar sua vidraçaria?
Comecei a atuar no setor vidreiro na década de 70 na Vidraria Santa Marina, da Saint Gobain Glass, na capital paulista, onde trabalhei por cerca de 10 anos. Tinha curso técnico de desenho mecânico e entrei como desenhista de instalações. Um tempo depois fui promovido à projetista, promotor técnico e depois a gerente. Conheci lá o mercado do vidro de onde saí para montar minha vidraçaria, mas em Carapicuíba (SP).
Por que resolveu fechar seu negócio e atuar apenas como consultor?
Foram 33 anos e, há dois anos resolvi parar em virtude da exigência e desgaste que uma vidraçaria traz pro seu gestor. Fiquei receoso de passar para alguém que pudesse destruir tudo que construí em todos estes anos, deixando uma visão ruim, pois eu sempre cumpri com minhas obrigações, nunca tive uma reclamação trabalhista, e meus clientes sempre ficaram satisfeitos, por isso optei por perder o bom de valor de mercado que minha marca tinha. Hoje presto consultoria em gestão empresarial e técnica de projetos, mas escolhi ter um ritmo de trabalho menos intenso. A atuação na vidraçaria para mim era muito desgastante.
Fale sobre sua participação nas definições das normas técnicas do setor.
As primeiras normas que acompanhei foram a atual NBR 7199 e a antiga TB88, em uma época em que se começava a falar de normas. Eu participei das primeiras normas e hoje estou participando da Comissão da Norma de Qualificação da Profissão de Vidraceiro. Entendemos que para atuar o vidraceiro precisa ter algumas competências, assim como se exige de outros profissionais, que, se não possuírem tais habilidades, não podem atuar.
Como vê a movimentação do mercado em relação às normas técnicas, com revisões e desenvolvimento de novas regras?
É muito positivo e tem acontecido em uma velocidade muito grande. Há 40 anos não tínhamos nem um décimo do que temos hoje.
O vidraceiro é mal qualificado? Qual a importância da norma técnica neste processo?
Até hoje o vidraceiro aprendeu por observação. É primeiro aspirante à vidraceiro, trabalhando como assistente. Isso é bom, sempre foi assim, mas nem todos aprendem da forma certa nem buscam ampliar os conhecimentos. O mercado está em movimento e sempre vão surgindo novos tipos de instalação. O vidraceiro precisa se atualizar como qualquer outro profissional. Eu sempre gostei de desafios, de obras diferenciadas, me preocupava com a segurança e em seguir as normas. Como eu fui projetista de máquinas e equipamentos sempre busquei informação, fui um pensador dentro do meu negócio.
A Norma de Qualificação do Vidraceiro será positiva para os profissionais ou irá dificultar a atuação de alguns vidraceiros?
Pelo contrário, irá valorizar a profissão e colocar o setor em um patamar mais elevado. O vidraceiro vai vender mais porque cria-se uma confiança maior no produto. O consumidor final será o primeiro beneficiado. O fabricante vai ver que seu produto sendo aplicado da maneira correta, eles estão adorando. O vidraceiro vai se beneficiar e ganhar dinheiro, vai beneficiar todos os elos da cadeia. Só não vai gostar da norma os vidraceiros ruins, a norma será boa para os bons vidraceiros e aos que vão buscar qualificação para se enquadrar. Já os péssimos profissionais, que agem de má fé, terão muita dificuldade e esperamos que sejam excluídos do mercado.
“O mercado está em movimento e sempre vão surgindo novos tipos de instalação. O vidraceiro precisa se atualizar como qualquer outro profissional. É preciso estudar sempre, escalonar seu desenvolvimento e estar aberto a aprender para acompanhar a evolução do mercado”
Também irá evitar acidentes com vidro e profissionais que praticam a concorrência desleal?
Sempre me senti obrigado a expor ao cliente os riscos, alguns vidraceiros só querem mostrar a parte boa e não mostram se há riscos e quais são, talvez com receio de perder o cliente. Assim eu cativava o cliente, ganhava sua confiança e me indicavam outros. Tem diferentes tipos de cliente, o que sabe o que quer, o que precisa de informação e o que quer pagar barato, se você se deixa contaminar pela filosofia do mais barato, faz você cada vez cobrar menos até quebrar. O mais barato é perigoso. Inclusive o box de acrílico, que é mais barato que o de vidro, é mais perigoso porque em caso de acidente a pessoa pode fica presa e pode ter ferimento graves ou fatais. Quando você vende algo bom é comentado, criando um boca a boca positivo. Sempre conheci muito bem meus custos e se for para entrar em uma zona de risco não aceitava baixar mais o preço, melhor perder o trabalho, com o tempo se recupera o cliente.
O conhecimento em gestão também é importante para quem tem uma vidraçaria?
Existem dois tipos de vidraceiro, o profissional empresário e o instalador. Eu fui o vidraceiro empresário, por isso, busquei cursos de qualificação. Fiz faculdade de administração e, mesmo tendo conhecimento em gestão, me deparei com outras dificuldades, como na parte contábil. Foi por isso que decidi fazer o curso de contabilidade no Senac e me tornei também contador. Cursei ainda gestão para pequenas empresas na FGV (Fundação Getúlio Vargas) e sempre assisti muita conferência. Este tipo de coisa vai agregando.
Que conselhos daria para quem está empreendendo no segmento de vidraçarias?
É preciso estudar e aprender sempre, ter objetivos e metas claras, saber o que você quer, estabelecer o quê quer, quanto quer, planejar como você poderá atingir seus objetivos considerando diferentes cenários, estabelecer no planejamento prazos claros, encontrar uma razão forte para se motivar a cumprir suas metas estabelecidas, escalonar seu desenvolvimento e estar aberto a aprender sempre para acompanhar a evolução do mercado. A informação hoje é muito mais veloz. Hoje temos muito curso disponível, claro que também tem maus professores, assim como há vidraceiros ruins, não devemos nos deixar enganar.