Correntezas de vidro

Correntezas de vidro

Capa: Correntezas de vidro

 

Na arquitetura já é comum. Especialmente em chalés e casas de campo que buscam um estilo mais rústico e integrado ao meio ambiente, a madeira de demolição acaba sendo uma alternativa econômica, ecologicamente correta e, se usada de forma inteligente, converte-se em valioso diferencial estético quando o intuito é aliar simplicidade e conforto. Em tempos de desperdício zero, em que o reaproveitamento de recursos passa a ser uma medida estratégica, reutilizar matérias-primas e colaborar com a preservação da natureza pode ser o caminho perfeito também na arte e na movelaria. É o que fez o designer de móveis Greg Klassen em sua linha de mesas River, que combina madeira e vidro para simular o curso dos rios.

 

 

 

As obras de Klassen costumam explorar as imperfeições dos restos de madeira descartados em construções ou provenientes de árvores caídas ou prestes a apodrecer encontradas às margens do rio Nooksack, que passa ao lado de seu estúdio em Lynden, a 150 km de Seattle, nos Estados Unidos. Os pedaços são então trabalhados e unidos de modo que, entre eles, se formem as margens dos lagos e rios. Esses, por sua vez, são compostos por peças de vidro em cor azul. “As chapas são cortadas à mão no formato que melhor se encaixe nas curvas da madeira”, diz o artista.

 

“Minha inspiração vem sobretudo da beleza natural do Noroeste Pacífico dos Estados Unidos e das árvores que crescem aqui”, conta Klassen. “Na natureza, cada forma é única. Do mesmo modo, trabalho para que cada peça tenha suas formas próprias e exclusivas”.  A qualidade da matéria-prima costuma ser bem superior à que é normalmente usada na indústria moveleira. Além disso, o estilo rústico e artesanal conferido pela madeira ganha um toque de sofisticação e modernidade em composição com o vidro.

 

 

 

A série, chamada River Collection, é composta por mesas de centro, de café e de jantar, nos mais diversos tamanhos e formatos, nas quais a mistura de madeira com vidro manualmente cortado remete a uma espécie de “mapa topográfico”. Ao cobrir as falhas da madeira com vidro, Greg cria peças únicas que transformam imperfeição em harmonia. Quanto aos processos criativos e produtivos, o designer faz questão de preservar o caráter artístico e artesanal de seus projetos. Do projeto gráfico ao acabamento final, todo o processo é executado por ele.  “Cada peça é única, com características, padrões e texturas exclusivas.”, diz o artista. “Embora sigam uma mesma linguagem, as diferentes bases e encaixes permitem adaptar as peças a uma ampla gama de estilos, e procuro fazer essa adequação a cada encomenda que recebo”.

 

 

 

Segundo Klassen, a ideia de usar o vidro surgiu como uma resposta ao material básico com o qual está acostumado a trabalhar, ou seja, a madeira. “Como costumo preservar na madeira suas bordas naturais, o vidro é um aliado no objetivo de unir essas bordas, sem a necessidade de modifica-las. Dessa irregularidade da madeira costumam surgir lindos espaços vazios, e o vidro foi o caminho perfeito para ressaltar esses vãos na madeira e, ao mesmo tempo, fazer esta alusão direta a rios e lagos cercados por terra firme”.

 

 

A perfeição do corte no vidro é um dos aspectos que chama a atenção na série River, e também o que faz das peças objetos não apenas artísticos, mas também funcionais. “Trabalhar com a madeira bruta requer uma série de ferramentas diferentes para transformá-la na peça acabada. Do mesmo modo, o vidro deve ser cuidadosamente recortado, com ferramentas específicas, como cortador e politriz de bordas, para assumir as curvas que desejo em cada peça”, conta Klassen. “Trabalho com uma grande variedade de ferramentas, das mais rudimentares às mais modernas”. Depois de cortado, o vidro passa por um processo de têmpera, para que se torne forte e seguro.

 

 

Para o designer americano, é imprescindível que cada peça de alguma forma carregue as “impressões digitais” do artesão e, ao mesmo tempo, preserve suas características originais. “O resultado é um casamento entre a beleza natural da madeira e a habilidade manual do artesão. Quando esses dois elementos se juntam, o resultado costuma ser surpreendente”.