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Tendência e Tecnologia

Aliado da Arte

O vidro apresenta uma dualidade de proposta quando utilizado em museus e centros de exposição, pois, ao mesmo tempo é protagonista em muito projetos, também cede este espaço às criações ao liberar as interferências visuais. A interação proporcionada

14/01/2019

 

 

Muito se fala do protagonismo que o vidro tem assumido em projetos arquitetônicos ao longo dos anos. Hoje encontramos obras espetaculares onde o vidro é o destaque, pois oferece sutileza, privacidade e integração de ambiente, agradando diversos estilos e adaptando-se a diferentes propostas, graças a sua versatilidade.

 

Entretanto, o material apresenta um paradoxo quando instalado em ambientes culturais, deixando de ser o objeto principal para ser um aliado da arte, ou, na verdade, saindo de cena para dar espaço ao brilhantismo das criações. O vidro apresenta essa dualidade de proposta, por isso tem sido escolhido para exposições e instalações em museus. O papel do vidro nessas situações é de elevar a arte em sua totalidade e ceder o protagonismo a ela, deixando que o público interprete as obras sem nenhuma interferência visual.

 

Quando falamos de arte, não há como limitar seu significado em apenas um conceito ou determinar um único estilo. Existem diversas variações que foram atribuídas ao longo do tempo e espaço. De maneira mais resumida, a arte pode ser vista como fonte de conhecimento, visão ou até mesmo contemplação.

 

O Romantismo nos apresenta um aspecto de arte mais ligado a expressão da obra criada, o exterior da arte fica em segundo plano, e passamos a enxergar os motivos que a torna viva. Assim como o vidro, material versátil que absorve diferentes formas e apresenta inúmeras características, também pode estimular diferentes percepções do seu significado original.

 

Em 2015, o Masp (Museu de Artes de São Paulo Assis Chateaubriand) utilizou cavaletes de vidro para provocar nos visitantes diferentes percepções que o material pode proporcionar. A exposição “Acervo em Transformação” recebeu 195 cavaletes de vidro para trazer um ar de modernidade e aproximação das obras do museu a seus visitantes. As estruturas em vidro foram originalmente projetadas pela arquiteta ítalo-brasileira Lina Bo Bardi e levadas ao museu em 1968. Porém, acabaram sendo removidas em 1996, retornando em 2015 como parte do processo de renovação do espaço.

 

As obras foram retiradas das paredes e posicionadas próximas ao público, trazendo uma sensação de aproximação e maior interação com os visitantes. Os cavaletes foram feitos de vidros Planibel Clear 10mm, o que os torna extremamente claros, proporcionando uma sensação de invisibilidade, como se os quadros estivessem flutuando no ambiente. Os vidros foram fabricados no Brasil pela AGC e processados pela Cyberglass.  

 

Utilizar o vidro em museus e instituições culturais não é apenas uma opção artística visual e sim uma tentativa de atrair mais público para esses espaços. Esse fenômeno não é novo, já que brasileiros não possuem o hábito de frequentar museus, mesmo em classes sociais mais elevadas - os dados são ainda piores quando fazemos o comparativo para as classes mais baixas.

 

 

Exposições como essa do Masp aproximam as obras do público comum, não especialista ou conhecedor sobre esse universo. Que apresentam o desejo de visitar esses espaços, mas optam pela zona de conforto, por medo do estranho, do outro. O vidro, assim como a arte, pode desempenhar essa função de acolhimento, conforto e até similaridade.

 

O exterior do museu, considerado cartão Postal da cidade de São Paulo chama atenção pela sua estrutura em concreto e vidro. O grande retângulo suspenso por colunas dá um toque de ousadia, deixando a base como espaço livre para lazer. Já os vidros garantem brilho ao prédio que prende os olhos de quem passa pelo local. A conexão do interior com o exterior vem sendo explorado por diversos arquitetos ao utilizar o vidro como material principal de uma obra, como é o caso do Masp, que completou 50 anos em novembro de 2018, e também foi idealizado pela arquiteta Lina Bo Bardi.

 

Amplitude e modernidade

Há casos em que o vidro é escolhido para manter a essência e originalidade da obra ou espaço, pois o material apresenta sutileza, elegância e pouca interferência artística. O hall do Museu Van Gogh, em Amsterdã, na Holanda, passou por uma reconstrução para complementar o design do edifício já existente, em forma de uma asa elíptica.

 

O objetivo central da utilização do vidro foi garantir harmonia e diálogo entre a nova estrutura e a já existente, criando um conjunto integrado, sem abrir mão de soluções arrojadas e modernas. O envelopamento envidraçado conta com avançada tecnologia nos sistemas de engenharia estrutural e abriga um iluminado e espaçoso foyer, além de vestiários e uma loja. O vidro cumpre o papel de assegurar um ambiente espaçoso, claro e aberto.

 

Para o diretor do museu, Axel Rüger, a obra enriqueceu tanto o edifício como o quadrilátero do Museumplein, formado por um amplo gramado, em torno do qual ficam os demais espaços culturais da região, como os famosos Stedelijk Museum e Rijksmuseum. “A estrutura transparente confere um ar arejado de modernidade, condizente com o espírito da cidade, ao mesmo tempo em que preserva as características e a linguagem do antigo edifício”, conta.

 

 

 

Composta por vigas e pilares de aço sustentando unidades de vidro duplo, a obra é avaliada pelo arquiteto como uma inovação técnica importante no uso do vidro como material estrutural. “As hastes estruturais de vidro chegam a atingir 12 metros, as mais longas já usadas na arquitetura holandesa”. A fachada curva é composta por unidades de vidros insulados, laminados e curvados a frio.

 

Com área total de aproximadamente 600 metros quadrados, a cobertura tem como geometria principal uma concha sob um ângulo de 16,5 graus. As 30 hastes de vidro, únicas em seu comprimento, apresentam uma altura otimizada para acentuar o formato curvo da cobertura.

 

Além da utilização do vidro para tentar captar a essência de um artista ou obra, o material também pode ser usado como completo das obras, para ajudar a instigar sensações nos visitantes.  O Museu da Memória e dos Direitos Humanos, no Chile, explorou o vidro de diversas formas, tanto externamente quanto em seu interior. O museu abriga um acervo que expõe o atropelo aos direitos humanos durante o regime militar comandado por Augusto Pinochet.

 

 

Diferentemente da maioria dos museus, que consistem em uma sucessão de salas separadas, o edifício do Museu da Memória é constituído por um grande espaço em três níveis, sem paredes transversais, integrado de modo que o visitante não perca a noção do conjunto. “Os paramentos que dividem os ambientes são todos de cristal serigrafado com fotografias que ilustram a dor, a angústia e a opressão a que o povo chileno foi submetido”, explica o arquiteto Lucas Fehr, co-autor do projeto. “Ao mesmo tempo, o cristal garante a luminosidade dos espaços e de alguma forma reduz a tensão causada pela exibição de episódios traumáticos da história do Chile”.

 

Impulsionando a criatividade
 

Edificações voltadas para o ensino, pesquisa e conhecimento requerem alguns diferenciais que devem ser pensados desde a fase do projeto. Além da inovação e criatividade, questões como durabilidade e manutenção dos materiais devem ser levadas em conta. O vidro é aliado valioso em projetos de bibliotecas, escolas, centros comunitários, culturais e educacionais. Com sua transparência e amplitude, é possível oferecer uma sensação de liberdade e maior conexão com o mundo fora da sala de aula.

 

Com a globalização hoje é possível conectar-se com pessoas e lugares ao redor do mundo em poucos segundos, graças a aparelhos tecnológicos que possibilitam essa interação. As novas gerações de crianças e jovens, mais conhecidos como geração y e z, estão completamente imersas nessa tecnologia. Para manter o interesse e melhorar o aprendizado, a educação vem acompanhado essas mudanças culturais. Atividades mais interativas são apresentadas às crianças para melhorar o desempenho e despertar mais interesse.

 

 

A biblioteca da Universidade de Freiburg, localizada na Alemanha, tem 41 mil metros quadrados e passou por uma grande reforma, tornando-se uma das maiores e mais modernas bibliotecas universitárias da Europa. A reforma aconteceu, principalmente, porque a tecnologia usada no prédio estava defasada e era preciso modernizá-la para gerar mais economia. Além disso, a frente do edifício estava danificada e a modernização de sua fachada integraria o prédio ao conceito de desenvolvimento urbano da cidade. Com um conceito inovador de iluminação, energia e clima, o vidro foi aplicado predominantemente na fachada do edifício, que possui 7,3 mil metros quadrado.

 

Além do visual estético e deslumbrante que o projeto aparenta, dependendo da hora do dia, as fachadas neoclássicas do entorno são espelhadas e as atividades dos alunos tornam-se visíveis do exterior. Apresentando o espaço de ensino de forma convidativa para quem passa pela rua e tem a possibilidade de imergir nesse universo, que pode provocar sensações de estranhamento, saudades ou até curiosidade.

 

Os vidros de controle solar também foram utilizados no projeto para gerar economia de energia, já que contribuem para regular temperatura interna e reduzem a necessidade de uso do ar condicionado. A fachada em vidro também criou uma impressionante arquitetura na região, e ofereceu aos usuários um ambiente ideal e confortável para a leitura. Outras empresas envolvidas na obra foram: Consultor de fachada - Emmer Pfenninger Partner AG + IFP - Weber GmbH & Co. KG / Processador dos vidros: Thiele Glass  / Fornecedora dos vidros: Guardian Glass. O produto utilizado é o Silver 32 on gray, que também é produzido pela Guardian no Brasil.

 

Vida acadêmica vibrante

O Edifício Central da Leuphana Universidade, em Luneburgo, Alemanha, foi projetado em colaboração com o arquiteto Daniel Libeskin e oferece ao campus um edifício histórico que promove a visão de inovação e excelência para a universidade. “O edifício representa a nossa universidade no seu melhor para o futuro. Estabelece o novo agora para estudantes e professores, bem como outros visitantes, para promover a troca de ideias, inspirar a criatividade e apoiar uma vida acadêmica vibrante. Será um marco da cultura de Lüneburg ”, define o presidente do Leuphana, Sascha Spoun.

 

Com 13.000 metros quadrados, o edifício revestido de zinco integra o Centro de Pesquisa, o Centro de Estudantes, o Centro de Seminários e o Auditório em uma única estrutura. Essa nova configuração promove interação interdisciplinar e um ambiente de aprendizado dinâmico para os alunos e professores. Cada uma das funções está alojada em quatro volumes individualmente moldados e mutuamente interligados que formam uma estrutura composta principal, atingindo a máxima eficiência em termos de uso, estrutura, consumo de energia e impacto arquitetônico.

 

 

No desenvolvimento do design, a participação dos alunos foi integrada como parte de uma tradição de Universidade de Leuphana para envolver os alunos no processo de mudança do campus da Universidade. Nos seminários realizados pelo Professor Libeskind e outros professores da Universidade, os alunos tiveram a oportunidade de obter insights sobre as questões complexas de vários estágios do projeto, apresentar suas próprias perspectivas e desenvolver soluções que puderam ser incluídas na execução do projeto.

 

“A ideia para este projeto era criar um centro que inspirasse os alunos através de múltiplos espaços conectados, infundidos com luz natural e novas geometrias excitantes”, afirma o arquiteto Daniel Libeskind. “Foi uma verdadeira colaboração criativa, incorporando ideias de estudantes sobre os elementos do programa e design no design final”, completa.


Para amenizar a temperatura, o telhado verde é colocado nos volumes mais baixos do edifício (estudante e centro de seminário). Em algumas janelas foram utilizados vidro eletrocrômico (ECONTROL®) para ajudar a minimizar o ganho de calor e o brilho. O novo edifício está localizado no campus principal da universidade, na parte sul de Lüneburg. A universidade evoluiu de uma escola pedagógica de professores, fundada em 1946. Hoje os principais focos são cultura, educação, economia e sustentabilidade. Mais de 9.000 estudantes estão atualmente matriculados.

 

BOXES

 

Tornado de vidro

 

Com mais de 40 mil m² de superfície envidraçada, o Milan Trade Fair, em Milão, é um dos mais exuberantes centros de exposição da Europa. A cobertura ondulada de vidro e aço cobre oito pavilhões, em uma área que soma 345 mil, e chega a mais de 30 m de altura em determinados pontos. Ao longo de toda a sua extensão, as mais de 100 mil placas que compõem a onda de vidro assumem formato quadrado nas partes planas e triangular nas partes curvas, para garantir o movimento fluido.

 

Integração através do vidro

 

O projeto de arquitetura da Unidade Senac São Miguel Paulista traz soluções que valorizam convivência e integração através da aplicação de grandes panos de vidro. A fachada frontal é composta de esquadrias com montantes de alumínio, preenchidos com lã de rocha e vidros laminados 13 mm, com PVB acústico (6 mm low-e na face 2 + PVB acústico S-Lecsaf + 6 mm). O bloco principal conta, ainda, com sistema de fachada ventilada composta por um grande mosaico com placas de agregado cimentício e de material reciclado, com janelas de vidro duplo (4+6 mm low-e na face 2 + 20 mm  fr câmara de ar + 4+4 mm vidro float) e micro persianas (38mm) embutidas na caixilharia.

 

Valorização da luz natural

 

Abrangendo 14.200 metros quadrados e subindo oito níveis, o Centro Estudantil da Universidade de Ryerson, em Toronto, Canadá, foi concebido como uma biblioteca sem livros, o design desenvolve condições naturais para grupos de pessoas interagirem, ao mesmo tempo em que oferece áreas para estudo controlado e introspectivo. A estrutura de concreto é revestida em vidro fritado impresso digitalmente, o que minimiza o ganho de calor solar e resulta em condições de luz variáveis ??dentro do edifício. O padrão da fachada, consistindo de formas assimétricas, destina-se a enquadrar as vistas da cidade.

 

Tecnologia imersa à natureza

 

O Global Tecnopuc é um prédio de mais de quatro mil m² que a PUCRS, em parceria com a HP, inaugurou em outubro de 2015, em Porto Alegre. A fachada possui cerca de três mil metros quadrados e recebeu o vidro laminado SunGuard da NP50 on green 4mm + pvb incolor + 4mm incolor. O projeto exigia um vidro com o alto desempenho térmico e tonalidade verde para integrar o prédio ao campus, já que o local é muito arborizado. Por se tratar ainda de um prédio dedicado à tecnologia, o vidro também deveria estar alinhado a este perfil. O edifício é dedicado a receber projetos temporários realizados entre os diferentes públicos que se relacionam com o Parque Científico e Tecnológico da PUCRS.

 
 

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