Quase sempre caracterizadas por um mar de montanhas, as belezas naturais de Minas Gerais podem não contar com exuberantes paisagens litorâneas como as de seus vizinhos Rio de Janeiro e Bahia. Mas o estado reserva suas alternativas para quem quer ficar perto da água. O lago de Furnas, ao lado da Serra da Canastra e a cerca de 260 km da capital, é uma delas. Um dos maiores lagos artificiais do mundo, o chamado “mar de minas” foi projetado para mover a Hidrelétrica de Furnas, e suas águas cristalinas espalham-se por quase 1,5 mil km2, entre praias e cânions magníficos.
O lago de Furnas, ponto de encontro de pescadores, navegadores e visitantes em busca de turismo e esportes náuticos, tem sido também inspiração para belos projetos arquitetônicos ao seu redor. Foi ele o pano de fundo que emoldurou um dos mais repercutidos trabalhos do escritório Mutabile Arquitetura. Erguida em Capitólio, cidade cercada de montanhas e águas por todos os lados e considerada uma das mais belas da região, a casa de campo Canyons do Lago ocupa mais de 500 metros quadrados à beira da represa. “A casa foi implantada de maneira a proporcionar vista para o lago em todos os quartos e ambientes”, conta a arquiteta Isabel Brant, da equipe responsável pelo projeto.
Guarda-corpos de vidro contornam toda a varanda, intensificando ainda mais a integração com o lago ao redor
Para dar conta desse objetivo, o escritório recorreu ao uso do vidro em diversos tipos de aplicação. “A casa é norteada pela paisagem do lago, e o vidro foi um importante aliado no intuito de dialogar com as águas ao redor a todo momento”, diz a arquiteta. “A integração visual entre os espaços sociais, a iluminação natural e a privacidade nas áreas íntimas foram os principais elementos que determinaram as soluções empregadas. As áreas de circulação, por exemplo, são sempre contempladas com iluminação zenital”, diz a arquiteta.
“Para especificar as aplicações do material, a incidência solar foi o principal fator considerado”, aponta Brant. Setorizada em três alas – área social, quartos e setor de hospedes – a residência estabelece uma distribuição dinâmica dos espaços, sempre marcados pela integração entre os diferentes usos: sala de estar, terraço, piscina, sala de jogos etc. “A entrada de luz natural para os ambientes contíguos a eles, além da integração visual que amplia os espaços, está entre as principais contribuições do vidro nas áreas de lazer”.
Acessada por uma rampa, a área social tem vista panorâmica para o Lago de Furnas e conta com uma piscina interna, portões basculantes em estrutura metálica e vidro, que integram a sala ao deck de madeira cumaru, além de terraço e áreas externas, como churrasqueira. No jardim de inverno, o pergolado em madeira e vidro garante iluminação e proteção da chuva. As portas pivotantes de vidro com contrapeso integram os ambientes sociais internos. Já as aberturas zenitais propiciam claridade sem perda de privacidade. O vidro conferiu contemporaneidade ao projeto, mesmo tendo adotado soluções e materiais tradicionais da arquitetura mineira, como pedra, madeira e telhado colonial.
Em quase todas as aplicações, o vidro escolhido foi o incolor temperado de 8 mm, sem qualquer tratamento para aumentar ou reduzir transparência ou transmissão luminosa. “Os únicos que fugiram desse padrão foram os jateados, nas janelas dos banheiros”, diz Isabel. No visor da piscina, acrescenta, foi necessário empregar duas chapas de laminados com espessura de 10 mm cada, para suportar a pressão da água sem trincar. O material foi fornecido pela CR Vidros.
Tanto nas zenitais como nos portões de vidro usou-se estrutura metálica com pintura automotiva branca. A zenital do jardim de inverno foi apoiada diretamente sobre as pérgulas de madeira cumaru. As folhas de vidro das portas de correr e das janelas dos quartos foram inseridas dentro das molduras de madeira.
Aberturas zenitais garantem iluminação natural no jardim de inverno e em áreas de circulação
Na piscina interna, portões basculantes em estrutura metálica e vidro integram a sala ao deck de madeira