Estrutura de vidro e aço

Estrutura de vidro e aço

Capa: Estrutura de vidro e aço

Um gigante escultural de mais de 40 m de altura, 190 m de comprimento e 90 m de largura, erguido a partir de uma harmoniosa conjugação de vidro, aço e concreto. Assim se define o imponente projeto arquitetônico do Musée des Confluences (Museu das Confluências), centro de ciências inaugurado em Lyon, na França, no final do ano passado. Marcado por uma arquitetura lúdica, que remete a imagens tão variadas quanto permitir a imaginação de cada um, o museu recebeu esse nome por estar situado exatamente na região onde as águas dos rios Ródano e Saône se encontram, no sudeste da cidade. “Mais do que um museu voltado a um público restrito e elitizado, o Musée des Confluences entende-se por um espaço democrático, uma porta de entrada para o conhecimento de nosso tempo”, define o arquiteto Wolf Prix, diretor do projeto assinado pelo escritório austríaco Coop Himmelblau.

 

 

As aberturas garantem vista privilegiadas para um belo espetáculo natural à confluência dos rios Ródano e Saône

 

A característica principal do “Cristal” é definida por sua estrutura em vidro e aço, que assume o aspecto de um bloco cristalino, a partir do qual um cone transparente desce da parte superior da cobertura até o chão

 

 

Cobrindo um terreno de mais de 21 mil m2, rodeado por ampla área de recreação urbana, o espaço cultural é destinado a múltiplas funções e ganhou particular notoriedade por seu arrojado design, que pode transformá-lo em um novo símbolo arquitetônico da cidade para o século XXI. A proposta combina em uma mesma edificação dois formatos diametralmente opostos: o de uma nuvem e o de um cristal. “A ideia foi estabelecer um contraste entre dois volumes principais, um de característica mais rígida, com formas mais retas, e outro fluido, maleável e orgânico”, descreve o arquiteto.

 

A complexa engenharia da edificação ficou a cargo da Josef Gartner, subsidiária francesa do Grupo Permasteelisa e responsável pela execução tanto da fachada de vidro como das estruturas de aço do envelopamento do museu. As formas livres desenhadas por Prix deram ao edifício um aspecto de nave espacial, e, segundo os engenheiros da empresa, demandaram grandes esforços e ampla expertise tecnológica. “A estrutura que forma o cristal, por exemplo, é subdivida em 32 áreas com diferentes inclinações”, afirmam os profissionais da Gartner. “Esse funil de vidro e aço de 36 m de altura foi parcialmente construído com painéis de vidro curvo dobrados. As unidades de vidro curvo são suportadas horizontalmente apenas por um sistema de envidraçamento estrutural e foram formatadas por modelos tridimensionais projetados por computação gráfica.”

 

O desenho em forma de cristal na entrada do museu desempenha, segundo Prix, a função de preparar os visitantes para o que virá pela frente. A característica principal desse volume é definida por sua estrutura em vidro e aço, que assume o aspecto de um bloco cristalino, a partir do qual se ergue um cone transparente, descendo da parte superior da cobertura até o chão. Revestida por painéis opacos, a estrutura em forma de nuvem que comporta as diversas salas de exposição chega a ser ainda mais imponente e futurística, fazendo lembrar uma nave espacial. Onze aberturas de vidro foram estrategicamente posicionadas para promover entrada de luz nas áreas abrigadas pela “nuvem”.

 

Geometria desafiadora

 

Um dos grandes desafios impostos pelo design arquitetônico de Wolf Prix foi a execução do cone envidraçado que corta o “Cristal” de cima a baixo, apelidado de “Poço da Gravidade”. Sua sustentação exigiu 160 pontos especiais de conexão entre as unidades de vidro curvo e a estrutura de sustentação, composta por mais de 650 toneladas de aço. “Desenvolvemos uma solução elegante e inovadora para a conexão entre os painéis: os parafusos são embutidos no tubo de aço e suas cabeças estão alguns milímetros rebaixadas e soldadas dentro do tubo”, afirma o engenheiro Stephane Bedel, gerente geral da Permasteelisa na França.

 

A superfície do “Cristal” soma mais de 3,5 mil m2 de vidro, e inclui aproximadamente 2 mil chapas do material. O processo que envolveu o projeto e a aplicação dos vidros que revestem o cone também foi bastante complexo. Os painéis apresentam diferentes níveis de curvatura, sendo os 4 primeiros, situados na parte inferior, próximos à extremidade do cone, caracterizados por um raio de curvatura de apenas 500 mm. “Esfericamente moldadas, as chapas tiveram de ser especialmente fabricadas para esse revestimento do ‘cristal’, e suas curvas aproximam-se dos limites tecnicamente viáveis”, comenta Bedel. Os painéis de grande dimensão, com bordas de mais de 4,5 m de comprimento, tiveram de ser fabricados, moldados e curvados a quente inúmeras vezes, para que as bordas pudessem então ser cortadas nas dimensões exatas e encaixadas à estrutura com milimétrica precisão.

 

Fornecidos pela AGC, os vidros duplos são formados por chapas de alto desempenho e com propriedades especiais anticondensação, das linhas Stopray Clearvision e Planibel Energy. As estruturas de aço primária e secundária totalizam uma área envidraçada de mais de 3,5 mil m2. As unidades insuladas são compostas por chapas laminadas de segurança, com 1,53 de PVB intercalar. A espessura individual dos panos de vidro temperado varia entre 8, 10 e 12 mm, de acordo com a dimensão das peças e a carga de ventos que precisam suportar. Nos cones, os vidros curvos também são duplos, compostos por vidro float de 2 X 8 mm, com 1,52 mm de PVB e perfis adesivos SG para fixação à estrutura de aço. Uma camada intermediária feita de vidro aquecido assegura o rápido derretimento da neve acumulada no funil. Esse vidro aquecido é constituído por 15 + 6 + 19 + 19 mm de vidro temperado, com PVB intercalar de 1.53 mm. A esses painéis especiais foi aplicado um revestimento de 6 mm de espessura, com seis diferentes circuitos de aquecimento.

 

Os painéis do cone apresentam diferentes níveis de curvatura. Na parte inferior, próximos à extremidade, o raio de curvatura das chapas é de apenas 500 mm