‘Não perdemos para ninguém’

‘Não perdemos para ninguém’

Capa: ‘Não perdemos para ninguém’

Reconhecido como um dos grandes especialistas do mercado brasileiro de vidro plano, Carlos Henrique Mattar está há mais de dez anos à frente da gerência de desenvolvimento de mercado da Cebrace, empresa líder brasileira no segmento e que reúne em seu processo de fabricação o know-how e a tecnologia de dois gigantes do setor, a NSG/Pilkington (Japão) e a Saint-Gobain (França).

 

Já atuou nas áreas fabril, técnica, de desenvolvimento de produtos, de pós-vendas e de comunicação. Formado em Engenharia Metalúrgica e de Materiais pela Poli/USP e pós-graduado em gestão empresarial pela Fundação Getúlio Vargas e em Marketing pela Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), Mattar também acumula no currículo cursos de formação técnica na Escola do Vidro e na Universidade do Vidro, na França. Com todo esse portfólio, ele posiciona o setor vidreiro nacional no mesmo nível dos mais avançados do mundo, com a possível ressalva da especificação de vidros de valor agregado, como os duplos e os de controle solar. Nesta entrevista a Vidro Impresso, Mattar empresta um pouco de seu conhecimento sobre tendências, diferenciais e os últimos avanços tecnológicos que a indústria vidreira tem oferecido à construção civil no Brasil.

 

 

 

A indústria vidreira no Brasil tem conseguido acompanhar os avanços registrados no exterior? Em que pontos ainda está defasada em comparação com EUA e outros países?

Mattar – Nossa indústria vidreira não tem nada a dever à de outros países. Temos todas as certificações internacionais e nossas plantas são referência em termos de segurança e tecnologia. O único ponto em que ainda poderíamos estar defasados seria em relação à especificação de vidros de valor agregado, como vidros duplos
e de controle solar.

 

 

 

 

Como avalia o papel do vidro no desempenho energético das edificações? Quais as características que o põem à frente de outros materiais em projetos de construção sustentável? 

O vidro é um elemento muito importante nas fachadas ou envoltórias das edificações comerciais e residenciais, pois é através dele que temos a interação necessária com o mundo exterior. Além de permitir a visão externa, propicia a entrada de luz natural e de calor na medida certa, dependendo do tipo de vidro
utilizado. Nesse contexto, ele tem um papel importante no desempenho energético das edificações, podendo, quando bem aplicado e especificado, torná-las ótimos
exemplos de edifícios sustentáveis. 

Para que esse grau seja atingido, é importante a utilização de vidros que possam reduzir a entrada de calor (vidros de controle solar), atenuar a diferença de temperatura, principalmente no inverno (vidros duplos e duplos com baixo emissivo), e ter a necessidade de limpeza reduzida, economizando água e detergentes
(vidros autolimpantes).

 

 

 

 

Em tempos de abuso do conceito de sustentabilidade por razões de marketing, acredita que se deva estabelecer um mecanismo de certificação para edifícios quanto a esse aspecto? A quem caberia exercer esse controle?

 

A certificação é muito importante para que os usuários e investidores consigam diferenciar um projeto realmente sustentável. Hoje já existem algumas certificações internacionais muito sérias e respeitadas, como o selo LEED, por exemplo. Além disso, o Brasil está desenvolvendo um selo nacional, o Procel Edifica, que também vai contribuir.

 

 

 

 

Arquitetos e engenheiros têm consciência dos benefícios e diferenciais dos variados tipos de vidro na arquitetura? Quais os caminhos para que esses profissionais ampliem o uso do vidro e especifiquem suas aplicações da forma mais adequada?

 

Alguns profissionais já conhecem, outros ainda não. É importante levar conhecimento a esses profissionais, seja por meio de palestras, aulas ou eventos, seja propiciando material de qualidade que possa ser consultado na internet ou em papel. Esse conhecimento deve ser levado de maneira fácil e direta, na linguagem desses profissionais, demonstrando as vantagens dos vidros em relação ao conforto térmico, acústico e luminoso, além de sua inigualável estética.

 

 

 

 

Com relação ao desempenho térmico e acústico, julga que a indústria vidreira tem conseguido cumprir as normas técnicas da ABNT?

A indústria vidreira tem conseguido. O problema está na interface com as construtoras e com os outros materiais que irão formar janelas, fachadas e/ou fechamentos.

 

 

 

 

Qual o grande obstáculo para o desempenho acústico das edificações? Como o setor vidreiro tem trabalhado para desenvolver soluções de vedação em parceria com o de caixilhos?

Na realidade, quando falamos de desempenho acústico, estamos falando de um conjunto que tem o vidro como um dos elementos. Mas é muito importante a correta especificação da caixilharia e da própria alvenaria para termos um “conjunto” com bom desempenho acústico. A utilização de vidros laminados, laminados acústicos e duplos pode trazer uma melhoria significativa, mas deve ser conjugada com caixilhos e instalação adequados.

 

 

 

 

Qual o impacto da norma 15575, quanto ao desempenho acústico das edificações, sobre o mercado do vidro? Acredita que a nova norma possa ser
um estímulo para o desenvolvimento de novas soluções e tecnologias?

Com a correta especificação, o setor vidreiro não terá problemas para cumprir a nova norma. Pelo contrário, acredito que o setor esteja bem preparado para atendê-la e impulsionar o uso de produtos de valor agregado nas janelas. A norma irá estimular as indústrias a investirem nos produtos transformados e de valor agregado.

 

 

 

Quais os diferenciais e vantagens do vidro antirreflexo? Em que casos sua aplicação é mais indicada?

O vidro antirreflexo tem como principal vantagem a redução, em até cinco vezes, da reflexão gerada por um vidro incolor, de maneira que, quando olhamos para uma vitrine ou fachada, a impressão é de não termos nenhum anteparo. Principalmente, como no caso da Cebrace, quando este vier na base de um vidro extra clear. As aplicações mais indicadas são em locais em que se deseje ter uma visão mais nítida, como vitrines de lojas, restaurantes, camarotes de shows ou eventos esportivos.

 

 

 

Com relação aos chamados vidros inteligentes, qual a mais avançada tecnologia disponível hoje no mercado? Em que medida vêm sendo explorados para atender demandas por maior eficiência energética das edificações?

Existem hoje várias tecnologias de vidros inteligentes, muitas das quais ainda em fase de desenvolvimento para comercialização em larga escala, como os vidros eletrocrômicos. No entanto, temos tecnologias que já estão presentes e podem nos auxiliar, como os vidros que ficam opacos ou transparentes (vidros com LCD interno) e os vidros autolimpantes (nanotecnologia), que utilizam os fatores da natureza para se manterem sempre limpos.

 

 

 

 

Os custos desses vidros especiais ainda são um fator limitante para a ampliação de seu uso?

Hoje não mais. Com a evolução dos vidros especiais e sua fabricação local (em muitos casos), o preço está bastante compatível com seus benefícios, sendo possível demonstrar que o investimento feito será pago num prazo máximo de 3 anos (dependendo do tipo de obra, quantidade e local), em consequência da redução do gasto energético. Isso sem considerar o conforto e luminosidade.

 

 

 

 

Qual o grande diferencial do vidro low-e e por que ele, sozinho, não pode ser considerado um vidro de controle solar?

O vidro low-e ou baixo emissivo tem uma grande vantagem na isolação térmica, ou seja, na redução da troca térmica entre dois meios. Em climas frios, ele ajuda a não perdermos calor para o meio externo, reduzindo o uso de aquecimento. Todavia, no caso de climas quentes como o  nosso, precisamos reduzir a entrada
de calor por radiação, o que faz com que os vidros low-e não sejam eficientes sozinhos. Mas, quando combinados com vidros de controle solar, tornam-se grandes aliados do conforto térmico.