Entre a ciência e a natureza

Entre a ciência e a natureza

Capa: Entre a ciência e a natureza

Com seus lagos tranquilos, ladeados por verdíssimos pastos e florestas, o norte da Itália é palco de um inigualável espetáculo natural, protagonizado pela cadeia montanhosa que compõe os Alpes Dolomíticos. Apaixonado pela imponente paisagem dessas montanhas, que passam metade do ano recobertas de neve, foi nelas que o italiano Renzo Piano se inspirou para conceber o projeto arquitetônico do Muse, Museu de Ciências Naturais erguido na cidade de Trento. O projeto entra para o hall de “megacriações” de Piano, autor de preciosidades da arquitetura moderna como o The Shard, em Londres, e o Museu Pompidou, em Paris. “Mais do que um espaço arqueológico, o intuito do projeto foi promover a regeneração do antigo distrito industrial no qual ele está inserido, reestruturando toda a dinâmica da cidade”, afirma o arquiteto.  

 

Delineado por folhas de vidro que se intersectam em uma geometria única, o museu ostenta uma linguagem e uma estética peculiares. A fachada envidraçada ganhou uma cobertura formada por múltiplas estruturas de vidro e aço posicionadas em ângulo acentuado. Apesar do resultado hi-tech, a intenção da proposta foi refletir as formas naturais ao redor. “A geometria e a transparência da edificação conduzem o olhar do observador aos picos das Dolomitas que desenham o horizonte”, comenta Piano. Inaugurado em meados de 2013, o empreendimento de seis andares está localizado em um terreno de 12 mil m² e procura, em cada detalhe a explorar a relação entre o homem e o ambiente, entre ciência e sociedade, entre arquitetura e natureza. “E os materiais e soluções empregados remetem fortemente a essa interação”, ressalta.

 

 

O complexo abriga escritórios, laboratórios de pesquisa, oficinas, áreas de armazenamento de coleções científicas, biblioteca e espaços técnicos, além, é claro, de uma ampla área de visitação. O espaço de exposição se estende pelos seis andares e ocupa uma superfície de cerca de 
5 mil m². Destes, 2,7 mil m² são reservados para exposições permanentes, 780 m² para exposições temporárias, 700 m² para uma estufa tropical, 100 m² de canto para lazer de crianças e 680 m² para exposições instantâneas e eventos culturais, detalha o arquiteto.

 
Volumes em equilíbrio

 

Em harmonia com os elementos de seu entorno, a construção teve seus volumes calculados com base em uma análise cuidadosa do centro histórico da cidade de Trento, incluindo a maneira pela qual as diferentes atividades ocupam os espaços urbanos e as proporções entre a largura das ruas e a altura dos edifícios ao redor.

 

O sistema de cobertura representa uma das características mais importantes e unifica todo o projeto. Apesar de assumirem funções diversas, com diferentes alturas e inclinações, os elementos formam um conjunto que abrange todos os edifícios, em estruturas de madeira e aço. Os dois polos culturais do projeto, ou seja, o museu de ciências ao norte e a área ao sul destinada a acomodar um centro de conferências, são caracterizados por uma máxima liberdade de expressão.
Composto por painéis de vidro e aço, a dinâmica cobertura projeta-se para cima e para baixo, em sincronia com as montanhas, dividindo o prédio em quatro seções. “A ideia das coberturas foi importante, porque o edifício está situado em um vale profundo e a área pode ser vista de cima com facilidade”, comenta o arquiteto e projetista Danilo Vespier, da equipe de Piano. “Basta viajar meia hora pelas montanhas e já se pode avistar o desenho arquitetônico em sua totalidade, de cima par baixo, como se fosse uma maquete”.

 

No interior, o vidro também é explorado de inúmeras formas. Dedicadas à história natural desde o período glacial, as galerias de exposição estão situadas em torno de um grande átrio central, onde esqueletos e animais empalhados ficam suspensos, presos ao enorme teto envidraçado. Envolto por paredes transparentes, o espaço é generosamente iluminado. Do mesmo modo, o lobby de entrada recebeu vidros de ponta a ponta, nas fachadas frontal e traseira. 

 

 

Executado pela empresa Stahlbau Pichler, tanto as fachadas como a cobertura usam esquadrias de alumínio customizadas, sendo as estruturas formadas por 9 vigas, duas compostas por quadros de metal e 7 por malhas de aço.  Nas fachadas do lobby, o vidro foi instalado em sistema estrutural que combina aço e alumínio.  Com certificação LEED Gold, o projeto emprega vidros de alto desempenho, térmico e acústico, fornecidos pela Guardian, A escolha recaiu sobre unidades duplas insuladas, compostas por uma camada externa de vidro temperado HTS Extra Clear, de 8 mm, espaçador Warm Edge de 18 mm, da Chromatec, e uma camada interna de vidro Extra Clear laminado, de 4+4 mm. O fator U é de 1,1 W/mqk, o fator solar é de 60% e o índice de transmissão luminosa é de 78%. Ao todo, foram empregados mais de 10 mil m² do material.