Entre os benefícios visuais do vidro, a permeabilidade entre os ambientes é um dos mais explorados na arquitetura residencial, especialmente quando o intuito é integrar os espaços internos à paisagem. Na residência ME, no interior de São Paulo, o objetivo principal da dupla de arquitetos Tatiana Otta e Eduardo Albernaz, da Otta Albernaz Arquitetura, foi diluir barreiras visuais até onde fosse possível. “Não somente de dentro para fora, a arquitetura está misturada na paisagem. Ela se revela aos poucos, com uma fachada discreta e privativa e um interior vivo e instigante”, comenta Albernaz.
Localizado no município de Jambeiro, a 20 minutos de São José dos Campos, o lote de 1,4 mil m², em aclive e discreto, chamou a atenção dos arquitetos especialmente pela abundância de árvores nativas que, ao se entrelaçarem, parecem uma continuação da área de proteção ambiental ao fundo do terreno. “Nosso projeto dialoga em harmonia com essa paisagem bucólica de Mata Atlântica, procurando aproveitar a natureza e minimizar o impacto sobre ela”, observa Albernaz. “Cada recurso aplicado foi pensado para renovar a qualidade de vida e facilitar o convívio, criando um contraponto à verticalização arquitetônica, à poluição visual e sonora e ao trânsito das cidades.”
O amplo uso do vidro em paredes e guarda-corpos permitiu que todos
os ambientes tivessem vista para as áreas externas
Segundo o arquiteto, o ponto de partida do projeto foi a árvore que se destaca entre os dois blocos de entrada. A planta foi dividida em dois pavilhões perpendiculares entre si, o da casa principal e outro como um anexo fechado com vidro em todas as faces verticais. “A localização dos dois volumes, bem como o amplo uso do vidro em paredes e guarda-corpos, permitiu que todos os ambientes tivessem vista para os jardins externos, favorecendo tanto a ventilação cruzada como a abundante iluminação natural”, explica.
Na sala principal e em boa parte dos ambientes, portas de correr de vidro encarregam-se de integrar a casa com o jardim externo, onde está localizada a piscina. A integração, tanto visual quanto física, por meio dos grandes panos de vidros que compõem as fachadas internas, permite visão plena da movimentação da casa. A fachada para a rua é formada por dois cubos simétricos que instigam a curiosidade sem expor os moradores. Vidros temperados de dimensões variadas substituem o concreto na parte superior de cada fechamento lateral, acima das portas de correr. Instalados em esquadrias de alumínio, os quase 160 m² de vidros laminados incolores de 8 mm foram fornecidos pela vidraçaria local Bella Vidros. Já as ferragens e acessórios levam a marca Dorma.
Portas de correr encarregam-se de integrar a casa com os jardins e a piscina
Saindo de uma das laterais da construção principal, um caminho construído com dormentes de madeira e rodeado por muitas árvores conduz ao chalé anexo envidraçado, um verdadeiro refúgio integrado na mata, onde um confortável futon e um ofurô convidam ao relaxamento e à contemplação. “Simplicidade, aconchego e respeito às características do terreno são as principais características do projeto”, ressalta Albernaz. Já a cobertura, formada por um pano único, foi executada com estrutura e telhas metálicas termoacústicas, permitindo grandes vãos com baixa inclinação, com subcobertura em manta de lã de vidro que potencializa a inércia térmica e a acústica.
Extensão do projeto arquitetônico, o paisagismo pode ser apreciado tanto de fora como de dentro da casa, graças às portas de correr envidraçadas que separam o jardim da sala. Assim como a fachada, a suíte voltada para o bosque conta com portas e guarda-corpo de vidro.