Vidro e alumínio. A aplicação adequada de dois elementos que juntos desempenham papel chave, na arquitetura moderna como um todo e na composição de fachadas de forma específica, constitui o DNA da carreira do engenheiro Nelson Firmino, consultor que se tornou famoso no setor da construção civil por sua expertise em esquadrias e fachadas envidraçadas. Com uma bagagem que acumula mais de três décadas de experiência em empresas de peso do setor do alumínio, Alcan e Alcoa, Firmino sempre teve sua atuação profissional ligada ao desenvolvimento de produtos, especialmente para a construção civil. Em 1990, o engenheiro, que também se formou em pedagogia, deixou as grandes corporações para se dedicar exclusivamente à atividade de consultor, intuito que o levou a fundar a Aluparts, empresa de consultoria que hoje comanda em parceria com sua filha, a arquiteta Audrey Dias. Especializada no desenvolvimento de projetos de fachadas e esquadrias, a Aluparts dedica-se à especificação técnica de cada detalhe construtivo de uma edificação, garantindo a utilização correta de materiais cuja tecnologia evolui de forma alucinante, em uma corrida que busca acompanhar a ousadia criativa dos profissionais que atuam nesse mercado. Em entrevista a Vidro Impresso, Nelson Firmino conta os caminhos que o levaram a se especializar nessa área e ressalta a importância de cada elo dessa imensa cadeia que garante a concretização de projetos com fachadas envidraçadas cada vez mais belas e tecnológicas.
– Fale um pouco sobre sua experiência profissional.
Foram 30 anos de experiência nas empresas Alcan e Alcoa. Sempre ligado ao desenvolvimento de produtos para vários segmentos. Entre eles, destaco o setor de transporte e principalmente o da construção civil. Formado em engenharia e pedagogia, procurei interagir com as duas áreas e fui professor na Universidade Brás Cubas por 10 anos. Em 1983 lecionei na Concordia University, em Montreal – Canadá. Sendo o alumínio um material novo no Brasil, começaram a surgir oportunidades de desenvolvimento em diferentes áreas. Na década de 60 os edifícios utilizavam caixilhos de ferro e os arquitetos começavam a criar projetos com fachadas especiais que não podíamos atender com o sistema antigo, sendo necessário o estudo de produtos com o alumínio.
– O que o levou à criação da Aluparts? Como define a atuação e especialidades da empresa?
A Aluparts foi criada em 1990 com o objetivo de elaborar projetos de esquadrias e fachadas e prestar consultoria técnica às construtoras, escritórios de arquitetura, entidades do setor e serralheiros. O mercado necessita de projetos detalhados que definam o produto a ser aplicado, levando em consideração a segurança, o desempenho, a resistência e sem dúvida a beleza.
– De que forma a empresa desenvolve soluções específicas para cada projeto?
Todo projeto é um novo desafio. Iniciamos com um estudo preliminar, baseado nas definições dos arquitetos. Uma vez verificado que corresponde às expectativas, partimos para o projeto definitivo que abrange o detalhamento dos itens pertinentes ao fornecimento das fachadas. As fachadas têm merecido atenção especial, devem dar destaque ao edifício e ter plenas condições de sustentabilidade.
– Quais têm sido as principais contribuições do vidro na arquitetura moderna? Quais as inovações que o fizeram ganhar mais espaço nos projetos?
Nos últimos dez anos o vidro é o produto que mais evoluiu em tecnologia. Esse avanço não só intensificou seu uso, como também conferiu ousadia e novas possibilidades aos projetos. Os vidros de hoje têm alta resistência, conferem segurança, permitem maior conforto térmico e acústico aos projetos. Novos acabamentos, tipos, cores e dimensões de chapas têm permitido a ampliação da criatividade.
– Os vidros laminados de temperados têm se mostrado uma escolha cada vez mais comum entre arquitetos e demais especificadores. Por quê? Quais as vantagens de seu uso e para qual perfil de projeto e tipo de aplicação são mais indicados?
Sempre que buscamos a qualidade estrutural é necessário aproveitar ao máximo as propriedades mecânicas do vidro temperado. Entretanto, considerando que pode haver uma quebra espontânea, faz-se o uso do laminado de temperado. Guarda-corpos sem montantes, fachadas com pilares de vidro, piscinas, pisos, escadas, spiders são algumas aplicações que exigem que o vidro seja laminado de temperados.
– Qual a importância da realização de testes com vidros temperados? Por que algumas vezes esses vidros se rompem depois de instalados?
Os testes do vidro temperado são extremamente importantes e são feitos segundo a norma ABNT NBR 14.698. É com base nessa norma que os temperadores conquistam o selo de certificação emitido pelo Inmetro. Essa certificação é a garantia de que os vidros produzidos atendem a todos os requisitos normativos. Quando temperados, os vidros armazenam energia, que, ao ser liberada, pode ocasionar sua a ruptura espontânea. O vidro temperado, quando instalado acima do pavimento térreo, deve ser também laminado para prevenir acidentes.
– O papel do consultor de fachadas tem-se tornado imprescindível em projetos arquitetônicos mais arrojados e complexos. Qual a importância desse profissional em cada etapa do projeto?
O consultor de fachadas é o responsável pela definição e desempenho do sistema a ser utilizado nas fachadas e caixilhos. As especificações do consultor envolvem desde a recomendação do vidro até a definição dos perfis de alumínio, tipos de ancoragens, fixações, acabamentos e componentes, tanto das fachadas como dos revestimentos em ACM.
– Como descreve a importância de arquitetos e projetistas conhecerem a fundo as características técnicas do material que será aplicado?
O conhecimento dos materiais pelos arquitetos lhes possibilita desenvolver a criatividade. A evolução tecnológica dos sistemas de fachadas incorpora tendências mundiais que buscam a responsabilidade ecológica, incorporando o conceito de sustentabilidade aos empreendimentos.
– Que fatores devem ser levados em conta na hora da escolha do material e do sistema e demais soluções a serem empregadas em uma fachada?
A escolha deve ser adequada ao que se pretende: padrão do empreendimento, consumidor alvo, desempenho acústico e térmico, economia e conforto são itens valiosos. Temos visto arquitetos buscando constantemente alternativas para que seu projeto de edificação impacte o mínimo possível no meio ambiente.
– O uso do vidro em fachadas, especialmente as estruturais, é uma tendência crescente da arquitetura, porém ainda muito menos explorada do que poderia, especialmente no Brasil. Quais os caminhos para o uso mais amplo e criativo do vidro no País?
Vidros estruturais conferem resistência e transparência à edificação. Geralmente aplica-se o laminado de temperado. Na laminação é conveniente aplicar a película Sentry Glass. Essa película também é estrutural, aumentando a resistência dos vidros.
– Quais considera as mais avançadas tecnologias hoje no campo dos vidros planos? E no das esquadrias?
O avanço na tecnologia permitiu o desenvolvimento de vidros de alto desempenho, como os de controle solar e acústico. Grande novidade são os vidros autolimpantes e os com característica fotovoltaica. Os vidros que possam economizar e armanezar energia serão destaques nesta década. Os vidros mais usados em fachadas e coberturas são os de controle solar, pois têm a função de filtrar os raios solares por meio da reflexão da radiação. Isso faz deles grandes aliados do conforto ambiental e da eficiência energética nas edificações, pois permitem uma redução do uso de ar-condicionado, refletindo em um menor consumo de energia elétrica.
– Quais os tipos de vidro mais usados e recomendados para fachadas?
Sendo o Brasil um país de grandes dimensões e climas diversos, pode impor-se o uso de vidros que deixem o calor para fora da fachada. Já em estados do Sul, muitas edificações precisam conservar o calor interno. O vidro duplo insulado tem sido ótima solução. Possibilita conforto e evita a troca constante da temperatura no interior da edificação. Ainda no campo de controle solar, uma tendência que está sendo muito utilizada em fachadas são os vidros de baixa reflexão e alto desempenho, os chamados seletivos. Eles possibilitam a redução da entrada de calor no ambiente, ao mesmo tempo em que controlam a transmissão luminosa, com uma reflexão bem reduzida.
– Quais as soluções mais apropriadas atualmente, em sistemas de esquadrias e fachadas, para melhorar o desempenho acústico das edificações?
Conforto acústico tem sido requerido em todas as edificações de alto padrão. Nos sistemas de esquadrias temos recomendado perfis com preenchimento de lã mineral. As edificações devem ser compartimentadas, com isolamento entre unidades e entre pavimentos.
– Entre os projetos com vidro em que esteve envolvido, qual o seu preferido?
Cada projeto tem sua particularidade. Destacamos as fachadas do Fórum Trabalhista Ruy Barbosa, em São Paulo, pois se tratou de um projeto complexo, em que as fachadas são instaladas sobre estruturas espaciais, tendo os vidros grande movimentação. Temos dois blocos ligados pelo sistema envidraçado.