O vilarejo costeiro de Mar Azul, na Argentina, está cravado no meio de uma densa floresta de pinheiros e por isso mesmo permanece ileso à agitação que costuma contaminar regiões litorâneas próximas às grandes metrópoles. Localizado 400 km ao sul da capital portenha, o pequeno e preservado balneário, de vegetação, clima e topografia peculiares, revelou-se o cenário perfeito para a construção da Casa Franz, um simples porém magnífico exemplo de obra residencial, projetada pelo escritório Bak Arquitectos.
Os clientes queriam uma casa de veraneio que provocasse o mínimo possível de intervenção na paisagem local e que, pela localização isolada, garantisse facilidade de manutenção. A verba era restrita e o prazo apertado. “Por suas características de resistência, impermeabilidade, cor e textura, o concreto armado surgiu como primeira resposta ao que procurávamos”, lembra o arquiteto Luciano Kruk, que assina o projeto ao lado da sócia María Victoria Besonías, em parceria com o arquiteto Leandro Pomies.
Embora elemento fundamental na conceituação da obra, cujo objetivo central passou a ser preservar a natureza selvagem da região, o concreto não exerceu papel menos importante do que o de dois outros materiais: vidro e madeira. Juntos, eles constituíram a estratégica trinca que resume a essência do projeto. “O uso de finas paredes verticais na fachada envidraçada tem a função de acentuar a presença das árvores, que por sua vez se refletem no vidro, além de minimizarem e se contraporem à horizontalidade da base estrutural formada pelo deck de madeira”, descreve Kruk.
Olhar apurado
Com especial sensibilidade, os arquitetos passaram longos períodos observando e ouvindo o local e sua paisagem, para captar sua essência, e então, livres de preconceitos, propor caminhos de absolutamente mínima intervenção. “Os fortes ventos marítimos, a sombra constante das árvores que amenizam o calor intenso nos dias de verão e, por outro lado, intensificam o clima úmido no inverno. Todas as características naturais foram usadas a favor do projeto”, destaca o arquiteto. “Propusemos soluções que de fato garantissem a integridade do entorno, que promovessem uma real fusão entre arquitetura e paisagem.”
O plano da casa, que ocupa um terreno de 337 m² e cerca de 85 m² de área útil, é reforçado por concreto armado, e o volume simples que abriga as dependências principais foi dissolvido ao se constituir como duas zonas distintas. A primeira, exposta, completamente envidraçada e cercada por grandes árvores e um extenso deck de madeira, foi projetada para ser uma área de convivência, em plena integração com a floresta. A segunda, fechada e parcialmente subterrânea, para comportar banheiros e cozinha. Sem uma entrada principal, a residência pode ter todos os seus cômodos acessados diretamente, uma vez que figuram lado a lado, unidos pelo deck.
Os grandes panos de vidro são fundamentais para garantir ampla entrada de luminosidade, especialmente pelo fato de que, sob a sombra das árvores, a quantidade de luz é restrita mesmo em dias de sol pleno de verão. “Reconhecer o microclima especial da região foi determinante para fazermos as escolhas certas dos sistemas estéticos e construtivos da casa”, comenta Kruk. “A falta de luz nos fez considerar o projeto como ‘semi-coberto’, e nos inspirou a adotar grandes aberturas de vidro. Do lado de dentro, elas provêm belíssimas vistas para o mar e para a paisagem e, do lado de fora, refletem a natureza, permitindo ao projeto graciosamente se misturar com ela.”
Tanto os vidros quanto as esquadrias de alumínio anodizado bronze escuro das aberturas foram fornecidos pela Aberturas Vidal, empresa especializada em esquadrias de alumínio com 30 anos de mercado, sediada em Mar Del Plata. “O vidro já chegou ao local pré-instalado nas esquadrias”, informa Kruk. O projeto utilizou, ao todo, mais de 100 m² de vidro float.