A efervescência por que passou a indústria vidreira chinesa nos últimos anos pode ser atestada em um número crescente de projetos mundo a fora, nos quais o vidro aparece como solução em complexos desafios envolvendo sua aplicação. A primeira loja da Apple em Xangai, por exemplo, aberta em julho de 2010, contou com um domo tubular com painéis de vidro de 12 m inteiramente produzidos na China. Outro exemplo emblemático é o do Pavilhão de Vidro do Museu de Arte de Toledo, na cidade americana de Ohio. Assinado pelo aclamado arquiteto japonês Kazuyo Sejima, ganhador do prêmio Pritzker em 2010, o pavilhão, que custou US$ 30 milhões, é composto por 360 painéis espessos, cada um com mais de 4 metros de altura, 2,4 metros de largura e pesando quase 600 quilos. O projeto apresentou especificações técnicas de ponta, envolvendo curvatura e laminação, atendidas pela chinesa Avic Saxin, sediada em Shenzhen. A empresa ganhou o contrato porque estava disposta a investir na tecnologia necessária para produzir vidros complexos, como uma máquina de US$ 500 mil, algo que as processadoras americanas não deram conta de oferecer.
O exemplo de Ohio ilustra o avanço técnico experimentado pelo setor do vidro na China, demonstrando a força crescente desse mercado, que se lança em uma corrida para competir em pé de igualdade com detentores das mais recentes tecnologias disponíveis no mundo. De olho no potencial desse que é considerado o maior mercado do planeta, e que tem conseguido em poucos anos superar muitos de seus gargalos econômicos e limitações tecnológicas, empresas de peso ligadas ao setor, vindas de todas as partes do globo, reuniram-se em mais uma China Glass, evento anual organizado pela Chinese Ceramic Society, atualmente em sua 24a edição. Realizado na cidade de Pequim, entre os dias 24 e 27 de maio, a feira atraiu novo recorde de visitantes e evidenciou a força de um mercado que hoje conta com 150 linhas de vidro float, 117 a mais que os Estados Unidos, por exemplo. Um número que mais surpreende quando se considera que, até os anos 70, a indústria vidreira praticamente inexistia na China.
“As empresas chinesas são muito qualificadas e vendem no mundo todo e em setores muito competitivos do segmento B2B”, comentou Dinzo Genzi, presidente da GIMAV, associação italiana de fabricantes, processadores e fornecedores de máquinas e acessórios para vidro. O estande da entidade reuniu 29 membros em uma área de 1,2 mil m². “Por essa razão, o mercado chinês demanda maquinário de última geração e precisa estar apto a confiar em uma cadeia de fornecedores que assegure qualidade em todos os níveis”, disse Genzi. “Participar da China Glass tornou-se obrigatório para a indústria vidreira italiana”, acrescentou Renata Gafo, diretora da GIMAV.
Para Joe Zhou, membro da comissão organizadora do evento, embora o cenário econômico mundial se encontre em fase de severa contenção, e a própria China tenha visto o crescimento de sua indústria vidreira refluir drasticamente em relação a anos anteriores, o momento é de assumir novos desafios, e a China Glass foi uma excelente oportunidade para isso. “Muitas empresas internacionais pediram para aumentar o espaço de seus estandes, pois estavam confiantes nos resultados de sua participação este ano”, comenta o executivo. Com mais de 800 empresas expositoras, entre fabricantes, processadores e fornecedores de máquinas, acessórios, componentes e tecnologias de fabricação e aplicação, o maior evento asiático do ramo de vidros ocupou sete pavilhões do China International Exhibition Center e recebeu mais de 30 mil visitantes, em uma área de aproximadamente 80 mil m².
Além de companhias chinesas, o evento recebeu empresas de mais de 30 países, entre eles Alemanha, Itália, Estados Unidos, Bélgica, Reino Unido, França, Finlândia, Holanda, Suíça, Suécia, República Checa, Áustria, Austrália, Israel, Japão, Coréia, Canadá, Rússia, Índia, Indonésia, Singapura, Turquia, Vietnã, Egito, Irã, Jordânia e Costa Rica. Segundo Zhou, a China Glass já é considerada a segunda maior feira vidreira do mundo. “É a única exposição internacional de vidros patrocinada e apoiada por todas as indústrias relacionadas ao vidro e departamentos governamentais e associações de negócios da China”, afirma. “Por ser uma excelente plataforma de negociações internacionais e intercâmbio de informações técnicas e de mercado, a exposição atrai visitantes estratégicos, incluindo o consumidor final e representantes decisivos da cadeia vidreira mundial.”
Além de ter destacado as últimas novidades em vidros, máquinas, equipamentos, acessórios, componentes e tecnologias de processamento, teste e mensuração, a China Glass acompanhou a tendência verificada em todos os eventos recentes do setor e concentrou foco especial na produção de vidros solares, painéis e células fotovoltaicas e em tecnologias voltadas para a eficiência energética por meio do vidro. A feira foi realizada paralelamente à Glass Perfamance Days China (GPD China), versão chinesa de uma das mais renomadas conferências internacionais do setor.
Tradicionais parceiras do evento, empresas americanas, italianas e alemãs tiveram pavilhões exclusivos, nos quais figuraram as fabricantes de máquinas Intermac, Bottero, Grenzebach, Hegla e Bystronic Glass, entre outros nomes de peso. O Grupo Fenzi também estava entre os expositores, destacando sua linha de selantes, tintas e esmaltes para vidro. “O mercado asiático tem mostrado crescente interesse por nossos produtos, o que pode ser comprovado pelo aumento da demanda verificado este ano, especialmente da linha de revestimentos para espelhos Duralux, primeiro produto da empresa exportado e fabricado na China”, afirma Francesca Solera, responsável pela comunicação do grupo. A finlandesa Glaston marcou presença com suas mais avançadas tecnologias voltadas para têmpera, corte e laminação, como as linhas GlastonAir, Glaston iControL, Glaston Hiyon e XtraEdge.
Além de destacar seus últimos lançamentos e linhas integradas de processamento, a Bottero promoveu uma palestra com Giovanni Ambrogio, seu representante em terras chinesas, que expôs os diferenciais das linhas da empresa. A austríaca Lisec apresentou suas linhas automáticas de corte e tecnologias de processamento. A grande novidade deste ano, no entanto, foi a participação inédita de uma empresa brasileira, a Arbax. A fabricante de abrasivos aproveitou a ocasião para reforçar sua presença em âmbito mundial e destacar sua linha de rebolos de polimento, com destaque para o ‘rebolo verde” (ler mais na página 64).
Outros grupos multinacionais de peso presentes fora Saint-Gobain Glass, Siemens, PPG Industries, Asahi e Guardian Industries, multinacional com mais de 28 linhas de float ao redor do mundo, que aproveitou a ocasião para lançar a versão asiática de seu website. “É constante nosso empenho em implementar novos projetos locais e participar do crescimento robusto da região”, disse Bibekananda Maiti, diretor comercial da Guardian no Pacífico asiático. “Este ano demos mais um passo em nosso compromisso, proporcionando informações e recursos que podem ser usados no dia a dia de nossos clientes locais.”