Ávido por inovação e funcionalidade, o setor assiste com entusiasmo ao crescente número de aplicações para os vidros decorativos, que já se tornaram os ‘queridinhos’ de arquitetos, especificadores, decoradores e fabricantes de móveis em todo o mundo, dando personalidade e força visual aos mais diversos projetos, por meio de suas cores e texturas.
Tudo começa com o vidro float. “Ele é a base para todos os vidros planos existentes no mercado, inclusive os decorativos”, afirma a coordenadora de mercado da Cebrace, Ana Granado, lembrando que os processos de fabricação das chapas de vidro são específicos para cada tipo e necessidade, não podendo ser produzidas com sobras de substrato.
Tampo do aparador decorado com tecnologia ColorSpray, de efeito jateado e secagem a frio
Tipos e técnicas
A transformação do vidro em decorativo passa por diferentes técnicas. Entre elas:
Vidros coloridos – Coloridos no próprio processo de fabricação ou fusão, em que diferentes composições de óxidos adicionadas à massa do vidro lhe dão cores diversas.
Serigrafados – A técnica consiste em dar a uma das faces da lâmina básica de vidro (incolor ou já colorida na massa) uma camada de esmalte vitrificável (cerâmico), por meio de silk screen ou máquinas automáticas com deposição de tinta ou a jato. Em seguida, esse vidro vai para o forno de têmpera, onde os pigmentos cerâmicos são incorporados ao material. O resultado é um vidro temperado, resistente, de aparência opaca, uniforme e reflexiva, muito usado em portas de correr, painéis, armários, divisórias e revestimentos.
A linha Inspired Glass, lançamento da beneficiadora Conlumi, é resultado de técnicas, entre outras, de esmaltação e laminação com película colorida. Os esmaltados propiciam revestimento sólido vitrificado, não permitindo a conotação do adesivo pela transparência do vidro. “Este detalhe é muito importante, pois é possível fazer a aplicação diretamente na parede, sem o auxílio de outro substrato, diferentemente do vidro serigrafado”, diz o diretor da Conlumi, Claudio Passi.
Outro lançamento da beneficiadora na linha de decorativos é a linha Sweet Glass, produzida pelo beneficiamento do vidro na forma de peças diversas, tais como espelhos de recortes e tamanhos exclusivos, bisotês, colagens UV, tampos, aparadores, home theater e mesas de vidro, cubas para banheiros, banquetas, peças feitas com vidros craquelados etc. Segundo Passi, essas linhas provêm de uma central de vidros laminados, cabines de esmaltação e jateamento, plotters e máquinas automáticas. Na Pacaembu Vidros, a aplicação da tinta no vidro é feita manualmente em chapas de laminados incolores. Especialista em serigrafados para movelaria e revestimento, a empresa oferece 14 cores de vidros e estampas diversas, entre elas, as de tigre e zebra, da linha Zoo.
Seguindo a tendência de privacidade com transparência, a New Temper usa as técnicas de serigrafia com rolo e tela. Em seu centro de usinagem, a empresa também aplica incisão em vidros e espelhos, reproduzindo desenhos, imagens ou texto. Segundo o sócio diretor Ariston Morais de Lacerda, os processos empregam máquinas italianas de serigrafia; forno de têmpera; laminação EVA, lapidadoras e bisseladoras.
Na T2G e na Vidros do Brasil (empresa do mesmo Grupo), o processo de pintura do vidro é feito em uma câmara de pintura, dotada de condições climáticas específicas, forno de secagem e esteiras para rolagem automática do vidro. Para a parte de laminação, é utilizado um forno para cura de 6 metros de largura, que permite o processamento de peças de grandes dimensões. Para a aplicação da tinta são utilizadas pistolas pneumáticas. O destaque fica por conta dos vidros coloridos CeramicGlass, um revestimento de vidro ecológico 100% reciclável e importado da Europa, que une as qualidades da pedra às do vidro. Para aplicação em fachadas, móveis e pisos, em revestimento ou cobertura, o produto pode ser processado (furado, laminado, lapidado, temperado ou curvado) como um vidro comum ou cortado com diamante, a disco ou a jato d’água. O processo de produção do CeramicGlass® é similar à formação natural do granito.
Laminados – Produzidos pela junção de duas ou mais placas de vidro, por meio de um elastômero (polivinil butiral) ou EVA. Podem ser incolores, coloridos, PVB, acidados e argentados, espelhados, serigrafados, pintados, refletivos, low-e etc. As possibilidades de laminação são muitas, incluindo tecidos, folhas, películas com impressões, telas de LDC, LED’s etc.
Impressos – A técnica consiste na impressão, de forma mecânica, de desenhos no vidro através de um rolo desenhado com diferentes formas. O processo se consolida após o vidro sair do forno de fusão, ainda quente e mole. À medida que endurece, ele mantém os desenhos impressos em diversas formas. Com aparência de vidro texturizado, ele é muito usado em vitrôs.
Craquelados – Talvez o mais personalizado dos vidros. Seu processo de laminação não permite dois tipos de vidro com a mesma malha de fragmentação. A técnica consiste em uma composição laminada com dois vidros comuns externos e um temperado interno. Após a laminação, o vidro tem suas bordas lapidadas. O vidro interno não resiste à lapidação e fragmenta-se, formando assim o craquelado, que fica protegido pelas lâminas externas.
Acidados – Aqui, o vidro é tratado com ácido, que lhe dá um aspecto esbranquiçado e translúcido. Muito comum em cúpulas, objetos de decoração e em portas e divisórias. A Saint-Gobain Glass investiu nesse nicho, trazendo para o mercado a linha SGG Satinovo. A Conlumi disponibiliza o Satindeco, de 4 e 8 mm. A Vidros do Brasil oferece o Sevasa, um dos produtos mais solicitados da empresa.
Divisória com vidros acidadosSGG Satinovo, da Saint-Gobain Glass. O aspecto esbranquiçado e translúcido confere sofisticação ao ambiente
Jateados – O vidro recebe jatos de grãos de areia ou abrasivos não tóxicos que desgastam sua superfície, dando-lhe um ar translúcido e áspero. Usado em portas de correr e divisórias.
Adesivados – Em padronagens diversas, uma película de adesivo é aplicada no vidro incolor comum, dando-lhe um aspecto de vidro jateado. Muito usado em boxes e janelas.
Impressão Digital – Uma das mais modernas tecnologias de impressão, que, por meio de impressoras digitais, transfere uma imagem do arquivo eletrônico diretamente para o vidro, independentemente da quantidade de cores e tonalidades, com alto grau de resolução. Uma das novidades nesse mercado é a tecnologia da Saint-Claire, do Grupo Tecnovidro, em sua linha Immagini, que reproduz no vidro bordados e estampas que parecem feitas à mão, como barrado crochê, ponto cruz e as estampas croco e parquet. “O processo de impressão usa nanotecnologia, que proporciona alta durabilidade da tinta em qualquer material”, explica o gerente comercial da Saint-Claire, Cristiano Ruschel Longhi.
Técnicas básicas
Antes de encampar um projeto de decoração com vidros, recomenda-se avaliar bem as técnicas adequadas a cada tipo de aplicação.
Serigrafia – Técnica utilizada em processos de impressão ‘a quente’ ou ‘a frio’, em que uma tela de tecido sintético perfurado é posicionada sobre o vidro, para que a tinta vaze e imprima a forma previamente ‘desenhada’ na tela. Adequada para pinturas com mais de uma cor e trabalhos volumosos, pois a complexidade da produção da tela encarece o produto. Pode ser aplicada manualmente, de forma semiautomática e automática.
O box deste banheiro ganhou vidro serigrafado da New Temper
Rolo – Um sistema de cilindros em que um deles, metálico, espalha a tinta sobre outro, emborrachado, que, por sua vez, aplicará a
tinta sobre o vidro. Lançada recentemente na Glass South America pela fabricante de máquinas para pintura e secagem TSJ Máquinas, a MPR-1 Glass é dotada de rolos especiais de silicone, que promovem um sincronismo entre a peça e o rolo, permitindo a reprodução de imagens no vidro em gramaturas de 10 a 200 gramas de tinta/m2. Segundo o diretor Thesio Silva Junior, o controle da gramatura permite obter os efeitos chapado, acetinado, jateado, acidado etc.
Pistola De Ar – Alternativa para pintar manualmente poucas unidades de vidro. Assim como o rolo, a pistola de ar é utilizada para aplicações chapadas e monocromáticas. É possível aplicar mais de uma cor, por meio de uma máquina de recorte (plotter).
Sistema de pintura manual, com pistola e a frio, da Colour Spray, permite a pintura de qualquer tipo de vidro
Colorido de fábrica
Na Saint-Gobain, a coloração da massa vítrea ocorre no canal de alimentação das máquinas laminadoras. Após fundir-se, o material é homogeneizado por agitadores mecânicos, fazendo com que o vidro chegue à laminadora com a cor desejada. “Esta técnica permite trabalhar com cores diferentes, em fornos que tenham mais de uma laminadora”, explica Marcela Calabre, do Marketing. Lançamento de sucesso da Saint-Gobain Glass, o SGG Unique é mais uma opção, além das linhas Decor-Lite e SGG Masterglass, para decoração de ambientes, podendo ser aplicado como revestimento de móveis e paredes, em divisórias e até em luminárias.
Jateamento foi a técnica escolhida para decorar esta porta de vidro Conlumi. Transparência com privacidade
Segundo a empresa, o SGG Unique melhora o rendimento da chapa, pois não possui uma direção de corte, e pode passar por diversos tipos de processamento. Já o processo de impressão de textura é feito em linha de produção contínua. Depois de pesada e misturada, a matéria-prima segue até o forno, onde ocorre a fusão a alta temperatura. Em estado viscoso, o vidro passa por dois cilindros de aço inox, etapa em que é estampada uma textura em sua face inferior. O vidro passa, então, pelo processo de recozimento, que é o seu resfriamento de forma totalmente controlada.
Na fábrica da Cebrace, onde o espelho ecológico é produzido e pintado a frio
A Cebrace emprega a técnica de pintura a frio na linha de fabricação do Espelho Cebrace e das linhas decorativas Coverglass e Prisma. Nesse processo, o vidro float é limpo, recebe uma camada de tinta e vai para secagem. Na linha Prisma, com espessuras maiores (de 12, 15 e 19 mm), no momento da fabricação, aumentam-se os controles para despejar maior volume de massa de vidro. É um material bastante usado em cubas de vidro, por exemplo. Já o vidro extra-clear Diamant é fabricado com menos óxido de ferro na composição da massa do vidro, o que lhe dá um tom diferente do esverdeado do vidro comum. Outra técnica utilizada pela fabricante é o processo pirolítico, que consiste na aplicação a quente de camadas de óxidos metálicos em uma das faces do vidro Reflecta, conferindo-lhe um aspecto espelhado, adequado para aplicação em portas de armários e boxes.
PINTANDO DESAFIOS
De forma geral, quase todos os vidros podem ser pintados, com exceção do low-e. Porém, a ColorSpray já consegue colorir esse tipo de vidro. Segundo o gerente de Vendas, Ricardo Figueiredo, a empresa usa o sistema de pintura manual, com pistola e ‘a frio’, que permite a pintura de qualquer tipo de vidro, incluindo o curvo.
Os tipos de tinta para vidro mais utilizadas são as cerâmicas, à base de água e solventes. A ColorSpray produz uma resina solvente, com pigmento acrílico, a fim de garantir durabilidade por pelo menos 10 anos. Diferentemente da maioria dos sistemas de pintura similares no mercado, o ColorSpray seca a frio. A utilização do sistema à base de água mostrou-se uma opção eficiente e sustentável por sua formulação com matérias-primas específicas para o vidro. A Tecbril apostou no lançamento da tinta Base Água, de alta resistência a produtos de limpeza, desenvolvida para utilidades domésticas.