Seção

Arquitetura e Vidro

Mesclado com a paisagem

Projeto na Austrália usa conceitos, tecnologia e materiais que o incorporam de forma harmoniosa ao ambiente

07/05/1958

Placas de vidro que integram a natureza ao ambiente

Delineado por formas orgânicas e inspirado pelas forças da natureza, o projeto é descrito por seus autores como uma ode à selvagem paisagem australiana. O principal objetivo a guiá-los, dizem eles, foi encontrar uma forma perfeita de permitir que seus usuários se sentissem ao mesmo tempo do lado de dentro e de fora, imersos na natureza. Assim nasceu a Leaf House, uma construção aparentemente simples a um primeiro olhar, mas capaz de revelar muitas nuances conceituais e complexidades construtivas e estruturais quando observada de forma mais atenta. “Em cada detalhe, a casa revela o desejo de se estabelecer como uma arquitetura integrada com seu meio, e isso se expressa através de seus elementos estruturais, que criam conexões diretas entre os ambientes externos e internos”, descrevem os responsáveis pelo projeto, do escritório londrino Undercurrent Architects.

 

 

Comprometidos com um processo de contínua ruptura com as barreiras da arquitetura convencional, os autores da Leaf House a conceberam como uma espécie de pavilhão erguido sobre um bloco de pedra, integralmente fechado com vidros curvos em suas laterais e recoberto por telhas onduladas de cobre. Trata-se de uma espécie de cabana separada da casa principal, um espaço reservado e isolado, pertencente a uma residência costeira em Sydney, construída especialmente para, nas palavras de seus autores, “degustar a natureza”. “A construção ergue-se em plena harmonia com as características naturais de sua bela localização, mudando constantemente seus formatos e contornos em relação ao entorno e desenvolvendo uma presença única sob múltiplos aspectos”, afirma o arquiteto Didier Ryan, membro da equipe à frente do projeto. 

 

Conceitos como “integração”, “reaproveitamento”, “estrutura orgânica”, “diálogo com a natureza”, “múltiplas perspectivas” e “construção artesanal” nortearam a equipe do Undercurrent na concepção da Leaf House. “Não somente do ponto de vista estético, mas também em seus recursos e materiais a Leaf House incorpora princípios ambientais diversos, incluindo um sistema sustentável de aquecimento e arrefecimento, iluminação de baixo consumo, técnicas de captação de água da chuva e reaproveitamento de materiais coletados no próprio local”, continua Ryan. “Ele combina e sintetiza aplicações de materiais de alta e baixa tecnologia, para resultar em uma edifícação harmoniosa, envolvente e plenamente integrada ao meio ambiente.”

Superfícies curvas e  envidraçadas  acompanham as formas orgânicas de todos os elementos estruturais 

 

 

Os materiais foram selecionados de modo a se misturarem com a paisagem, exercendo a função de camuflar a construção e incorporar as características do cenário ao redor. “O telhado simula a copa das árvores, e suas formas foram inspiradas pelas características das folhas, trazendo luz difusa para o interior. Além disso, vista de cima a cobertura faz referência aos padrões do fundo do oceano”, afirma Ryan. “Por sua vez, o chão de pedra foi construído como uma continuação do terreno ao redor, assumindo o mesmo formato.”

 

 

 

Para as estruturas de suporte a escolha do material recaiu sobre canos de aço que, retorcidos por um processo semi-artesanal, assumem formas sinuosas, fazendo alusão aos troncos e galhos das árvores. “Aqui também optamos por manter o padrão irregular e orgânico que molda toda a construção”, diz Ryan. “Essa característica maleável do aço favoreceu o conceito de trazer o meio externo para dentro, enfatizando o objetivo central do projeto de ser um ambiente interno e um jardim ao mesmo tempo.” 

 

 

Assim como todos os seus outros elementos estruturais, as paredes envidraçadas que encerram a Leaf House foram projetadas de modo a seguir a linguagem das formas orgânicas e fluidas. Por isso os arquitetos fizeram questão de instalar chapas de vidro curvadas por um sistema especial, em que puderam assumir formas diversas e despadronizadas. “A fluidez característica do aço é ecoada pelo fechamento envidraçado” , comenta o arquiteto. 

 

 

 

Minuciosamente moldado, o vidro assume padrões irregulares, formando uma parede ondulada que reflete a paisagem de maneira muito peculiar. “É como se ele amaciasse as imagens e reflexos, especialmente quando iluminado à noite, conferindo qualidades etéreas ao espaço interno e fundindo-se com o ambiente externo”, descreve Ryan. Todas as chapas, conta o arquiteto, foram feitas a partir de um único molde curvado em ambas as extremidades, tendo sido invertidas e rotacionadas em algumas seções, para se obterem aparentes variações de um formato que se repete.  

 

 

 

Inspirada pelas características das folhas, a cobertura simula a copa das árvores

 

Quando questionado sobre as inovações tecnológicas incorporadas pelo projeto, Ryan deixa claro não ser este o foco da Leaf House. “As inovações são subprodutos do objetivo principal, que é o de se misturar com a natureza, deixar-se inspirar pelos seus mecanismos e empregar métodos mais artesanais e customizados”, afirma o arquiteto.

 

 

 

“No que diz respeito à utilização do vidro, o resultado mais expressivo é a vista de 360o que ele proporciona ao revestir lateralmente toda a construção”, avalia Ryan. “Mas não menos importante passou a ser o efeito propiciado pela curvatura das chapas. Ao usarmos vidros ondulados no lugar de janelas planas, conseguimos acompanhar a fluidez que permeia o projeto e que é a característica mais marcante das formas naturais circundantes. Além disso, evita os reflexos indesejados do vidro plano à noite, produzidos pela luz artificial.” 

 

 

 

As chapas de vidro da complexa parede se deformam e contorcem, criando reflexos e curvando-se para se adequar aos contornos do terreno e aos espaços internos da sala. “A parede cria uma espécie de véu suave e sinuoso em torno do espaço, apagando as separações entre os lados interno e externo e contribuindo de forma determinante com o objetivo central do projeto”, diz Ryan. Os cerca de 120 metros quadrados de vidros curvos utilizados no projeto foram processados na China, fornecidos pela Shenzhen Shennanyi Glass.

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