Dentre as inúmeras aplicações do vidro na arquitetura moderna, os pisos e coberturas estão entre as mais versáteis e impactantes. Superfícies horizontais transparentes figuram em alguns dos mais belos e arrojados projetos da atualidade. Ao diferencial estético agregado pelo material, soma-se sua capacidade de oferecer vistas sob ângulos inusitados, situando-o entre os mais visados nesses tipos de aplicação.
Embora a especificação do vidro para composição de pisos e coberturas não seja novidade, é crescente a frequência com que o material aparece nesses tipos de aplicação. Em ambos os casos, é primordial que os vidros sejam de segurança, salienta a arquiteta Rebeca Andrade, especificadora técnica da PKO do Brasil. “De acordo com a norma NBR 7199, vidros em coberturas devem ser de segurança, laminados ou aramados, pois em caso de quebra acidental, seus fragmentos ficarão presos até que se faça a troca da peça”, ressalta a arquiteta. Já o cálculo de espessura deverá ser feito de acordo com as normas de aplicação (a mesma NBR 7199) e da ação de forças devido ao vento (NBR 6123). No caso de coberturas com acesso para limpeza por cima do vidro, as mesmas pressões consideradas para cálculo de piso devem ser consideradas.
De gazebos e beirais a coberturas mais extensas, os projetos modernos têm encontrado nos vidros um aliado importante, por equacionar de forma equilibrada os níveis de iluminação, ao mesmo tempo em que diluem barreiras visuais e protegem contra intempéries. A escolha do vidro mais indicado depende do projeto, afirma Rebeca. “Se a cobertura for em um local de permanência para descanso ou alimentação, por exemplo, é essencial a utilização de um vidro de controle solar que reduza a entrada de calor e, principalmente, o ofuscamento visual. Caso contrário, o ambiente ficaria excessivamente exposto ao sol em dias de verão.”
Em grandes coberturas com difícil acesso para limpeza, é recomendável o uso de vidros autolimpantes, que contam com uma microscópica camada de dióxido de titânio na face externa. “Essa camada faz com que as partículas de sujeira tenham dificuldade de aderir ao vidro, e quando chove, a água carrega essas partículas, deixando o vidro limpo por mais tempo”, explica Rebeca. No caso das aplicações externas, a arquiteta recomenda um cuidado especial: se as peças de vidro tiverem alguma de suas bordas expostas às intempéries, deve-se utilizar película isômera plástica no lugar do PVB comum, para que a peça não venha a delaminar.
“Quando os arquitetos desejam continuidade de vidro entre faces verticais e horizontais, a vedação de silicone estrutural é a melhor alternativa, especialmente se combinada com painéis montados em fábrica”, diz o consultor de fachadas da Arup, Frederico Fontana. “Se a intenção visual é mais transparência, então o vidro estrutural ou a fixação por botões são as opções mais indicadas.”
Começando pelas coberturas, acompanhe, nesta e na próxima edição, uma seleção de projetos que, de portes e usos variados, têm em comum a forma criativa e estratégica com que se recorreu ao material em superfícies horizontais.
Sala suspensa
Glassroom to Georgian Townhouse | North Yorkshire, Inglaterra
O projeto dos arquitetos do Jeff Kahane + Associates foi fundamentado no pedido dos clientes por um anexo residencial assimétrico e com estruturas mínimas, de modo a preservar a elegância da arquitetura georgiana que caracteriza os fundos da casa. Assim, depois de restaurada, a fachada de pedras recebeu uma bela extensão de vidro, instalada em um pedestal em ângulo acentuado no terraço superior e protegida por um novo guarda-corpo também de vidro. A caixa envidraçada foi concebida de modo a permitir que 73% de suas superfícies fossem móveis, podendo ser dobradas e abertas nos dias mais quentes. A execução ficou a cargo da empresa Trombe, que desenvolveu uma dobradiça de aço inox com abertura de 180o. A obra exigiu particular esforço para a instalação dos painéis de vidro duplo de 32 mm que compõem a cobertura do anexo, já que a residência de quatro andares está situada em um terreno com inclinação acentuada. Juntas de silicone estrutural foram usadas para unir os painéis, criando um cubo contínuo sem qualquer estrutura aparente.
Cobertura confortável
Edifício residencial | São Paulo, SP
A Avec Design foi a responsável pela instalação dos vidros no gazebo desta cobertura em São Paulo, assinada pelo arquiteto Toni Cutolo. As portas de correr com sistemas VES funcionam como sustentação para a cobertura, contando com vidros temperados laminados estruturais. Com espessura de 10 mm, os vidros oferecem controle e conforto ambiental adequado. Com alto desempenho térmico e acústico, o sistema utiliza apenas de 10 a 15% de alumínio em relação a um caixilho convencional. Para conservar as características originais do vidro, foi aplicada a tecnologia Glass Shield, impermeabilizante que forma uma película protetora capaz de repelir a água, reduzindo drasticamente a necessidade de limpeza.