A determinação de parâmetros para isolamento acústico é reconhecidamente um dos pontos de mais discussão na revisão da polêmica Norma de Desempenho – NBR 15.575, primeira do País a estabelecer critérios para avaliar o desempenho global de edificações. Inicialmente redigida em 2008 e publicada pela primeira vez em 2010, a norma já passou por inúmeras revisões e reviravoltas às vésperas de se tornar obrigatória. Uma das principais polêmicas gira em torno dos rigorosos níveis de redução sonora estabelecidos.
Depois de novamente redigida entre 2011 e 2012, a norma poderá entrar em vigor em maio deste ano. Embora seja difícil prever se isso de fato vai ocorrer, empresas do setor de esquadrias já se movimentam para ampliar no mercado a oferta de produtos com maior índice de isolamento acústico. É o caso do sistema Contact de portas e janelas com isolamento acústico e vedação da entrada de água, lançado no final do ano passado a partir de uma parceria entre a Alcoa Alumínio, líder mundial na produção de alumínio primário, e a Udinese, empresa do Grupo Papaiz especializada em componentes para esquadrias.
“As normas do setor de esquadrias e construção civil têm se mostrado cada vez mais exigentes no aspecto de barreira acústica. Para a Udinese, este lançamento é uma estratégia que pode contribuir para agregar valor na cadeia produtiva e trazer uma inovação para o mercado de componente de esquadrias”, ressalta a presidente da empresa, Sandra Papaiz. “Além disso, os centros urbanos estão cada vez mais ruidosos, e os consumidores mais conscientes dos danos que essa exposição pode causar”, observa o gerente geral João de Deus Tavares Vieira.
De acordo com Vieira, a busca pelas melhores opções de isolamento acústico é cada vez mais intensa no mercado de construção civil. “A parceria da Alcoa com a Udinese para o lançamento do Sistema Contact atende a essa necessidade, oferecendo uma solução diferenciada para o fechamento de portas e janelas de correr.” A grande novidade, explica o gerente, está no movimento de comprimir uma folha contra a outra quando a esquadria se fecha, eliminando as frestas em todo o perímetro, o que garante redução da intensidade sonora. “Uma janela de correr do sistema Contact com vidro laminado de 10 milímetros filtra aproximadamente 31 decibéis, enquanto uma janela do mesmo padrão da tipologia de correr tradicional barra 22 decibéis”, esclarece. “Trata-se da única esquadria de projeto e confecção nacional com selo de desempenho acústico nível A.”
Fábrica da Udinese
Aplicação
O processo de fabricação de esquadrias do sistema Contact atende a dimensões variadas, que podem ser aplicadas nos mais diversos ambientes, com especial benefício para residências e hotéis. José Carlos Cattel, diretor da Divisão de Extrudados da Alcoa América Latina e Caribe, informa que as portas e janelas podem ser produzidas nas opções de duas e quatro folhas envidraçadas e em diferentes tamanhos, pois têm perfis ajustáveis. O sistema pode ser aplicado em conjunto com vidros simples ou duplos, com variação de espessura entre 6 e 25 mm.
“O sistema Contact se antecipa à nova norma de desempenho NBR 15575, que dedicará um item aos requisitos acústicos e vai propor um selo inédito de classificação de esquadrias de acordo com o isolamento acústico oferecido”, destaca o diretor. “Atualmente, nossa norma de desempenho das edificações ainda é defasada em relação a produtos, soluções construtivas e, principalmente, quanto a aspectos de mudança e funcionalidade urbana.”
Cattel compartilha com especialistas em acústica a opinião de que o vidro só não é mais explorado na construção civil como isolante acústico porque a oferta de caixilhos bem vedados acusticamente é ainda muito restrita. “A solução acústica é formada pelo vidro e sistema de caixilhos”, ressalta. “O sistema de caixilho é formado pelos perfis de alumínio, acessórios e fechos. O que muda no sistema Contact é a engenharia do perfil e os acessórios, que juntos formam um caixilho ou esquadria com benefício acústico e de estanqueidade.”
De acordo com Vieira, a escolha do vidro quanto ao desempenho acústico da esquadria como um todo deve levar em conta a região onde a janela ou porta será instalada. “Dependendo de quanto se deseja de redução sonora, pode-se trabalhar com diferentes tipos de vidros, até mesmo vidros especiais para esse tipo de aplicação”, observa o gerente da Udinese.
Desenvolvimento conjunto
Embora mantenham uma relação comercial de muitos anos, esta é a primeira vez que Udinese e Alcoa unem suas expertises para o desenvolvimento de um produto. “A parceria se deu de forma natural, pois a Alcoa é uma empresa com grande experiência no setor de extrudados. São nossos fornecedores e ao mesmo tempo nossos clientes. Ou seja, já existia uma aproximação comercial das duas empresas”, afirma Vieira.
Uma das mais modernas plantas da Alcoa, situada em São Luís (MA)
A busca de uma solução ideal para atender à crescente demanda do mercado nacional e às normas técnicas do setor consumiu seis anos de pesquisas com clientes e testes, até a finalização do produto. “Para manter a proposta inicial e atingir a qualidade que esperávamos, foi preciso dedicar especial atenção aos pequenos detalhes. Trabalhamos na matéria-prima das guarnições e nas esquadrias a fim de evitar a passagem de água e ar, mantendo assim a eficiência da barreira sonora”, diz Vieira.
A Udinese desenvolveu as roldanas, garfos de deslocamentos e sistema de acionamento cremona, todos necessários para facilitar o movimento e manter a qualidade do som ambiente. Já a Alcoa é responsável pela fabricação dos perfis de alumínio e comercializará o sistema com exclusividade na Rede Alumínio & Cia. A distribuidora exclusiva de perfis extrudados Alcoa no Brasil oferece soluções para setores industriais diversos, como transporte, máquinas e equipamentos, bens de consumo e construção civil.
“Para desenvolver a solução, nossa equipe levou em conta todas as recentes reformulações nas normas técnicas do setor, cuja tendência é exigir a adoção de uma série de critérios que há alguns anos não existiam”, afirma o diretor da Alcoa. “O setor ainda é carente de pesquisas, mas acreditamos que a rigidez das novas normas vá incentivar as indústrias a desenvolverem novas soluções para esse mercado.”