Da engenharia para o mercado vidreiro. Em entrevista à Vidro Impresso, o presidente da Associação Nacional de Vidraçarias (Anavidro), José Joaquim Miguel, conta como foi o início da sua carreira no mercado, as dificuldades na montagem da associação e como tem feito para atrair os pequenos vidraceiros. Miguel também relata um dos sonhos da categoria: a formação de consórcios para grandes obras. Acompanhe a entrevista:
Vidro Impresso – Quando decidiu trabalhar no setor vidreiro?
José Joaquim Miguel – Na época, estudava engenharia e trabalhava com meu pai em um restaurante português, mas não queria continuar nesse ramo. Em 1975, peguei uma página amarela e montei uma empresa virtual para analisar o mercado. Ligava para as empresas de vidro, que comercializavam no atacado, para saber quanto custava uma chapa, e depois para as que vendiam o material colocado.
A margem de lucro era grande e me empolguei. Resolvi montar uma vidraçaria com apenas um funcionário. Saía para vender, ajudava a colocar o vidro e fui crescendo. Essa empresa chamava-se Tecnividros. Em 1989, comprei a Ferbeco, que depois se tornou a Polividros. Nela, começamos atendendo desde construtoras até o cliente final. Atualmente, temos 50 colaboradores.
VI – Como era o mercado naquele período?
Miguel – Os proprietários das empresas tinham forte conhecimento do produto, mas poucos possuíam carreira administrativa. Porém, isso foi mudando: começaram a entrar novos profissionais no segmento e o perfil do trabalho se modificou. Existia também o monopólio de vidro. O fabricante Santa Marina vendia cotas por um absurdo. No Brasil, havia poucos distribuidores, era um cartel. O vidro importado era muito raro. A partir de 1980 isso acabou; começaram a entrar mais vidros, mais
fábricas, aumentaram a concorrência, a importação e hoje não existe mais cota.
VI – A partir de que momento, sentiu que os vidraceiros deveriam se unir?
Miguel – Comecei a participar de viagens e reuniões. A primeira viagem que fiz foi para a Alemanha, em 1978. E vi um mundo totalmente diferente, um outro
universo do vidro. Encontrava mais organização e união entre os vidraceiros. Nessa época, já havia uma semente dessa necessidade de união, mas era uma
observação única e não compartilhei com ninguém. Apenas em 2005 nos reunimos no sindicato da categoria para formar uma associação, mas não deu
certo. Passamos a interagir por telefone com os colegas e marcamos uma nova reunião. Foi quando montamos a Associação de Vidraçarias do Estado de
São Paulo (Avesp), em 2006.
VI – Quando nasceu a Anavidro e quais seus objetivos?
Miguel – A Avesp foi montada apenas para o Estado de São Paulo. Um ano após, em 2007, a diretoria resolveu que a associação seria nacional, porque fomos bem recebidos, tivemos boa aceitação no mercado. Sendo nacional, já como Anavidro, estamos em oito estados.
Representamos uma categoria de 40 mil vidraçarias, que agregam em torno de 400 mil trabalhadores. Nosso objetivo é melhorar o acesso aos conhecimentos técnicos, normas de produtos e segurança e, assim, buscar a profissionalização da classe. Além disso, lutamos pela valorização e maior respeito do mercado. Formatamos cursos, treinamentos e reuniões.
VI – Existe certa resistência por parte dos vidraceiros em procurar a associação? Como fazer para atraí-los?
Miguel – Até existe, por falta de conhecimento. Eles acham que não vai funcionar. Mas a partir do momento em que participam, melhora um pouco. Quem abraçou melhor nossas ideias foram as vidraçarias maiores porque sabem o que vale a união. Infelizmente, os menores não.
Para atingi-los, estamos com um programa de porta a porta. Mas também sabemos o grau de dificuldade que eles têm porque o pequeno vidraceiro é o proprietário, é o trabalhador e o instalador. Por isso, às vezes, não sobra tempo.