Diamantes flutuantes

Diamantes flutuantes

Capa: Diamantes flutuantes

Entre todas as formas arquitetônicas envidraçadas já empreendidas, a da Biblioteca Pública de Seattle, a Seattle Central Library, nos Estados Unidos, certamente situa-se entre as mais marcantes. Exemplo de design arrojado e inovador, o edifício foi concluído em 2004 e até hoje ocupa posição de destaque no ranking das mais inusitadas concepções arquitetônicas do mundo. Integralmente envelopado com vidro, o edifício da biblioteca é formado por múltiplas faces que vão assumindo diferentes formas geométricas, como se fosse uma dobradura de papel. Sua linguagem é marcada por um dinamismo e um jogo de volumes único, que tem sido referência para toda uma geração de arquitetos, especialmente os apaixonados pelos efeitos estéticos incomparáveis que o vidro é capaz de produzir em uma fachada.

 

O premiado projeto é assinado pelos arquitetos do escritório holandês OMA, em parceria com o LMN Architects, e a arrojada engenharia de sua fachada ficou a cargo da Arup, empresa especializada em sistemas estruturais. Com mais de 30 mil metros quadrados, o edifício foi inspirado por um objetivo principal: o de se tornar tão importante do ponto de vista arquitetônico quanto pelo acervo de obras e atividades culturais e sociais multimídia que abrigaria.  “Os volumes são classificados em rígidos ou flexíveis de acordo com sua destinação, se para atividades fixas ou sazonais”, explica Sylvia Chan, diretora de comunicação do OMA. “Todo o conceito foi estabelecido pelo próprio programa da biblioteca e suas diferentes funções, de modo que a concepção dos espaços segue o fluxo vertical da edificação.  

 

Guiados pela preocupação de criar um espaço público que de fato valorizasse a função de uma biblioteca, em uma era em que todo o conhecimento humano parece estar migrando para os ambientes digitais, os arquitetos do OMA e do LMN mergulharam no desafio de conceber um espaço cívico voltado para a circulação dinâmica do conhecimento em todos os meios de comunicação. “Também houve uma preocupação especial com a organização do acervo físico. Um inovador sistema organizacional, que chamamos de Books Spiral, foi projetado para ser expansível, para receber um volume crescente de obras ao longo do tempo”, conta Sylvia.

 

Em áreas dedicadas à leitura, luz natural em abundância, porém filtrada pelos vidros de controle solar,  evitando o excesso de brilho

 

Encaixe de volumes

 

Repletos de ângulos dramáticos e superfícies inclinadas, os espaços foram compartimentados em camadas sobrepostas assimétricas, cada uma para abrigar um setor da biblioteca. “Cada área é arquitetonicamente definida e equipada para desempenhar a função específica à qual é dedicada, com tamanhos variados, flexibilidade, sistema de circulação, paleta de cores e estrutura diferenciados”, descreve a diretora. “A intenção era transmitir a sensação de que essas camadas estivessem flutuando sem qualquer meio de sustentação aparente.”

 

Do lado de fora, um inovador sistema de fachada com vidros triplos insulados reveste o edifício de ponta a ponta. “Se internamente as formas e volumes foram concebidos de acordo com sua função, do lado de fora foram posicionados de forma estratégica, sob cálculos precisos de incidência luminosa em cada face e ambiente.

 

 

Além da conceituação estética e de linguagem, que parece representar as dobras de uma folha de papel ou de um origami, o projeto levou em conta um cuidado milimétrico com o controle e a distribuição equilibrada de luz e calor do sol em cada ambiente. Assim, dizem os engenheiros da Arup, as superfícies do edifício que sofrem maior incidência dos raios solares são recobertas por uma camada de malha metálica expandida que, entremeada com o vidro, é capaz de reduzir internamente o calor e o brilho, preservando a visibilidade. “O edifício foi projetado para controlar o tipo e a quantidade de luz solar que penetra em cada sala. Assim, áreas de leitura, por exemplo, foram posicionadas de modo a receberem luz natural apropriada, porém com menos brilho e filtrada pela camada de malha metálica”, explica o gerente de projetos da Arup, David Healy. 

 

As áreas de circulação da biblioteca de Seattle, nos EUA.

 

Do mesmo modo, a opção pelo vidro levou em consideração tanto aspectos estéticos como funcionais. “Um dos conceitos chave do projeto está ligado justamente a transparência e espaços abertos. O edifício é recoberto por vidro para permitir aos transeuntes que enxerguem de forma plena as suas diferentes partes e tudo o que está acontecendo dentro dele”, comenta o arquiteto Rem Koolhaas, fundador do OMA e um dos líderes do projeto. Ao todo, foram instalados 10 mil painéis de vidro em forma de diamante em estruturas de aço que somaram mais de 4 mil toneladas.

 

 

A aparência externa do edifício, assim como a visibilidade de seu interior para quem está do lado de fora variam de acordo com as condições luminosas externas, se o tempo está mais claro e ensolarado ou mais chuvoso ou nublado, ou mesmo se é noite ou dia. “Cortadas em tamanhos de aproximadamente 1×2 m, as unidades de vidros triplos em forma de diamante promovem a eficiência energética, permitindo entrada abundante de luz natural e reduzindo drasticamente o consumo de luz artificial”, frisa o arquiteto. A malha metálica – formada por placas de alumínio cortadas, esticadas e acomodadas entre as camadas de vidro – revestem praticamente 50% de toda a pele do edifício. O restante é composto por vidros transparentes, com propriedades seletivas que garantem alto desempenho energético. “Além disso, todas as unidades de vidro passaram em testes de vento, chuva e infiltração de ar e atendem a todos os códigos de resistência estabelecidos pelas normas regionais”, dizem os engenheiros da Arup.