Cartões de visita das grandes metrópoles, os aeroportos também exercem hoje um importante papel de organizadores do fluxo de pessoas. Afinal, nunca antes se viajou tanto de avião, motivo mais do que ponderável para a crescente demanda por expansão, tanto em capacidade como em recursos, por que passam os aeroportos do mundo todo. Tecnologias que garantem resistência, segurança, transparência, luminosidade, conforto térmico e acústico elevam o vidro a material de destaque nos mais arrojados projetos de terminais. “O vidro é explorado por suas características únicas de integrar o ambiente externo ao interno. A luz natural e a energia solar são levadas para dentro do ambiente”, afirma o engenheiro Ricardo Macedo, sócio-diretor da Hedron Engenharia, empresa especializada em projetos de instalação de vidros.
No Brasil, a Copa de 2014 a Olimpíada de 2016 serão os grandes motivadores para ampliação da malha aeroportuária. Para atender com conforto, agilidade e segurança os 600 mil turistas estrangeiros esperados, mais os aproximados 3 milhões de torcedores brasileiros, 12 aeroportos serão reformados e um será construído. “Por força das dimensões continentais do País, o desafio está na identificação das características regionais de onde se encontra cada aeroporto e no respeito a essas características, principalmente no que se refere ao clima”, afirma o arquiteto Sergio Jardim, reconhecido especialista em projetos aeroportuários e responsável pela reestruturação do Aeroporto Santos Dumont, no Rio de Janeiro, entre outros.
O custo total das obras chegará aos R$ 5,5 bilhões e a boa notícia para o setor é que o vidro deverá estar fortemente presente nas obras do sistema aeroportuário brasileiro. “Há uma tendência mundial de aumento das superfícies envidraçadas. Os vidros de última geração têm características que permitem otimizar as instalações complementares, diminuindo a carga térmica, demandando menos luz artificial durante o dia e conferindo transparência e leveza aos espaços arquitetônicos”, avalia Sergio Jardim.
Santos Dumont: túnel de vidro
Aeroporto Santos Dumont
O terminal de passageiros original, projetado pelos irmãos Roberto na década de 1930, é considerado um ícone da arquitetura modernista brasileira e se destaca pela relação com a cidade. O hall transparente em vidro aproxima a Baia da Guanabara das pistas e dos aviões. Ao longo de décadas o prédio foi bastante descaracterizado e em 1998 um incêndio o destruiu quase por completo. Restaurado a partir do projeto do arquiteto Sergio Jardim, o terminal recuperou sua volumetria original, entre outras características marcantes da época, e foi tombado pelo Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural – INEPAC – em agosto de 1998.
As orientações da Infraero para ampliação do terminal recomendavam manter a vista da Baía da Guanabara. “Nosso grande desafio foi projetar a ampliação com o mínimo possível de intervenções no prédio existente, mantendo o máximo de transparência do projeto original”, afirma o arquiteto Sergio Jardim.
O complexo passou a compreender quatro prédios interligados, conjunto onde se destaca o chamado conector, um tubo metálico de 287 metros de extensão, composto por perfil de aço. Sua área envidraçada totaliza 6.350 m², sendo 2.196 m² de vidro curvo aplicado nas laterais e 4.154 m² de vidro duplo na cobertura. “A solução de fechamentos de vidro para o conector permite descortinar a baía da Guanabara, bem como toda a fachada do prédio”, afirma Jardim.
A caixilharia é produzida com perfis tubulares de alumínio anodizado preenchidos com lã de rocha, para isolamento acústico, e vidros encaixilhados com gaxetas e tampas externas para fixação e vedação dos quadros.
O conjunto de prédios totaliza uma área construída de 76 mil m² com capacidade para o trânsito de 8,5 milhões, passageiros/ano. Todos os vidros planos e curvos foram fornecidos pela Glaverbel.
Proteção térmica
Nas laterais do conector foram aplicados vidros Sunergy Green curvos, temperados, laminados com quatro películas de PVB verdes, de 17,2 mm. Eles oferecem reflexão de 6,5%, transmissão luminosa de 40, sombreamento 0,23 e fator U ou K de 1,6. Na cobertura, adotou-se uma barreira térmica de vidros duplos Stopray Galaxy, azuis, de 32mm. É um sanduíche composto por um temperado de 10mm na face interna, câmara de ar de 12mm e laminado com duas películas de PVB no lado externo. “São vidros de baixíssima emissividade, que oferecem reflexão de 4%, transmissão de 30, sombreamento 0,10, e fator U de 1. Esses valores garantem proteção térmica equivalente a uma laje de cimento”, afirma o diretor da Glaverbel, Erwin Galtier.
Aeroporto Internacional de Montevidéu: beleza e modernidade
Vencedor do prêmio 2010 da Abcem (Associação Brasileira da Construção Metálica) na categoria obras especiais, o Aeroporto Internacional de Carrasco, em Montevidéu, Uruguai, chama atenção por sua cobertura metálica curva de aproximadamente 40 mil m². Projetado pelo arquiteto uruguaio Rafael Viñoly, o terminal, inaugurado em outubro de 2009, tem um ousado formato de concha, com muito vidro e aço.
O novo aeroporto, por onde circulam, atualmente, cerca de 1,2 milhão de passageiros por ano, nasceu da necessidade de impulsionar o crescimento comercial e turístico da região. Com 400 m de extensão e 55 mil m², é cerca de duas vezes maior que o antigo e tem capacidade para receber cinco milhões de passageiros anuais. O investimento na obra foi de cerca de US$ 165 milhões.
A concepção do edifício enfatiza as áreas públicas e espaços de lazer, explorando ao máximo o aproveitamento da luz natural. Como exemplo, destaca-se o mezanino onde os passageiros desembarcam, com fachada de vidro, e o grande terraço público e restaurante, que ocupam o segundo andar, com vista para a pista. “O projeto de Rafael Vignoli sem dúvida é o grande destaque do terminal”, afirma o engenheiro Ricardo Macedo, então na Engevidros, empresa responsável pela instalação dos vidros. Considerado um dos mais belos do mundo, o aeroporto de Carrasco só perde nesse quesito para alguns asiáticos, avalia Macedo, que atualmente dirige a Hedron Engenharia.
O terminal recebeu 15 mil m² de diferentes tipos de vidro, todos fabricados no Brasil pela Cebrace e aplicados nas fachadas, inteiramente transparentes. “Foi uma obra absolutamente especial. As fachadas foram nomeadas de A a L e cada uma recebeu uma composição específica de vidros float laminados e duplo insulados.Cada fachada teve um projeto próprio, com caixilharia e vidros calculados individualmente”, informa Macedo. E acrescenta: “O diferencial do vidro, como sempre, foi integrar os diferentes ambientes, bem como os espaços interno e externo por meio da transparência e transmissão de luz/energia. E com vida eterna, característica única do material”.
AS DIVERSAS COMPOSIÇÕES DO VIDRO NAS FACHADAS INCLUÍRAM:
– Float duplo insulado composto de: laminado cinza 8mm (Incolor 4 + PVB Incolor 0,38 + PVB cinza6544 0,38 + incolor 4) + Câmara de ar de 20mm + laminado Incolor 8mm (Incolor 4mm + PVB incolor 0,76 + incolor 4mm)
– Float laminado = incolor 8 + PVB incolor 0,76+ incolor 8mm
– Float incolor temperado 10mm – Portas Manusa
Easy SOS
– Float duplo insulado composto de: laminado cinza 8mm (Incolor 4 + PVB incolor 0,38 + PVB cinza6544 0,38 + Incolor 4) + câmara de ar de 20mm + laminado incolor 8mm (incolor 4mm + PVB incolor 0,76 + incolor 4mm)
– Float laminado = temperado incolor 10 + PVB incolor 0,76 + temperado incolor 10mm
BARCELONA: proteção contra o sol
Um dos mais movimentados da Espanha, o Aeroporto El Platt, de Barcelona, ganhou em 2009 um novo terminal que ostenta mais de 85 mil m² de vidro em suas fachadas. A empresa responsável pelo projeto foi a CristalGlass, filial da Vitro na Europa. Considerado a maior obra de infra-estrutura da Catalunha nas últimas duas décadas, o novo terminal permitiu duplicar a capacidade e o volume do segundo maior aeroporto espanhol. “O aeroporto passou a contar com mais de 544 mil m² de superfície e perto de 12 mil vagas de estacionamento”, afirma o diretor de comunicação da Vitro, Albert Chico Smith.
Projetadas pelo arquiteto Ricardo Bofill, as obras para o novo terminal foram iniciadas em 2005 e receberam um investimento de 1,2 milhões de euros. Segundo Alberto Gómez, gerente de marketing da Vitro Cristalglass, a escolha do vidro foi alvo de um amplo estudo, em que foram consideradas as características da fachada, muito exposta ao sol e sem nenhum tipo de cobertura ou de lâminas que lhe proporcionassem sombra. “Essa característica levou à recomendação de um vidro de alta desempenho, que combinasse um fator solar reduzido e um baixo coeficiente de transmissão de calor”, explica.
A escolha final recaiu sobre uma composição de vidro duplo com um fator solar de 32% e um coeficiente de transmissão (U) de 1,3 W/ m²K, formado por um vidro de 12mm temperado no exterior (SOLARLUX® Supernatural 68 TEMPLEX®), uma câmara de ar de 16mm e um vidro interior MULTIPACT® AKUSTEX®, composto por dois vidros incolores de 6mm, com um tratamento acústico reforçado. “O conjunto de envidraçamento permite obter um isolamento acústico de 47 dB”, informa Gómez.
Para filtrar a luz solar, optou-se pela aplicação de serigrafia sobre o vidro exterior. “O desenho escolhido pela equipe foi o de riscas brancas, com uma espessura de 2mm, com diferentes porcentagens de revestimento do vidro, dependendo da localização exata da unidade de envidraçamento”, acrescenta o gerente. Nas instalações interiores do terminal, destaca-se o vidro temperado opacado de 12mm (TEMPLEX® PAK branco), para forrar os totens de ventilação.
Brasília: eficiência energética
Inaugurado em 1957, o aeroporto internacional Presidente Juscelino Kubitschek, de Brasília, passou por uma revisão e ampliação de seu projeto a partir de 1990. A projeção inicial da reforma era atender à demanda de 8 milhões de usuários por ano em 2008. Porém, já em 2000, esse número chegava à casa dos 6 milhões, exigindo adaptações do projeto. “As adequações visaram atender a uma demanda que cresce além do previsto, mantendo a transparência e o aproveitamento do potencial climático por meio de ventilação e iluminação naturais”, afirma o arquiteto Sérgio Parada, responsável pela reestruturação.
O projeto de reforma, ampliação e modernização otimizou a infra-estrutura existente e viabilizou a construção em etapas, sem provocar a interrupção das operações aéreas. Paineis pré-moldados de concreto aparente, até então utilizados apenas nas fachadas, foram adotados também nos vazios internos, que receberam passarelas de blocos de vidro em pontos específicos, projetadas para que a transposição se faça sem impedir a passagem da luz natural.
As alterações de projeto realizadas na quarta etapa não modificaram os conceitos originais do terminal. “A transparência e o aproveitamento do potencial climático foram mantidos como premissas. Com a utilização de recursos de ventilação e iluminação naturais nos saguões e no terraço panorâmico foi possível reduzir em cerca de 60% o consumo de energia”, ressalta o Sérgio Parada.
Para privilegiar a ventilação cruzada, na parte superior dos caixilhos e nos grandes sheds formados pela transposição das coberturas metálicas foram aplicadas venezianas fixas de vidro laminado incolor, com 14mm de espessura, 1.250mm de comprimento e 400mm de largura. “Essas chapas estão fixadas em perfis especiais extrudados, ancorados na estrutura metálica”, explica o arquiteto. “Para proteger a fachada da incidência solar direta foram adotados beirais e esquadrias inclinadas.”
As fachadas receberam caixilhos compostos por vidros de 14mm , laminados com duas películas de PVB e colados em perfis de alumínio com silicone structural glazing. Nas salas de embarque os vidros são fumê e no terraço panorâmico a escolha recaiu sobre vidros incolores.