Recentemente, uma grande discussão a respeito da proibição do uso dos vidros refletivos na cidade de Santos, no litoral de São Paulo, tem sido tema de grandes debates. O objetivo é evitar a morte de pássaros e preservar e valorizar o meio ambiente.
De acordo com a Lei complementar 988/2017 aprovada na cidade litorânea, fica vedada a utilização de superfícies contínuas de vidro que apresentem efeito refletivo, espelhado ou similar nas fachadas dos edifícios, excetuando-se as superfícies tratadas de modo a eliminar esse aspecto e condição.
A argumentação defende que a ave fica iludida com sua imagem refletida na fachada e acaba colidindo em pleno voo contra os vidros, o que, na maioria das vezes, provoca sua morte. Porém, o que tem sido discutido é que não houve nenhum estudo técnico que embasasse tal proibição medida.
Segundo a especificadora técnica da beneficiadora de vidros, Rebeca Andrade, os vidros mais refletivos aumentam os riscos de impacto das aves, pois estes perceberem a fachada como uma “continuidade do céu” e não identificam a barreira, causando a colisão e, consequentemente, a morte do animal.
“Tal condição, porém, não é uma ‘exclusividade’ do vidro refletivo. O vidro comum incolor em si já tem aproximadamente 10% de reflexão, ou seja, em um determinado ângulo de visão, dependendo da posição do Sol e da diferença de luminosidade do ambiente interno para o externo, a ave poderá ter a mesma impressão e se chocar contra o vidro”, explica.
Para a especialista, a proibição no uso de vidros refletivos deve ser feita por um estudo científico que determine o nível de reflexão máxima permitida. “Hoje, no mercado nacional, existem mais de 60 tipos de vidros refletivos, com nível de reflexão que varia de 10 a 35%”, ressalta.
O principal benefício desse tipo de vidro é a economia de energia elétrica com ar condicionado. Para Rebeca, “a não utilização de vidros de controle solar acarretaria um aumento de demanda de energia elétrica tão grande, que se pensarmos nisto em escala nacional, geraria a necessidade de construção de novas usinas hidrelétricas, gerando um impacto ambiental muito maior”.
Uma solução alternativa a essa característica do vidro altamente refletivo são os chamados vidros “low-e” (baixo emissivos), capazes de barrar os raios infravermelhos (que transmitem o calor e não são visíveis) e deixar passar mais os raios de luz visível. O resultado são vidros mais neutros, com menor reflexão, mas com o mesmo bloqueio de calor.
Rebeca alerta, entretanto, que “é preciso considerar que tais produtos têm valor superior e precisam ser comprados em maior quantidade. ”
Outra solução existente no mercado internacional para a questão dos pássaros, é a aplicação de um padrão de desenho nas fachadas que pode ser percebido pela visão do animal, impedindo a ilusão de óptica de inexistência de barreira física.
Para isto, seria necessário disponibilizar o produto no Brasil, através de parcerias com fabricantes. “Neste caso é preciso contar com o auxílio das fabricantes de vidro para o desenvolvimento dessa solução”, diz.
A necessidade iminente de proteger os animais, a flora e a fauna é cada vez mais importante no atual cenário, porém, os argumentos contra e a favor precisam ser analisados com calma e embasamento técnico, para que assim, tal lei tenha realmente efetividade e não acarrete problemas contrários.