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Arquitetura e Vidro

Toques de gênio

Imbatível na arte de modelar o concreto, Niemeyer usou o vidro com a mesma maestria

16/09/1954

CENTRO CULTURAL INTERNACIONAL NIEMEYER Finalizado em 2011, o Centro Cultural Internacional Oscar Niemeyer, na cidade de Avilés, nas Astúrias, é a única obra do arquiteto brasileiro na Espanha e se define como um espaço aberto a todas as artes, com u

No pódio dos maiores ícones da arquitetura moderna, Oscar Niemeyer é referência incontestável na formação de arquitetos e designers de todas as partes do globo. O genial mestre, falecido em dezembro passado, aos 104 anos, deixou um legado que dificilmente será superado por outro profissional do mesmo ofício. 
Com traços ousados, o filho do modernismo criou o Itamaraty, o Alvorada, o Congresso, a Catedral, a Praça dos Três Poderes, entre outros prédios e monumentos. Defensor ferrenho do uso do monumental na arquitetura e precursor na arte de “modelar” o concreto, Niemeyer soube, desde muito cedo e com não menos maestria, como usar o vidro em favor de suas geniais ideias arquitônicas, que sempre priorizaram as “curvas livres e sensuais”. “Não é o ângulo reto que me atrai. Nem a linha reta, dura, inflexível criada pelo homem. O que me atrai é a curva que encontro nas montanhas do meu país. No curso sinuoso dos sentidos, nas nuvens do céu. No corpo da mulher preferida. De curvas é feito todo o universo”, disse o mestre ao resumir a essência de sua obra.

 

Segundo apontam pesquisas acadêmicas, as paredes de vidro e estruturas independentes foram incorporadas à obra de Niemeyer a partir da influência de outro ícone da arquitetura moderna: Le Corbusier. “O vidro na linguagem de Niemeyer não é apenas um elemento de fechamento das aberturas necessárias, mas acima de tudo uma superfície que potencializa a forma e gera volume”, diz a arquiteta Rosirene Mayer, autora de uma pesquisa sobre o uso do vidro na obra do mestre.
Inspirada no visionário olhar que marcou a obra desse gênio de nossa era, Vidro Impresso presta sua homenagem a Oscar Niemeyer, selecionando alguns de seus projetos em que, sem abrir mão das curvas de concreto, ele recorre ao vidro para potencializar aspectos como leveza, unidade, plasticidade, contraste entre claro e escuro, visibilidade e controle de proporção e, assim, abrilhantar ainda mais as formas sinuosas que explorou de forma magistral.

 

MUSEU OSCAR NIEMEYER

MUSEU OSCAR NIEMEYER | 2002
Um principais cartões postais de Curitiba, o complexo cultural tem como destaque o “grande olho” que parece levitar sobre o conjunto. Aqui Niemeyer explora a superfície semiopaca que resulta do vidro escuro para preservar a integridade plástica do volume e a privacidade do interior e obter maior abstração de superfícies e volumes, na medida em que se escondem os perfis que remetem a idéia de esquadria. À noite, na ausência da luz natural e predominância da iluminação interior, a transparência do vidro privilegia a silhueta dos volumes e o interior é revelado sob a luz. 

 

PROCURADORIA GERAL DA REPÚBLICA | 2002
Inaugurada em 2002, a obra estava prevista desde a fundação de Brasília. Nela Niemeyer recorre à reflexão para garantir efeito de unidade entre arquitetura e paisagem, e entram em cena os vidros refletivos, que resultam num efeito de continuidade unilateral. 

 

PALÁCIO DO PLANALTO | 1960
Estabelecido na Praça dos Três Poderes, em Brasília, o Palácio do Planalto é parte do Plano Piloto de Brasília e foi um dos primeiros edifícios construídos na capital. Inaugurado em 1960, passou por uma ampla reforma em março de 2009, na qual a principal missão foi preservar os traços arquitetônicos de Oscar Niemeyer. Para isso, a equipe de engenheiros e arquitetos da Blindaço criou uma logística especial para a fabricação e o transporte de grandes placas de vidro blindado, nas mesmas dimensões das originais empregadas no local.

 

CASA DAS CANOAS | 1951
“Criei uma zona sombreada, para que a parte envidraçada evitasse cortinas e a casa ficasse transparente”, disse Niemeyer ao descrever a opção pelo vidro na Casa das Canoas, no Rio de Janeiro, em que as áreas de convivência são expostas e simultaneamente protegidas pelo material. As dependências privativas são preservadas pelo desnível do terreno, sem interferir na integração com o exterior, promovida pela transparência e pela cobertura curvilínea. 

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