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Com Escassez de Vidro na China e Demanda aquecida, Indústria Fotovoltaica sofre alta nos preços

Alta demanda e falta de vidro no mercado chinês são as principais responsáveis pela elevação de preços na Indústria Fotovoltaica

16/02/2021

O setor vidreiro começou 2021 com o desafio da escassez de vidro na China, que se estende desde o ano passado, afetando a indústria fotovoltaica. Uma consequência disso é a elevação dos preços do painel solar.

 

Um dos fatores que provocaram esse aumento nos preços é a alta demanda pela geração solar, que cresceu mais de 70% só no primeiro semestre de 2020, segundo dados da ABSOLAR (Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica).

 

No Brasil, distribuidores e fabricantes de módulos fotovoltaicos já sofrem com a carência dos painéis chineses, pois, apenas 5% desses painéis utilizados em nosso país, são de fabricação nacional. A maior parte vem da China.

 

Este aumento é resultado da confiança do consumidor na energia solar como fonte de investimento, destaca Ronaldo Koloszuk, presidente do Conselho da ABSOLAR.

 

Já segundo a diretora comercial da Win Energias Renováveis e coordenadora regional da Absolar, Camila Nascimento, "a fábrica na China não está dando conta da demanda. Falta vidro e também alumínio para o frame, o que prejudica a produção do módulo. Quem não se programou vai sentir mais, pois está tendo dificuldades de comprar agora. “Muitos estão sem produto desde o final do ano passado e ainda estão sem”, afirma.

De acordo com o Bloomberg, os preços subiram 71% desde julho de 2020, prejudicando a economia da energia solar.

Ainda segundo informações da  Bloomberg, a indústria solar pode ficar com até 30% menos vidro do que necessita para 2021.

 

Com relação à falta de vidro, a BYD, acredita que “pode ser arriscado ficar dependendo 100% de insumos do exterior se podemos desenvolver aqui no país, como o vidro e as células solares”, disse Adalberto Maluf, diretor de marketing e sustentabilidade da BYD.

 

O executivo da BYD ressalta que a escassez da produção de vidros e de módulos solares no mercado chinês mostra os riscos da atual estratégia brasileira de abandonar a política industrial para depender de produtos importados.

 

“O Brasil, pelo tamanho e importância estratégica, deveria reduzir o custo e acabar com as distorções tributárias que sobretaxam os insumos e isenta de impostos os importados. Sem isonomia, nossas indústrias não poderão competir no futuro”, concluiu.

 

De origem chinesa e com uma fábrica no Brasil, a BYD é fabricante de módulos fotovoltaicos, e estima que os preços do vidro voltem a cair apenas em 2022, após a alta de até 70% em 2020.

 

Aumento no preço dos fretes internacionais

Além da demanda aquecida e da falta de insumos, outro fator que afeta a indústria fotovoltaica é o aumento do frete internacional.

 

Segundo especialistas do setor em entrevista ao Canal Solar, nesse reaquecimento da economia, em especial, na indústria fotovoltaica, o Brasil enfrenta um descompasso entre demanda e disponibilidade de insumos, agravado por questões logísticas internacionais.

 

Ainda de acordo com os especialistas, essa retomada está provocando atrasos nas programações de vendas e entregas futuras, além de contribuir para o aumento do preço do frete.

 

"A indisponibilidade de módulos nos fabricantes internacionais - relativos à negociações já firmadas, pagas e programadas com devida antecedência - e a indisponibilidade de frota para a normal realização de fretes marítimos são fatores que geraram um aumento de até 1.100% no preço dos fretes marítimo", afirmou Leandro Martins, CEO da Ecori.

 

Roberto Caurim, CEO da Bluesun, acredita que 2021 é promissor para o segmento solar. Ele ressalta que o Brasil enfrentará problemas com a importação, mas tende a melhorar a partir de meados de fevereiro.

 

"Para se ter uma ideia, pagávamos com relação ao transporte do contêiner em torno de US$ 1.200 antes da pandemia [da Covid-19]. Durante a mesma, por conta da parada do mercado interacional, chegou a US$ 5 mil. Hoje, já estamos pagando mais do que US$ 5 mil. Então, é uma loucura", apontou.

 

"Ou seja, quem está importando hoje sabe que está difícil a situação. Para tentar driblar esse problema, estamos fazendo o booking com mais ou menos um mês de antecedência para conseguir navio", concluiu.

 

Ainda em entrevista ao Canal Solar, especialistas do setor afirmam que entre os motivos que explicam a alta nos fretes estão a cadeia produtiva pós-pandemia e os feriados chineses.

 

Fabricantes pedem restrições mais amenas

 

Após reunião com fabricantes do mercado solar da China, em novembro de 2020, o governo chinês anunciou que vai amenizar as restrições sobre novos investimentos em capacidade adicional de produção de vidro fotovoltaico.

 

O pedido veio depois que o preço médio das lâminas de vidro de 3.2mm, utilizadas na composição dos módulos, subir mais que o dobro em meados de 2020. Isso, devido à escassez de oferta que, de acordo com as fabricantes, afetou, em cheio, a produção e entrega dos produtos nos últimos meses.

 

A declaração ainda sugere que fabricantes de vidro e empresas de módulos trabalhem em parceria para suprir a demanda.

 

A medida deve eliminar os obstáculos para investimento na indústria solar, porém, para o diretor de marketing e sustentabilidade da BYD, mesmo aprovada as novas produções de vidro para este ano, as mesmas vão demorar para ter resultados consideráveis.

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