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Paulo Drummond

24/07/2016

Paulo Drummond, presidênte da Companhia Brasileira de Vidros Planos

As bases já foram fundadas e as estratégias claramente traçadas. Dentro de dois anos, o mercado brasileiro contará com um acréscimo de 900 toneladas em sua produção nacional diária de vidros planos, fabricadas pela pernambucana Companhia Brasileira de Vidros Planos, ou CBVP. Com uma experiência de mais de 30 anos no segmento vidreiro, o executivo Paulo Drummond é o nome responsável por presidir a Companhia, cuja fábrica já começou a ser erguida em um terreno de 90 mil m2 na cidade de Goiana, a 65 km de Recife.
Formado em administração de empresas pela Universidade Federal de Pernambuco e em relações públicas pela Escola Superior de Relações Públicas, Drummond integra desde 1979 o Grupo Cornélio Brennand, ao qual pertence a CBVP, onde atuou como diretor comercial e, em seguida, como presidente da Companhia Industrial de Vidros (CIV). Já foi membro da diretoria da ABIVIDRO – Associação Técnica Brasileira das Indústrias Automáticas de Vidro – e hoje encara os desafios de comandar aquela que virá a ser a primeira fábrica de vidros planos do Nordeste e a primeira do Brasil com capital 100% nacional. Em entrevista a Vidro Impresso, o executivo avalia o novo cenário que se desenha para o setor e revela os diferenciais que deverão marcar as ações da CBVP para abocanhar uma boa fatia desse mercado. 

 

Qual a importância de ser a primeira fábrica de vidros planos com capital 100% nacional? 

 

Paulo Drummond - O fato de termos capital nacional faz com que as nossas decisões de investimento e as estratégias de mercado sejam prioritariamente tomadas com foco no Brasil. Outro ponto de fundamental importância é ter sob controle de capital brasileiro a tecnologia que antes era dominada apenas por multinacionais. Além disso, é fato que os clientes são, em maioria esmagadora, brasileiros e isso facilita a interlocução com o trade.

 

A CBVP iniciará suas operações com uma base de clientes já conquistados ou terá de disputar o mercado a partir da estaca zero? 

 

Não começaremos da estaca zero. A CBVP iniciou sua operação comercial em agosto de 2011, a partir de alianças estratégicas com parceiros internacionais que nos permitem a importação e distribuição do produto e o início das vendas. Já temos centros de distribuição instalados e em funcionamento em áreas estratégicas.

 

Qual será o papel da Companhia Brasileira de Vidros Automotivos (CBVA)?

 

A CBVP produzirá vidros planos, laminados e espelhos para atender os setores da construção civil, moveleiro e automotivo. No caso da indústria automotiva, a CBVP fornecerá para a CBVA os vidros planos que serão transformados em vidros automotivos. A CBVA será cliente da CBVP.

 

As fábricas de vidros planos em operação no Brasil estão concentradas na região Sudeste. Como avalia o cenário atual do mercado vidreiro no Nordeste? Há uma limitação logística? 

 

O Nordeste tem crescido a índices acima da média nacional. Hoje não há uma limitação e sim uma complicação logística, em virtude das grandes distâncias. A CBVP contribuirá positivamente para sanar essa complicação, pois sua posição estratégica permite que estejamos muito mais próximos desse mercado. 

 

Como avalia o impacto que a nova fábrica terá sobre a atual dinâmica do setor vidreiro no Brasil?

 

Sempre tivemos uma forma diferenciada de tratar o mercado e, nesse sentido, temos convicção de que agregando nossas estratégias de marketing e comerciais estaremos contribuindo positivamente para o desenvolvimento dessa cadeia.


 
O que determinou a decisão de incluir uma usina de beneficiamento no escopo inicial de investimentos? 

 

Consideramos que, para a produção de vidros planos, o beneficiamento da areia, por exemplo, é um ponto crítico para a definição da qualidade final do produto e, por isso, queremos ter controle total do processo. Essa situação se repete quando falamos do calcário, do feldspato e da dolomita. Daí a importância de nossa usina de beneficiamento, além de podermos utilizar matérias-primas das diversas fontes de que somos detentores. 

 

A CBVP anunciou recentemente a intenção de investir em uma segunda unidade fabril, na região Sudeste. O que motivou essa decisão e qual deverá ser o foco de atuação dessa segunda planta? 

 

A construção da segunda unidade já fazia parte do nosso plano estratégico desde o início. Neste momento estamos analisando as alternativas de localização que nos foram propostas.

 

Qual a capacidade e como funciona a operação dos dois centros de distribuição da CBVP já em atividade?

 

Nossos centros de distribuição estarão localizados estrategicamente, facilitando a distribuição dos nossos produtos para todo o mercado nacional. Hoje temos um CD em Pernambuco, no município do Cabo de Santo Agostinho, com uma área de 10 mil metros quadrados e capacidade de armazenamento de 11 mil toneladas. O segundo CD fica localizado em São Paulo e tem capacidade de armazenagem de 12 mil toneladas de vidros planos. 

 

Em que consiste a tecnologia L.E.M., anunciada como o principal diferencial tecnológico da futura fábrica da CBVP? 

 

A L.E.M.™ (Low Energy Melter™) é uma tecnologia inédita no Brasil, que permitirá uma maior eficiência energética e a redução da emissão de gases de efeito estufa em comparação com a média mundial das indústrias de vidros planos. Outra prática importante que adotaremos será a captação de água das chuvas para utilização no processo e o reuso contínuo da água da fábrica, reduzindo significativamente o descarte de efluentes. Também está garantido por contrato que toda a energia elétrica utilizada na fábrica da CBVP será proveniente exclusivamente de fontes renováveis, como as oriundas de PCH´s e usinas de açúcar e álcool. 

 

A que atribui a opção do Grupo Cornélio Brennand de investir no setor de vidros planos? 

 

O Grupo Cornélio Brennand, historicamente, tem grande experiência no setor industrial e forte relação com a indústria de vidro. Desde 1958 o grupo atuou na produção de embalagens de vidro e tem proximidade com o mercado. Por meio de estudos de mercado identificamos que esta é uma excelente oportunidade de investimento. 

 

Quais acredita serem os principais entraves que o País apresenta para o pleno desenvolvimento do setor? 

 

No Brasil ainda falta regulamentação para uso do material, esclarecimento sobre as inúmeras possibilidades de utilização do vidro e qualificação dos profissionais para que possam aproveitar as suas infinitas opções de aplicação.

 

Na sua opinião, quais medidas devem ser adotadas pelo Governo para proteger o segmento do dumping que assombra a indústria vidreira no País? 

 

Não se trata de proteção, mas sim de defesa contra a concorrência desleal e predatória. Estou certo que devam ser implementadas medidas legais que mantenham a competitividade com o produto externo, impedindo a concorrência desleal e ilegal.

 

Acredita que o País esteja passando por um processo de desindustrialização?

 

Sim. A indústria perdeu importância relativa por perda de competitividade e pelo crescimento de outros setores, a exemplo do de serviços. Mas já percebemos o despertar das autoridades no sentido de propiciar meios para que haja uma retomada da indústria e recuperação de sua posição, que chegou aos 25% do PIB e hoje está no patamar dos 16%. 

 

 

 

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