Balé arquitetônico

Balé arquitetônico

Capa: Balé arquitetônico

Cada vez mais empregadas na arquitetura moderna, as fachadas multifacetadas de vidro têm sido responsáveis por alguns dos mais belos efeitos visuais obtidos por empreendimentos de função e uso variados, de museus, bibliotecas e centros culturais a impotentes edificações corporativas. Por meio de uma linguagem estética que busca se distinguir nos cenários das grandes cidades, por vezes saturados de prédios padronizados, elas marcam as corporações que representam por meio de uma linguagem arquitetônica vívida e cristalina, que combina reflexão, transparência, geometria e dinamismo. 

 

Com um rol de nomes reconhecidos internacionalmente, a arquitetura dinamarquesa ostenta belíssimos exemplos dessa tendência. Entre os mais recentes e emblemáticos está o The Crystal, em Copenhague, projeto corporativo erguido para sediar o grupo financeiro Nykredit e assinado pelo arquiteto Henning Larsen e sua equipe do Schmidt Hammer Lassen Architects. 

“Trata-se de uma extensão da sede original do Nykredit, que no entanto se impõe no cenário como um novo edifício formado de um bloco único, transparente e de geometria diferenciada”, explica Lassen.
Concluída em 2010, a obra caiu nas graças de arquitetos e críticos do mundo todo. Tanto que, no ano seguinte, propiciou ao escritório dinamarquês o primeiro lugar do Emirates Glass LEAF Award, importante prêmio internacional de arquitetura, na categoria “Melhor design estrutural do ano”. Erguido ao lado da sede anterior do Nykredit, um edifício também envidraçado apelidado de “Glass Cube”, o The Crystal nasceu para interagir não somente com seu vizinho, mas também com a orla que o tangencia e com a Copenhague histórica. 

 

Estrela principal da extensa praça que o abriga, o edifício desenha na paisagem um bloco marcado por linhas retas e formas geométricas, envelopado com vidro em todas as faces. “O bloco transparente toca o chão em um único ponto, equilibrando-se em apenas uma linha vertical, de modo que flutua sobre a praça por meio de sua estrutura leve e cristalina”, descreve Kim Holst Jensen, parceiro criativo de Lassen. “Tanto o edifício como a praça foram especialmente projetados para interagir uns com os outros, bem como com a cidade ao redor.”

 

A edificação demarca um ponto intermediário entre a cidade e o porto, harmonizando-se com edifícios vizinhos, de arquitetura igualmente marcante, caso da Elephant House, monumental cobertura envidraçada construída para servir de morada aos elefantes do zoológico da cidade. “Uma passagem aberta sob o edifício permite uma visão limpa para a sede principal do Nykredit e para o porto”, ressaltam os arquitetos.

 

Fachada ventilada 

 

Sob todos os ângulos pelos quais são contempladas, as superfícies envidraçadas da fachada capturam e refratam belos efeitos luminosos do pôr do sol, além de imagens da tradicional linguagem arquitetônica dinamarquesa que marca os edifícios históricos ao lado. Conhecido como fachada ventilada, o sistema é constituído por duas camadas, uma de vidros triplos insulados de alta eficiência energética e outra de vidros laminados de temperados. Esta última, que forma a superfície externa, integra painéis solares e é decorada com vidros pintados, marcados por um padrão sutil em silk-screen (serigrafia). “Esses vidros cumprem também a função de reduzir a penetração solar, refletindo a luz natural e conferindo ao prédio um caráter homogêneo que acentua sua forma escultural”, diz Lassen. 
Segundo ele, o design do Crystal foi inspirado pelas “fascinantes formas da natureza”, e se distingue dos prédios convencionais por sua escultura precisa, que se ergue elegantemente a partir do subsolo da praça. Uma abordagem holística por parte da equipe de projetistas garantiu uma estratégia ambiental implícita em cada elemento escolhido para compor a fachada dupla. Nesse sentido, os vidros exercem papel fundamental, pois fazem do edifício uma “caixa transparente de luz“ com baixíssimo consumo de energia elétrica, de aproximadamente 70 kW por m², 20% a menos do que a legislação vigente no pais exige. “O uso da fachada ventilada como mediador da climatização interna está entre as principais inovações do projeto”, diz Lassen. “A fachada dupla inclui um espaço livre entre suas camadas, que promove ventilação natural, capaz de dissipar o ar quente produzido pelo sol antes que ele afete a temperatura interna do edifício.”

 

Os painéis fotovoltaicos que recobrem toda a extensão do telhado também contribuem de forma decisiva para o desempenho energético da edificação. Altamente eficientes, são capazes de gerar aproximadamente 80 mil kWh de energia por ano. “Além disso, a fachada interna é composta por vidros triplos, que proporcionam altíssimo isolamento térmico”, ressalta a equipe. Fabricados pela Saint-Gobain Glass, os vidros triplos estão presentes nas quatro faces. A escolha dos projetistas recaiu sobre o Planilux e o Planistar. Entre as chapas de vidro, a camada de gás argônio tem aproximadamente 15 mm de espessura. 

 

Já os vidros temperados, serigrafados e laminados que compõem a camada externa foram fornecidos pela Schollglas. As chapas foram aplicadas em sistema unitizado, com perfis de alumínio especialmente desenhados para o projeto, formando painéis de 3 m de largura. A instalação ficou a cargo da dinamarquesa HSHansen, pertencente ao conglomerado europeu Hansen Group. Ao todo, o projeto ostenta nada mais nada menos do que 4 mil m² de superfície envidraçada.