Blindados usados – cascas grossa de fino trato

Blindados usados – cascas grossa de fino trato

Capa: Blindados usados – cascas grossa de fino trato

Roubos, assaltos, sequestros-relâmpago… Imobilizados pelo trânsito cada vez mais caótico, os veículos de maior valor são verdadeiras “vitrines ambulantes” para os bandidos. E seus proprietários se sentem mais expostos ao risco de ataques indesejados. A cada ano, sete mil brasileiros procuram empresas de blindagem, de olho em proteção extra. E precisam passar a ter cuidados específicos com seus veículos depois que o reforço aos vidros e à carroceria é instalado.

“Além do cuidado extra com a manutenção do automóvel, o motorista deve estar preparado para mudar seu comportamento e suas atitudes ao dirigir”, explica Christian Conde, presidente da Associação Brasileira de Blindagem, Abrablin. Hábitos como dirigir com portas destravadas e vidros abaixados devem ser abolidos. O condutor também precisa manter uma distância segura dos outros carros, já que isso facilita evasões no caso de eventuais abordagens ou encurralamentos.

Diante da necessidade em modificar maneira de dirigir depois de comprar um blindado, empresas especializadas aconselham que os proprietários se submetam a cursos especializados de direção evasiva, já que certas decisões do motorista podem intensificar a eficiência da blindagem. “Nós simulamos situações de bloqueio e o motorista aprende, na prática, a utilizar sua capacidade de decisão para escolher a melhor saída em casos extremos”, afirma o instrutor Ricardo Luiz Ramos, que ministra o curso de Direção Evasiva e Defensiva na Piquet Blindagens, do Rio de Janeiro.

A blindagem também pode provocar desgaste maior de pneus, freios, amortecedores e suspensão. Por isso, é importante que os proprietários estejam atentos às revisões regulares, e acrescentem vistorias específicas às mantas blindadas e aos dispositivos acionadores dos vidros. Na hora de realizar as revisões regulares, o proprietário de um blindado pode agendá-las guiado pelas instruções de seu manual de uso do veículo. “Os fabricantes de veículos oferecem um calendário para ‘utilização severa’, categoria específica para situações que tendem a desgastar mais rapidamente determinadas peças”, alerta Felício Félix, analista técnico do Centro de Experimentação e Segurança Viária, Cesvi Brasil.

Já a revisão da blindagem deve ser feita a cada seis meses. O procedimento analisa a conservação do material utilizado e a fixação das mantas de aramida, fibra sintética de alta resistência fundamental nas blindagens. “O processo de blindagem não tem prazo de validade definido, desde que o motorista seja cauteloso quanto à manutenção e também à condução do veículo”, define Rogério Garrubbo, diretor da Concept Blindagens, de São Paulo. “A manta é mais suscetível a desgastes quando sofre colisões laterais. Nestes casos, recomenda-se a revisão imediata do material”, complementa o especialista Rogério Rolim Aguiar, da Piquet Blindagens.

“A manutenção em dia contribui para que o veículo blindado não perca tanto valor de revenda, já que existe uma desvalorização maior destes veículos na hora do repasse”, observa Maurício Matalon, diretor da empresa paulista Master Blindagens. Por isso mesmo, algumas empresas preferem trabalhar apenas na manutenção dos veículos blindados. Um dos serviços mais procurados é o reparo no sistema de acionamento dos vidros. Como os vidros blindados possuem espessura cerca de cinco vezes maior que os convencionais, o sistema elétrico precisa ser reforçado e requer acompanhamento contínuo.

“Os vidros blindados invariavelmente sofrem com a ação do tempo, principalmente por causa da variação de temperatura. A incidência direta do sol faz o vidro dilatar, e o ar condicionado na potência máxima faz o vidro retrair”, explica Andrei Rovai, dono da Confiance Blindagem, uma das especializadas na manutenção. Ao longo de dois ou três anos, essa variação provoca a delaminação, caracterizado pelo surgimento de bolhas de ar. Este processo desloca as camadas que compõem os vidros – como se fossem uma lasanha – e enfraquece o policarbonato, que é o material resistente aos tiros disparados contra o vidro.

O reparo especializado pode corrigir a delaminação, mas ele pode ser prevenido com alguns cuidados especiais. A limpeza deve ser feita com água morna e sabão neutro. Outra dica muito importante é evitar o fechamento das portas com os vidros abertos, já que as placas de vidro acopladas ao policarbonato se tornam mais suscetíveis a trincados. “O segredo da boa conservação de um blindado está no reconhecimento do usuário das novas características do veículo”, sintetiza Felício Félix, analista do Cesvi.

Instantâneas

# Os primeiros carros blindados no Brasil foram modelos da Mercedes-Benz, BMW e outras marcas de luxo. Em 1995, foram reforçadas 388 unidades. No período entre 2008 e 2010 foram feitas, em média, 6900 blindagens por ano.

# Os estados de São Paulo e Rio de Janeiro lideram o ranking, com 66% e 22%, respectivamente. Minas Gerais e Pernambuco vêm logo atrás, somando 7%.

# Os modelos mais blindados atualmente no Brasil são Toyota Corolla, Chevrolet Captiva, Hyundai Vera Cruz, Land Rover Freelander e Hyundai Santa Fé.

# Cerca de 67% dos proprietários que procuram as empresas de blindagem são homens. As classes que mais procuram são empresários e executivos (71%), juízes (5%), políticos (4%) e artistas (4%).

Sem dor de cabeça
O procedimento de blindagem já não é mais exclusivo para os carros grandes e caros. Já existem unidades de carros populares ou médios submetidos ao reforço. Mas ainda assim não é um processo barato, custando em média R$ 50 mil. Para evitar dor de cabeça no futuro, os proprietários precisam estar atentos à integridade das empresas especializadas existentes no mercado.

“O setor é regularizado e fiscalizado pelo Exército brasileiro tendo como base normas rígidas de segurança”, explica Christian Conde, presidente da Abrablin. Além disso, todos os profissionais envolvidos no processo – desde os fornecedores de materiais aos prestadores de serviço – devem ser registrados no órgão militar, que aplica rigorosos testes de balística para aprovar e liberar as matérias-primas utilizadas.

A Abrablin e suas 26 blindadoras afiliadas não podem fiscalizar, mas exercem o papel de acompanhar de perto a movimentação do mercado e denunciar eventuais irregularidades. “O consumidor precisa estar atento ao histórico de serviços da empresa e, se possível, visitar o local onde será feito o procedimento, para observar e avaliar a organização da blindadora”, aconselha Conde.

Existem seis níveis diferentes de blindagem contra armas, com diferentes preços e resultados. Por isso, o cliente deve questionar o máximo possível sobre o grau de proteção que será aplicado ao seu veículo e pesquisar antes de realizar o processo. A mais comum é a de nível III-A, capaz de segurar tiros de armas de mão, como pistolas 9 mm e calibre 44 Magnum. Outros níveis acessíveis aos consumidores comuns são os classificados em I, II-A e II. O tipo III é de uso restrito no Brasil, liberado pelo Exército somente em casos onde o cliente comprova a necessidade de possuir um carro que resista a tiros de M16, AK 47 e AR 15, entre outros. O nível IV, que suporta até projéteis de metralhadoras M60, é totalmente proibido para o uso civil. “Outra dica é desconfiar de preços muito baixos, já que economia e qualidade dificilmente andam juntas quando o assunto é proteção”, adverte Rogério Garrubbo, diretor da Concept Blindagens.

Fonte: Web Motors