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Arquitetura e Vidro

Casa dos espelhos

“O projeto remete ao aspecto não natural do espelho, que alimenta identidades, mas representa a realidade sempre de uma forma levemente distorcida”

28/04/1951

Neste apartamento em Berlim, refl exos distorcidos forram as paredes dos ambientes, remetendo à magia e mitos ligados a esse material milenar

Paredes espelhadas e texturizadas. Nesta cobertura de 400 m2, localizada em Berlim, o jogo com distorções e reflexos produzidos por espelhos enrugados dá o tom da identidade aplicada em todos os espaços sociais da casa. De diferentes formas e tamanhos, os espelhos desenham padrões geométricos nas paredes que circundam a lareira, a cozinha e a sala de estar. Segundo relatam seus autores, Fabian Freytag e Oskar Kohnen, do escritório alemão LecaroliMited, o projeto é resultado de um concurso em que os arquitetos foram desafiados a redesenhar a cobertura de um prédio rodeado de galerias, em uma rua pequena, mas bastante movimentada do centro de Berlim. “Avaliando o objeto que tínhamos para trabalhar, ou seja, um apartamento grande, repleto de labirintos, divisórias e espaços fechados, propusemos um caminho oposto: transformar o espaço em um único bloco que, amplo e desimpedido, simplesmente molda e abriga cada atividade
doméstica”, descreve Oskar. 

 

 

 


O objetivo dos arquitetos foi desenvolvido a partir de uma nova lógica nas superfícies do apartamento, que, reunindo bar, lounge e cozinha em um único ambiente, guiam de forma harmoniosa e sutil a continuidade dos espaços. Depois de alguns testes, optou-se por um “cinturão espelhado” que, segundo Oskar, agregou ao projeto um teor de fantasia que dá margem a variadas interpretações. “Nosso propósito foi abraçar toda a carga metafórica do material. O efeito da aplicação remete aos mitos e magias do espelho e, por outro lado, contribui com o aspecto extravagante e dinâmico do ambiente”, afirma o arquiteto.

 

 

 


Para compor o ambiente revestido por espelhos enrugados, os arquitetos alemães fizeram questão de objetos discretos. Um forro de madeira revestiu as paredes, aplicado de forma a se adaptar e sustentar o cinturão espelhado. Sobre esse forro foram colados os painéis de vidro, produzidos e pintados sob medida. “Cada peça é aplicada em painéis pequenos e não uniformes”, avalia o arquiteto. “Ao todo, foram usados cerca de 80 m de vidro, mas acabamos produzindo um terço a mais, para o caso de quebra ou danos nas peças durante o transporte ou instalação.” O vidro foi fornecido por três diferentes fornecedores locais.

 

 


“Todo o material foi produzido em Hamburgo e em seguida pintado no sul da Alemanha. As folhas não são planas, mas onduladas, e a pintura foi realizada sobre a superfície dos painéis espelhados”, detalha Oskar. A instalação foi feita de forma padronizada, seguindo como referência um modelo que foi adaptado conforme permitiram os frágeis painéis de vidro.

 

 

 

Uma a uma, as peças foram recortadas e separadas manualmente, para que encaixassem perfeitamente nos espaços a elas designados. “As estrias e ondas desenhadas no espelho produzem um efeito que nos remete ao fundo do mar ou a uma poça d’água. Essa desfragmentação da superfície espelhada anima as imagens refletidas de forma ambígua e parcial, conforme o ângulo sob o qual são observadas”, completa o arquiteto.

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