Como avalia seu trabalho à frente da Abravidro?
É importante enfatizar que o trabalho não é meu, é de um grupo de empresários de todo o Brasil que compõem a Diretoria Executiva e o Conselho Deliberativo da Abravidro. Em conjunto, estruturamos as decisões, ações e prioridades de nossa entidade, de maneira a representar da melhor forma a percepção do mercado de diversas regiões do País. Como pregam as boas práticas de gestão, a condução da Abravidro passa por um processo contínuo de melhoria, desenvolvimento e expansão ao longo de suas várias administrações. Portanto, além de manter os trabalhos em andamento – o que já é bastante – o objetivo é implementar novas ideias de acordo com as demandas de mercado. Temos concentrado esforços no crescimento de mercado por meio de nossos canais de comunicação e do acompanhamento e produção de regulamentações para o setor, como as normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), e o Programa Nacional de Eficiência Energética em Edificações (Procel Edifica), entre outras.
Quais foram os principais avanços nos últimos três anos?
Tivemos conquistas importantes junto ao governo federal, como a desoneração da folha de pagamento e o aumento do imposto de importação de vidros laminados e temperados. Para apoiar esse trabalho, lançamos três edições anuais do Panorama Vidreiro, estabelecendo novos paradigmas para a avaliação de nosso mercado. Outra frente de trabalho visa ao aprimoramento do processo produtivo das indústrias de transformação, por meio de certificação de produtos e consultorias técnicas. Na parte institucional, aumentamos nossa representatividade, com a fundação de novas entidades vidreiras em Goiás e Espírito Santo e promovemos cursos e palestras em conjunto com nossas treze entidades regionais. Minha maior motivação para permanecer no cargo é verificar que o trabalho da Abravidro tem influência altamente positiva no dia a dia das empresas – a entidade consegue fazer a diferença no mercado.
Qual será o foco de atuação da Abravidro no próximo triênio?
A associação tem como objetivo proporcionar o desenvolvimento do setor com sustentabilidade, do ponto de vista econômico, político, ambiental e de segurança. Sempre em busca de maior equilíbrio do mercado, a Abravidro tem como foco atender as demandas da cadeia produtiva vidreira, por meio de ferramentas que promovam a interação entre os seus elos.
Como tem sido a atuação da Abravidro junto às associações regionais?
As entidades regionais são multiplicadoras das ações da Abravidro, ao mesmo tempo em que dão legitimidade às decisões da associação nacional, para que possamos representar a classe em todas as suas instâncias. Nossos posicionamentos são definidos pelo Conselho Deliberativo, formado pelos presidentes de cada regional. Portanto, vai continuar sendo um de nossos objetivos apoiar e fortalecer ainda mais esse grupo.
Quais os dados mais relevantes apontados pelo Panorama Vidreiro 2014?
O Panorama Vidreiro 2014 revela que o setor tem mantido uma tendência de crescimento, ainda que em velocidades diferentes ano a ano. É importante enfatizar a participação do mercado do vidro processado não automotivo, que foi de 52,8% em 2013, e o espaço que o mercado vidreiro tem para se desenvolver, não só em volume, mas principalmente em relação à especificação do produto.
Que perspectivas esses dados trazem ao setor?
A Abravidro tem enfatizado que o ano de 2013 foi um marco de transição, pois tivemos altíssimo volume de importações de matéria-prima e expressivo incremento de capacidade instalada de produção de float. Ocorre que os volumes de fornecimento ao mercado ainda não estavam estabilizados. Em 2014, já verificamos expressiva redução nas importações de atéria-prima e certa estagnação de mercado, resultado do desempenho dos principais setores ligados ao vidro: construção civil e indústria automotiva.
Como avalia o desempenho do setor vidreiro no último ano?
De maneira geral, o setor vidreiro teve um aumento relevante no consumo aparente per capita, da ordem de 12,9%. É importante enfatizar que o conceito de consumo aparente não considera a variação no volume dos estoques, fator de difícil mensuração. No entanto, nossa percepção é que fechamos 2013 com maior nível de estoques em relação ao ano anterior, tanto nas usinas de base como nos distribuidores e processadores. Se houvesse metodologia para essa apuração, é possível que esse percentual de crescimento de consumo fosse ligeiramente menor, mas ainda assim da ordem dos dois dígitos, excelente desempenho comparado ao conjunto da economia brasileira. Na avaliação por segmento, verificamos que a participação de mercado do temperado é hegemônica entre os vidros processados, respondendo por praticamente 1/3 de todo o vidro consumido no País. Vale ressaltar alguns números que podem parecer insignificantes, mas revelam tendências: os vidros insulados saíram de 0,3% de participação em 2012 para 0,4% em 2014. Em quatro anos, os vidros laminados avançaram de 6% para 8% de participação do mercado.
O que representa o aumento de quase 13% do consumo de vidro?
Esse crescimento está muito atrelado ao desempenho da economia brasileira. Quando analisamos uma série histórica mais ampla, percebemos que o nosso setor cresce numa velocidade média acima do dobro do Produto Interno Bruto (PIB) do País. Esse número mostra que o mercado vidreiro está amadurecido, pois em pouco tempo o consumo aparente per capita atingiu quase 10 kg. Ao mesmo tempo, esse resultado indica que temos espaço para evoluir muito nos próximos anos, tanto pelo aumento do uso do material quanto pelo tipo de vidro aplicado, que tende a ter maior valor agregado.
Quais as principais causas dos recordes de importação do vidro float apontados pelo levantamento?
As usinas entrantes fabricantes de vidro float tiveram suas operações comerciais aceleradas no Brasil durante 2013, majoritariamente com produto importado. Portanto, o recorde de importação do produto foi em grande parte resultado da chegada dessas novas empresas. Espera-se para 2014 uma queda acentuada nesse volume de importação devido a duas variáveis associadas: as linhas da AGC e da Vivix já estão em produção plena e os efeitos da recente medida antidumping anunciada em julho deste ano, com validade de seis meses.
Como a Abravidro se posiciona em relação a essas medidas?
A Abravidro está acompanhando todo o processo desde o seu início, em julho de 2013. A decisão de seu conselho deliberativo foi de que devemos apoiar a aplicação de sobretaxa antidumping apenas à China e não às demais origens investigadas (Arábia Saudita, Egito, Emirados Árabes, Estados Unidos e México). O entendimento é que, por não se tratar de uma economia livre, os vidros importados da China geram desequilíbrio de mercado, enquanto as demais representam opção adicional de fornecimento de produto. Infelizmente, pelo que se viu até o momento, a avaliação do governo foi diferente da nossa, e o antidumping provisório foi aplicado não apenas para a China, mas para todas as origens investigadas.
Qual a importância das ações da Abravidro nesse contexto de desaceleração das importações de vidro processado?
A Abravidro tem estudado a fundo as importações de vidros processados nos últimos anos, em especial o temperado e laminado. Nota-se uma grande exposição destes produtos à especulação do mercado internacional, mas, infelizmente, o histórico dos números dos últimos cinco anos favorece condições para que sejam pleiteadas as principais medidas de defesa comercial, como um processo de investigação antidumping, por exemplo. Como tenho dito, o governo ministra remédios e não vacinas, ou seja, não atua na prevenção do problema, mas quando ele já está instalado. Ainda assim, a Abravidro tem buscado alternativas e obtido vitórias importantes.
Em 2014, a capacidade nominal de produção de vidros planos no Brasil é superior ao dobro da de 2008. Acredita que pode haver risco de produção excedente?
Excedente, não. O que deve acontecer é uma redução importante no volume das importações de matéria- -prima, influenciada pelo aumento da produção interna e também pela aplicação, ainda que provisória, da ação antidumping.
O ‘Panorama Vidreiro 2014’ aponta um sensível aumento no número de empresas atuantes no processamento do vidro plano. Qual o impacto do aumento de processadores para a cadeia vidreira?
Como tudo que se organiza em cadeia, o desenvolvimento de um elo tem de ser seguido por todos os componentes do ciclo. A indústria processadora de vidros no Brasil é uma das que mais investem em tecnologia no mundo. É com satisfação que notamos os investimentos da indústria de base sendo seguidos pela indústria de processamento, mantendo plenas condições para que o material chegue ao consumidor final transformado pela própria indústria nacional. Outro aspecto positivo é que esse processo não se limita aos grandes centros, mas alcança as regiões mais distantes do País.
Como avalia o mercado de vidros laminados no Brasil?
É um mercado que tem crescido em uma velocidade muito alta e que tende a continuar evoluindo, à medida que inclui vidros de controle solar, que combinam – além da segurança – eficiência energética e conforto aos usuários.
E quanto aos temperados?
O temperado é o vidro processado mais consumido do Brasil, responsável por mais de 32% de participação no mercado, com muito espaço para crescer em decorrência da pulverização da indústria de processamento