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Arte em Vidro

Tentáculos de vidro

Artista americana se inspira no vento, na água e nos seres marinhos para explorar cores intensas e formas fluidas e orgânicas

13/11/2013

Andaman, de 2010

Em uma universidade próxima de onde morava, a artista plástica americana Shayna Leib viu pela primeira vez, aos sete anos de idade, o processo de produção de arte em vidro soprado. “Nunca mais fui a mesma desde aquele dia”,  lembra Shayna. A paixão pelo vidro a acompanhou ao longo dos anos e, após ser aprovada em um curso de pós-doutorado na área de filosofia, Shayna  renunciou à oportunidade para seguir sua vocação. Matriculou-se em um curso de pós-graduação em Belas Artes da Unversidade de Wisconsin-Madison  e iniciou seu trabalho de pesquisa e exploração de objetos e esculturas de vidros, buscando sempre brincar com bastões de vidro como um modo não convenional de retratar movimento. “Devo admitir que o vidro me fascinou muito antes de eu pensar em desenvolver qualquer trabalho artístico. É um material-camaleão.”

 

Hoje especialista na técnica de vidro soprado, Shayna reconhece que aprender a manipular corretamente o material lhe custou alguns anos, além de inúmeras queimaduras na pele e alguns fios de cabelo a menos. “Escolhi o vidro como matéria-prima não só por sua versatilidade, ao assumir a aparência de outros materiais, como pedra ou plástico, mas sobretudo por suas características únicas, como a possibilidade de reproduzir a fluidez natural dos objetos, sua capacidade de congelar um instante no tempo e sua habilidade de manipular a óptica”, conta a artesã. A ondulação do vidro exposto ao calor é extremamente semelhante à ondulação do mar. É poético que fogo e água, mesmo sendo opostos, possam causar o mesmo efeito. Através do fogo, o vidro expressa facilmente o movimento e a fluidez da água.”

 

Com base nesses conceitos únicos da arte em vidro, e em sua profunda compreensão do material, Shayna terminou por desenvolver uma técnica que lhe permitiu criar a série “Wind and Water” (“Vento e Água”), composta por esculturas com efeitos visuais inéditos. Tendo as formas de vida aquática como maior fonte de inspiração, ela desenvolveu objetos de arte únicos, evocativos, riquíssimos em cores, movimentos orgânicos e subjetividade. “Dois dos mais poderosos elementos da natureza são praticamente imperceptíveis ao olho humano, embora a consciência de sua presença seja inerente a nós, assim como sua capacidade de acalmar e destruir e sua habilidade de tecer novos padrões em superfícies e objetos em que tocam”, afirma Shayna, ao expor a razão dos temas escolhidos. “Tanto o vento como a água não têm cor intrínseca, são claros ao ponto da invisibilidade e, ainda assim, movem-se através dos espaços de forma perceptível e única. O que vemos não são suas formas, mas os padrões e efeitos que eles imprimem aos objetos com que interagem”.

 

 

Fundo do mar

 

Cada escultura da série “Wind and Water” começa a partir da geração de cilindros de vidro, técnica originalmente empregada pelos venezianos. Os cilindros são criados a partir da disposição de camadas de corante sobre o vidro fundido, depositado em tubos e em seguida esticado para a formação de longas hastes, até que se atinja um diâmetro de 3 a 20 mm. “Na maior parte dos cilindros que criei, usei um corante transparente sobre um opaco, para garantir maior profundidade e saturação”, revela a artista.  “Para criar as curvas e padrões ondulados, os cilindros, ainda retos, são dispostos em moldes e levados ao forno, a temperaturas  em torno de 1200o” . De 2005 para cá, Shanya já produziu mais de 120 peças para a série “Wind and Water”. No total, o número de cilindros de vidro usados em seus trabalhos chegam à casa dos milhões.

 

Tentáculos de Vidro

 

Segundo a própria artista avalia, o único diferencial de seu trabalho reside em uma nova maneira de empregar as já tradicionais técnicas e ferramentas usadas no processo do vidro soprado. Historicamente, a criação de cilindros de vidro sempre foi um meio para um fim, e nunca um fim em si. O mesmo vale para os trabalhos soprados. Em meu processo criativo, não penso em vasos e tigelas como produto final. Começo neste caminho, mas acabo cortando partes desses vasos e as usando como corais, ou usando um longo cilindro e curvando os pedaços para criar anêmonas ou lâminas de vidro”, descreve Shayna. “É apenas uma maneira diferente de se apropriar do tradicional.”

 

Apesar de usar e abusar das cores em seus projetos, Shanya elege como seu trabalho favorito a peça Malvinas, quase incolor, não fosse por alguns toques de vermelho nas extremidades dos cilindros. Outros destaques da série são a Laminaria e a Cirrhipathes Anguina, ambas interpretações de espécies marinhas que exploram a proposta da série em formas mais tridimensionais. A inspiração costuma vir, entre outras fontes, de atentas observações do fundo do mar. “Sou uma mergulhadora ativa e adoro ver as coisas de perto. A Laminaria foi criada quando eu havia voltado de um mergulho nas florestas aquáticas das Ilhas Canal da Califórnia. Fiquei fascinada pelo movimento fluido e lânguido de algas com mais de 30 metros, entrecortadas pela luz do sol.”

 

O trabalho de Shayna demanda o uso de uma grande variedade de corantes, que correspondem à maior parte dos custos de produção. Uso corantes para vidro Gaffer e pepitas de vidro Spectrum 96 na criação das minhas peças”, revela a artista. “Acredito ter usado até hoje milhares de quilos de corantes concentrados. Infelizmente a maioria das cores tem como base o ouro, metal cada vez mais caro no mercado. Eu tendo a preferir corantes amarelos, Laranjas, vermelhos e roxos, justamente os que apresentam maior custo de produção.”

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