Reafirmar seu papel como agente agregador de toda a cadeia produtiva do alumínio, promovendo interação e diálogo entre os segmentos com os quais tem mais afinidade, figura entre as principais missões da Afeal – Associação Nacional de Fabricantes de Esquadrias de Alumínio – fundada em 1983, com a missão de promover ações de valorização da qualidade das esquadrias de alumínio.
Reunindo fabricantes de esquadrias, sistemas, acessórios e componentes, além de players dos segmentos de máquinas, equipamentos, anodização e pintura, silicones e vedantes, e vidros, a Afeal empenha-se no intercâmbio de conhecimento técnico entre seus parceiros de todo o Brasil, e é com esse objetivo que o executivo Fernando Rosa encara seu trabalho à frente da gerência geral da entidade. Em entrevista a Vidro Impresso, Rosa compartilha sua avaliação sobre o desempenho do segmento de esquadrias de alumínio, que, embora tenha assinalado uma fase de transição em seu ritmo de crescimento em 2014, vem evoluindo de forma consistente na última década, tendo chegado a apresentar índice de crescimento de 28% em 2010. Rosa ressalta a importância do conjunto formado por vidros e esquadrias no desempenho termoacústico das janelas e fachadas modernas e aponta a NBR 15575, norma de desempenho em vigor desde julho de 2013, como um divisor de águas para toda a construção civil nacional.
Fale um pouco de sua trajetória profissional.
Minha primeira formação em nível superior foi Educação Física. Nos anos em que atuei nesta área desenvolvi habilidades que potencializaram meu desempenho em liderança e coordenação de equipes. Na sequência, formei-me em Administração de Empresas. O conhecimento adquirido foi fundamental para compreender as complexidades das organizações e a importância do planejamento, da direção e do controle dentro de uma empresa. Depois conclui o MBA em Marketing pela PUC-SP, que ampliou minha visão organizacional e meu pensamento estratégico. Entender o cliente é fundamental para a entrega de valor, seja de um produto ou serviço. Antes de ingressar na AFEAL, desenvolvi atividades na Eletropaulo, Pirelli, Zoomp e Saint-Gobain Abrasivos.
Qual tem sido o foco de sua atuação na Afeal e quais os principais objetivos para os próximos anos?
Trabalhar no sentido de garantir o reconhecimento da AFEAL como representante do setor de esquadrias de alumínio e entidade agregadora de toda cadeia produtiva. Em 2010 a AFEAL estabeleceu em seu planejamento estratégico os pilares de sua atuação, com 30 objetivos e mais de 100 ações. No segundo semestre deste ano o planejamento será revisto, estabelecendo as diretrizes para o período de 2016-2020. Entendo que as diretrizes devem apontar para a valorização das esquadrias de alumínio junto à sociedade. Precisamos disseminar a informação e conscientizar o consumidor para a compra correta. Comprar produtos que atendam as normas.
Como avalia as perspectivas para o setor no atual cenário econômico?
O setor de esquadrias e fachadas de alumínio apresentou crescimento médio de 6% a 7% ao ano, desde 2008. Em 2010, esse índice chegou a 28%. Já no ano passado, cresceu apenas 3%, mas com base em patamares elevados. Em 2015, o Brasil deverá ajustar sua economia e fazer as necessárias reformas estruturais, para voltar a crescer e se tornar competitivo no cenário internacional. Mas, somos otimistas, afinal o setor da construção civil – segundo estudo divulgado no 11º Construbusiness da Fiesp – deverá atender demanda, no período de 2015 a 2022, de 9.154.580 moradias (novas famílias). Se considerarmos a redução de coabitação e eliminação da precariedade o número estimado é de 11.584.093 moradias.
Quais os principais gargalos para o setor e como superá-los, sobretudo quanto à qualificação da mão de obra?
A AFEAL mantém, há anos, cursos de qualificação de mão de obra em parceria com o Senai. Além disso, a associação inaugurou, em setembro passado, a Unidade Móvel em Soluções Construtivas em Alumínio, projeto desenvolvido com a Fiesp/Senai, que já percorre o interior do Estado de São Paulo, formando mão de obra. Nos últimos dois anos, 1.555 alunos participaram de iniciativas promovidas pela AFEAL.
Quais as contribuições do alumínio na busca crescente por sustentabilidade na construção civil?
Apesar de requerer grande quantidade de energia para ser produzido, o alumínio tem longa vida útil, o que faz dele um material sustentável. Além disso, é integramente reciclável. No Brasil, observa-se o fortalecimento, nos últimos anos, do mercado de reciclagem de sucata de alumínio – o metal ‘verde’ -, processo que consome 20 vezes menos energia e atende mercados como o das esquadrias. As indústrias de esquadrias têm duas opções de destinação da sucata, a começar pelo envio do alumínio que sobra da produção para as extrusoras, que fazem a transformação e devolvem perfis novos para os fabricantes, cobrando apenas a mão de obra. Outra solução é vender diretamente para a indústria da reciclagem de alumínio. Até a limalha é aproveitada e reciclada.
Como tem sido a demanda de esquadrias de alumínio em comparação com outras opções? Quais as razões?
A AFEAL investiu no mapeamento e dimensionamento do mercado de esquadrias, que apontou para uma produção, em 2012, de 9.930 milhões de esquadrias de alumínio (portas, janelas e vãos de fachadas). Esse número representa 21,6% de share, contra 45,3% das esquadrias de aço, 31,1% de esquadrias de madeira e 2% de PVC. Entendo que o setor de esquadrias de alumínio paulatinamente ganhará mercado de outros materiais, por seu desempenho e atendimento dos requisitos termo-acústicos, pela sustentabilidade e vida útil de nossos produtos. No setor de esquadrias de alumínio, temos algumas novas oportunidades como o retrofit e produção de energia solar e fotovoltaica. São oportunidades reais para as empresas do setor ampliarem sua participação de mercado.
O que distingue as esquadrias especiais das padronizadas? No quesito qualidade, como avalia a evolução desses dois produtos nos últimos anos?
No caso das esquadrias especiais, ao projetar um edifício comercial, residencial, industrial ou institucional, o arquiteto define os vãos e o tipo de esquadria. A construtora contrata uma empresa fabricante, envolvendo as etapas de projeto dos caixilhos, produção e instalação, de acordo com as necessidades/especificações arquitetônicas e construtivas. Já as esquadrias padronizadas são produzidas em escala, obedecendo a diversos modelos, de acordo com catálogo de cada fabricante. Sua distribuição ocorre por meio das lojas de materiais de construção e redes de home-centers. Ou, ainda, podem ser adquiridas pelas construtoras, principalmente de edifícios residenciais. O PSQ – Programa Setorial da Qualidade das Esquadrias de Alumínio, vinculado ao PBQP-H, foi criado em 2001 na AFEAL, reunindo fabricantes de esquadrias padronizadas – mais tarde, as indústrias de especiais também foram integradas. O programa é de grande importância para melhoria da qualidade dos produtos, exigindo fabricação de acordo com as normas técnicas que, por sua vez, são permanentemente atualizadas.
Que contribuições as esquadrias de alumínio têm a oferecer em relação ao isolamento termo-acústico das edificações?
O grande avanço virá com a entrada em vigor, em breve, da parte 4 da ABNT NBR 10821 – Esquadrias Externas para Edificações – que trata do desempenho acústico e térmico das janelas e portas. A norma virá acompanhada do Selo de Desempenho Acústico das Esquadrias, que servirá de orientação ao construtor e ao consumidor, para que a esquadria possa ser especificada quanto à capacidade de atendimento do sistema (parede + esquadria), previsto na ABNT NBR 15575 – Desempenho das Edificações. As esquadrias de alumínio, em virtude dos componentes e materiais aplicados em sua produção, podem oferecer desempenho acústico e térmico para as mais variadas exigências.
Qual o diferencial das esquadrias de alumínio na instalação de vidros laminados de segurança e insulados?
A opção por vidros laminados ou duplos insulados é feita por critérios de segurança, inclusive estabelecidos em normas técnicas, ou sob o aspecto da redução acústica e térmica. Existe uma grande variedade de esquadrias de alumínio (sistemas e perfis) que oferecem um melhor acoplamento dos vidros, garantindo segurança e desempenho (acústico, térmico, luminítico, estrutural, estanqueidade, etc). Para o isolamento acústico das fachadas, a especificação do vidro vai depender do tipo de atenuação requerida em projeto. Há casos em que a simples espessura do vidro resolve, mas outros pedem um laminado. A excelência é obtida com vidros duplos insulados, constituídos por laminados, de preferência com chapas de espessuras diferentes entre si. Essa solução alcança também a necessidade de redução térmica no ambiente, além de alta transmissão luminosa com baixa reflexão.
Quais os riscos da instalação incorreta de vidros de alto desempenho? Quais os procedimentos incorretos mais comuns e como evitá-los?
Não restringiria a resposta apenas à instalação de vidros de alto desempenho, mas de forma mais abrangente. A correta especificação e instalação possibilita o melhor aproveitamento das qualidades do produto, garantindo o desempenho e a segurança. Portanto é necessária a preocupação com a instalação de calços perimetrais, a correta especificação das folgas para que seja possível a dilatação dos vidros, a instalação observando a posição correta da face externa do vidro, entre outros. A correta instalação proporcionará uma maior vida útil do conjunto esquadria/vidro.
Em prédios residenciais com varanda e guarda-corpos, é cada vez mais frequente o fechamento com vidros. Como a nova norma para envidraçamento de varanda tem sanado equívocos nesse campo?
O desenvolvimento da norma NBR 16259 – Sistemas de envidraçamento de sacadas — Requisitos e métodos de ensaio tomou como base a norma ABNT NBR 10821 – Esquadrias Externas para Edificações, a principal norma do setor de esquadrias. Desta forma o fechamento de varanda deverá atender os requisitos da NBR 10821, quanto a resistência às pressões de vento de acordo com a região em que será instalada, quanto a resistência de manuseio (abertura e fechamento) e acabamento de superfície (anodização e pintura). Outro ponto de destaque é que antes do advento da norma de envidraçamento de varanda, muitos fechamentos eram aplicados sobre os guarda-corpos. Esta prática não era indicada, pois os guarda-corpos não haviam sido projetados para absorver as cargas provenientes do fechamento.
Qual a importância do consultor de esquadrias para o desenvolvimento de um projeto e acompanhamento da instalação?
O consultor de esquadrias assessora os arquitetos e as construtoras para a correta especificação das esquadrias. Em alguns casos acompanha o processo de produção e instalação e recomenda a realização de testes laboratoriais para verificação de conformidade. O consultor trabalha na equalização das propostas para que seja escolhida a melhor solução técnica para a obra.
A NBR 15575 institucionaliza exigências que prometem revolucionar o setor da construção civil no Brasil. Quais são as principais mudanças e impactos sobre os diversos setores ligados à construção?
Ao contrário das normas tradicionais que prescrevem características dos produtos, a NBR 15575 foca no desempenho dos diferentes elementos da construção, independente dos materiais que os constituem. Acredito que esta norma é um marco no setor da construção, pois estabelece parâmetros objetivos e quantitativos. A mudança principal é postura, ou seja, os atores deverão assumir a responsabilidade de utilizar e fornecer produtos que atendam a norma de desempenho garantindo a vida útil do projeto/produto.
Segundo a OMS, a poluição sonora só perde para a poluição da água e do ar. Qual o papel do vidro e dos sistemas de fachada para atenuação sonora?
Para que o máximo de conforto acústico seja obtido, é necessário que esquadrias, vidros, ar-condicionado, iluminação, acústica e interiores sejam compatíveis entre si. Os sistemas de fachadas são componentes construtivos complexos, compostos por perfis, vidros, ferragens, selantes, fitas vedadoras, elementos de fixação entre outros. O melhor desempenho acústico é resultante da correta especificação de materiais, da localização do empreendimento em relação às fontes de geração de ruído e o nível de exigência acústica. Os sistemas de fachadas com vidros duplos e laminados propiciam uma boa performance para atenuação acústica.
De que forma esquadrias e caixilhos de alumínio influem no desempenho térmico e acústico das edificações?
O desempenho térmico e acústico dos ambientes decorre diretamente da capacidade das fachadas – entendidas aqui como a somatória da alvenaria + esquadrias – de conter o ruído e o calor excessivo do lado de fora da edificação. As esquadrias de alumínio são dotadas de melhores condições de isolamento termoacústico quando produzidas em conformidade com as normas técnicas, especialmente a ABNT NBR 10821.
Do ponto de vista estético, quais as vantagens das esquadrias e fachadas de alumínio?
As esquadrias e fachadas de alumínio estão presentes em edifícios de arquitetura contemporânea, de linhas retas e limpas. Conferem sofisticação às fachadas e internamente aos ambientes. O tratamento de superfície (pintura eletrostática a pó ou anodização), feito por indústrias especializadas, oferece uma ampla gama de cores. A anodização é sistema consagrado pelo mercado brasileiro de arquitetura, que vem usufruindo a possibilidade de utilizar cores, como bronze, prata e dourado.
Como avalia a importância de parcerias entre os setores do vidro e de esquadrias de alumínio? A Afeal desenvolve alguma ação no sentido de fortalecer essa parceria?
Os setores são muito próximos, a sinergia de objetivos e propósitos colabora com esta aproximação. Destaco novamente o planejamento estratégico da AFEAL que estabeleceu, em 2010, como um de seus objetivos a interação com entidades do segmento em âmbito nacional e internacional. A participação em eventos de conteúdo, comitês de estudos de normas e pesquisas de mercado, são exemplos desta interação. Posso citar o estreito relacionamento da AFEAL com a Abividro, Abravidro e Anavidro. Como o vidro tem um papel fundamental do desempenho de nossos produtos, acredito que os setores do vidro e das esquadrias de alumínio deverão investir em uma campanha visando valorizar nossos produtos junto a sociedade.