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Arquitetura e Vidro

Eficiência comunitária

Múltiplas funções do vidro conferem ambiente saudável, produtivo e flexível em edifício governamental de uso público recém-inaugurado na Holanda

13/09/1955

Nas fachadas, vidros de controle solar da Pilkington nivelados à superfície das esquadrias garantem visual clean e sofisticado

Paredes transparentes cercadas por variadas espécies de árvores frutíferas, que se enchem de flores na primavera. O cenário foi criado para abrigar um edifício governamental, mas que pouco se assemelha à grande maioria das construções do gênero que vemos por aí. Trata-se da sede da Câmara Municipal de Lansingerland, um jovem e bucólico município holandês situado ao norte de Roterdã, que emergiu em 2007 a partir da fusão de três centenárias comunidades rurais da região. Definida como uma espécie de comunidade urbana, Lansingerland foi constituída para transformar as três localidades em uma única força municipal, com vistas a facilitar o equilíbrio entre interesses econômicos e espaciais. Uma comunidade unificada carrega mais poder de resistência ante as pressões vindas de instâncias governamentais mais elevadas, alegam os representantes do governo local. Além disso, a fusão assegura a preservação das fronteiras externas de forma mais efetiva.
 Com mais de 17 mil m² de superfície, o edifício recém-inaugurado foi concebido pelo arquiteto Hans van Heeswijk e sua equipe do Hans van Heeswijk Architects, para abrigar a sede da prefeitura em seu volume principal e os escritórios das secretarias municipais da cidade em seu anexo. De uso público, é acessível a todos os que participam da comunidade local, se casam ou querem registrar um nascimento. A edificação, garante Van Heeswijk, foi projetada com foco em economia, acessibilidade e durabilidade, sem deixar de lado aspectos estéticos e funcionais. Envidraçado de ponta a ponta, o prédio conta com múltiplas soluções e diferentes tipos de aplicação, dos fechamentos às coberturas e guarda-corpos, com direito a elevador e passarela de vidro. “Tudo para garantir vistas desimpedidas, fluência e luminosidade dos espaços internos”, comenta o arquiteto.
Reconhecidamente um entusiasta das múltiplas contribuições do vidro em projetos de uso público, comercial e residencial, também neste caso Van Heeswijk não poupou esforços para extrair o máximo de benefícios do material. Circular, o hall de entrada central assemelha-se ao mecanismo de um relógio mil vezes ampliado. Listras de vidros curvos instalados nos guarda-corpos circundam o espaço em cada andar. Já nas janelas eles estão ligeiramente inclinados, para evitar possíveis ecos e vibrações. E na cobertura, ao longo dos mais de 4 m de claraboias, encontram-se as primeiras películas de SGP (Sentry Glass Plus) já usadas na Holanda.
De fachada elegante, acompanhada por um grande beiral saliente que se projeta como extensão do telhado para promover sombreamento adequado, as configurações do edifício foram pensadas de modo a reduzir custos e resultar em uma construção sóbria, mas ainda assim com estilo diferenciado, afirma Rob Hulst, membro da equipe que assina o projeto. “Nas fachadas, os vidros de controle solar são nivelados à superfície das esquadrias, de modo a criar uma visual clean e sofisticado”, observa o arquiteto. A ideia foi erguer um edifício sustentável, em que o consumo de energia fosse reduzido ao máximo. No edifício principal, a escolha recaiu sobre Insulight Sun 50/25, fabricado pela Pilkington e instalado em esquadrias de alumínio pintado de alta performance da alemã Schüco, empresa líder mundial em tecnologias solares e sistemas de fachadas energeticamente eficientes. Já no volume anexo, que abriga os escritórios, foram usados Insulight Sun 60/31, laminados com PVB. Panos de vidro horizontalmente dispostos fecham a parte de trás dos escritórios. “A regularidade perfeita dos vidros e do concreto torna os pisos invisíveis”, observa o arquiteto.

Roda viva
 
Comportando todas as funções públicas do edifício, o hall central, de formato circular, configura-se como espaço vívido, dinâmico e claro. Seja qual for a direção em que se olhe, o vidro está lá, desempenhando de forma impecável sua função de desimpedir vistas e tornar o ambiente organizado e esteticamente agradável. “O hall funciona como um organismo vivo, em que os elementos estão dispostos de modo a interagir com o visitante desde o momento em que ele entra no edifício. E a localização de todos os espaços é clara e óbvia. Basta que se aponte para eles”, descreve Hulst. “Já suas formas e a maneira como se associam entre si remetem ao funcionamento interno de um relógio”, compara o arquiteto.
Do grande átrio circular é possível contemplar uma escada com degraus e guarda-corpo de vidro, que se ergue em volta de um ostensivo elevador panorâmico, com vidros instalados em uma estrutura espiralada, similar a uma mola, que se ergue em torno do eixo central. Na cobertura, as claraboias também de formato circular se encarregam de trazer ainda mais luminosidade ao ambiente, formando pontos de luz que transitam pelos espaços ao longo do dia. “O vidro contribui de forma determinante para um ambiente flexível e uma atmosfera de trabalho saudável e produtiva.”
Com um diâmetro de mais de 4 m, essas aberturas são constituídas por vidros laminados com uma película especial, o SGP (SentryGlas Plus), polímero de alta performance e durabilidade fabricado pela DuPont, que oferece níveis superiores de resistência em relação ao PVB. “A escolha recaiu sobre esse material porque era necessário conferir resistência máxima a esses vidros, sobretudo por serem circulares e de grande extensão. Ainda mais contando com a grande quantidade de neve que se acumularia sobre eles no inverno”, afirmam os engenheiros da BRS Building Systems, empresa nova-iorquina responsável pelo fornecimento e instalação das claraboias e dos elevadores. “Originalmente desenvolvidos para resistir a explosões e terremotos, o polímero da DuPont despontou como a solução ideal.” Para a fixação das chapas, foi aplicado nas bordas selante de silicone resistente aos raios ultravioletas.
“Vidro e madeira são basicamente os componentes que formam a estrutura das salas e determinam a identidade do ambiente”, observa Hulst. “A sala da câmara, por exemplo, é totalmente fechada e privativa, mas aberturas horizontais, com tiras de vidros curvos instaladas à altura dos olhos, conferem uma sensação de transparência.” Acompanhando a curvatura da parede, as chapas fornecidas pela empresa holandesa Glass Inside medem aproximadamente 4,5 m altura por 20 cm de largura. Já o loft acima da câmara é protegido por vidros laminados de temperados de 10 mm, com raio de curvatura de 3,9 m e estruturas de sustentação escondidas no piso e no teto.
Predominantes em todas as áreas internas, paredes e divisórias formadas por vidros duplos insulados, com cavidade de 250-400 mm preenchida com gás argônio, garantem conforto acústico no interior das salas de trabalho, que oferecem flexibilidade para múltiplas funções e, com profundidade não muito acentuada, deixam espaço considerável para corredores e áreas de transição. Além de formarem unidades insuladas, tanto a chapa interna como a externa de cada composição é laminada com película de propriedades acústicas. Para acompanhar o isolamento proporcionado pelos vidros, as paredes também são duplas.
 

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