Escandinávia selvagem

Escandinávia selvagem

Capa: Escandinávia selvagem

Uma estrutura como o pavilhão Wild Reindeer Centre é a última coisa que se esperaria encontrar depois de uma caminhada de 1,5 km pelos Alpes escandinavos. Pois é exatamente ali, no meio do nada, rodeado por uma rica cordilheira de montanhas rochosas e cobertas de neve por boa parte do ano, que se ergue o premiado projeto do escritório de arquitetura norueguês Snøhetta, sediado em Nova York desde que se tornou responsável pelo Memorial de 11 de Setembro e internacionalmente reconhecido por projetos como o National Opera House de Oslo, o Culture and Knowledge Centre da Arábia Saudita e a nova biblioteca de Alexandria, no Egito.

O inusitado projeto, vencedor, em 2011, do World Architecture Awards (WAF), um dos mais conceituados concursos internacionais de arquitetura, está localizado na vila de Hjerkinn, nos arredores do parque nacional Dovrefjell, na Noruega. De dentro dele, para quem senta e observa, uma extensa parede envidraçada permite se deixar hipnotizar pela estonteante beleza da montanha de Snøhetta, uma das mais emblemáticas da Escandinávia, que se eleva a mais de 2 mil metros. Para quem contempla de fora, os vidros refletem o céu e simultaneamente dão a sensação de que a estrutura de madeira de formas onduladas e orgânicas pertence à paisagem. “O pavilhão é um edifício ao mesmo tempo robusto e fluido, que dá aos visitantes a oportunidade de refletir e contemplar este vasto e rico mar de montanhas”, afirma Kjetil Thorsen, chefe da equipe que assina o projeto.

Originário de Oslo, o escritório desenvolveu a ideia para atender aos programas educacionais da Wild Reindeer Foundation (Fundação Renas Selvagens), levando em conta o impacto das forças naturais sobre o território que circunda o pavilhão. O interior da obra, bastante diferente do fechamento que combina aço e vidro, remete às rochas moldadas pela água e pelo vento, e se apresenta em formas arredondadas e orgânicas que são um convite aos grupos que ali se acomodam para apreciar a paisagem repleta de espécies nativas outrora alvos de caçadores. “Dovrefjell é uma cadeia de montanhas que forma uma barreira entre o norte e o sul da Noruega”, comenta Thorsen. “É o lar do último rebanho de renas selvagens da Europa e o habitat natural de muitas plantas e animais raros”, comenta o arquiteto. Além da paisagem natural e cultural, as montanhas Dovre também têm significado na consciência norueguesa. Lendas nacionais, mitos, literatura (Ibsen) e música (Grieg) celebram as qualidades místicas e eternas desse poderoso lugar.Segundo explicam seus autores, a base do conceito arquitetônico foi exatamente essa paisagem singular e emblemática no contexto da cultura norueguesa. “O projeto se baseia em um invólucro exterior rígido e um núcleo interior orgânico. A fachada exterior sul e o interior criam um ponto de encontro protegido e cálido, ao mesmo tempo que preservam a vista panorâmica espetacular”, diz Martin Brunner, também arquiteto da equipe.

Espadas de aço

“O edifício pode ser descrito como uma caixa de aço sólido e bruto, com aberturas e recortes substituídos por vidro e madeira”, diz Erik Stening, líder de projeto da Skandinaviska Glassystem, empresa norueguesa responsável pelo fornecimento e instalação dos vidros. “A fachada é constituída por um pano de vidro cristal extra clear, com baixos teores de ferro em sua composição, que cria um escudo quase invisível entre o interior protegido e o exterior, que, embora por vezes hostil, ostenta uma beleza de tirar o fôlego”, observa Stening. A escolha dos vidros recaiu sobre os temperados de 10mm Optiwhite, da Pilkington, que se caracteriza por prover alta transmissão luminosa e, portanto, maior transparência e neutralidade de cor. A porcentagem de transparência do Optiwhite chega a 92%. “Por ter menos ferro em sua composição, o vidro extra clear não adquire coloração esverdeada, se mantém claro como um cristal”, descreve Bret Penrod, gerente geral da multinacional Pilkington. “Apesar dessa característica, ele não é frágil, a resistência é a mesma de outros tipos de vidro.” Segundo Stening, ao optar por esse tipo de vidro, a ideia foi conferir ao projeto o máximo de transparência e integração possível.

A olho nu, o sistema parece quase não ter caixilhos. Os componentes em vidro não têm perfis, sendo colados com 10 mm de silicone transparente. O maior desafio da instalação foi dar ao vidro a resistência necessária para fazer frente às fortes cargas de vento a que a região está sujeita. “Isso não poderia ser possível apenas por meio da fixação das chapas na parte superior e inferior”, afirma Stening. “No entanto, também não queríamos vigas aparentes bloqueando a vista.” A solução, então, foi dar sustentação ao vidro a partir do chão até uma altura 800 mm, usando como apoio uma espécie de espada de aço, fixada às placas com selante de silicone e soldada no piso. “Eu diria que essa foi a principal inovação tecnológica do projeto: associar o uso do silicone a essas estruturas de aço que, combinadas com o vidro extra clear, fizeram deste edifício o mais transparente que já construímos”, afirma Stening.

As gélidas temperaturas dos Alpes escandinavos também se mostraram um desafio considerável. “Tivemos que deixar o local em setembro, com o início do inverno, e só pudemos retomar as obras em março do ano seguinte”, completa o engenheiro da Skandinaviska Glassystem.

 

                                                   

                                                                         Interior do “Wild Reindeer Centre

                                                     

                                                                                      Exterior do edifício

                                                     

                                                                     Observatório interno – Visão do parque

 

Para assinar a Revista Vidro Impresso CLIQUE AQUI