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Arte em Vidro

As sete faces da luz

De cubos a esferas e peças ovais, as esculturas assumem formatos variados, que resultam em verdadeiros arco-íris encapsulados no vidro

13/02/2014

Nas aulas de física do colégio talvez fosse um pouco difícil de entender, mas as esculturas do artista americano Jack Storms não poderiam ser mais adequadas para demonstrar com clareza o fenômeno de refração da luz produzido pelos prismas ópticos. Capazes de decompor a luz branca policromática nas sete cores monocromáticas do espectro visível, os prismas são elementos transparentes com superfícies retas e polidas que refratam e redirecionam os raios luminosos que incidem sobre eles em sete espectros diferentes, originando o efeito visual que conhecemos como arco-íris.

 

Graduado em artes plásticas pela Plymouth State University, no estado de New Hampshire, Storms descobriu sua paixão pela magia do vidro óptico ao ter sido convidado para trabalhar em um estúdio de arte em vidro ao lado da universidade, onde teve a oportunidade de se especializar em um raro estilo artístico que explora os efeitos prismáticos do material, combinando cristal, vidro óptico e vidro dicroico em um processo de produção integralmente a frio. Depois de atuar lado a lado com o experiente dono do ateliê por mais de um ano, Storms aprendeu cada faceta da técnica, e em 2004 abriu o StormWorks Studio, em Valencia, na Califórnia, onde desenvolveu sua primeira série, conquistou projeção internacional e firmou-se como um artista pioneiro do vidro a frio.

 

 

De cubos a esferas e peças ovais, as esculturas assumem formatos variados, que resultam em verdadeiros arco-íris encapsulados no vidro

 

Procurado por colecionadores do mundo todo, Storms recebeu inúmeras premiações e é atualmente um dos mais requisitados artistas vidreiros dos Estados Unidos. “Quando comecei a trabalhar com essa técnica, esbarrei em uma série de desafios impostos pelo processo produtivo”, lembra. Seu primeiro grande passo como profissional independente foi dado ao criar um equipamento especial para trabalhar o vidro a frio. Trata-se de um torno mecânico que permite esculpir formas com curvas e detalhes no vidro, como faz um artesão em materiais mais maleáveis, como a madeira, por exemplo. “Esse equipamento tornou possível trabalhar o vidro a frio de forma muito ampla, criando formas antes viáveis somente por meio de processos a quente”, comenta.

 

Esculpidas a mão, as peças começam a ganhar vida a partir de um núcleo formado por vidro dicroico, material que recebe um revestimento muito fino, composto por camadas de metais como ouro ou prata. Esse revestimento funciona como um filtro, refletindo alguns comprimentos de luz e produzindo um efeito furta-cor. “O vidro assume cores diferentes dependendo do ângulo a partir do qual é visto”, explica Storms. Cada peça dicroica é cuidadosamente lustrada, polida e laminada, até que brilhe como um espelho. “Esse núcleo é então envolto em um cristal óptico esculpido, refratando a luz, que atravessa as peças e cria um hipnotizante espetáculo de luzes quentes e frias”.

 

A escultura Bella Vino busca traçar um paralelo entre a arte e o vinho

 

De cubos a garrafas, taças, esferas e peças ovais, as esculturas de Storms assumem formatos diversos, que invariavelmente resultam em verdadeiros arco-íris encapsulados no vidro. O princípio óptico empregado é bastante similar ao fenômeno de um arco-íris no céu, onde cada gotícula de água que desvia a luz funciona como um pequeno prisma. “O vidro está entre os materiais mais propícios para produzir esse efeito prismático, pois faz com que as cores se espalhem mais”, comenta o artista. A divisão de cores também será mais visível quanto mais longa a distância que a luz percorrer dentro do prisma. É por isso que um pedaço de vidro de pouca espessura não separa as cores que compõem a luz.

 

O processo de criação das esculturas é complexo, e normalmente demanda muitas semanas para a produção de uma única peça. “O trabalho é intenso e exige muito fisicamente”, comenta Storms. “É por isso que podemos contar nos dedos o número de artistas que optam por trabalhar com essa técnica”, afirma a brasileira Vivian Storms, esposa do artista e diretora da Storms Fine Art Gallery, onde estão disponíveis as mais recentes obras da coleção.

 

Garrafas e taças estão entre as formas preferidas esculpidas pelo artista

 

O processo de criação é complexo e demanda muitas semanas para a produção de uma única peça 

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