Ao assumir o projeto desta cobertura em São Francisco, na Califórnia, a arquiteta Anne Fougeron, do Fougeron Architecture, deparou com uma série de desafios. O principal deles era converter um armazém fechado e escuro em um espaço moderno e elegante, que pudesse incorporar um escritório e uma área residencial na mesma edificação. “A jovem família proprietária nos pediu que concebêssemos uma espécie de santuário, que abraçasse a estrutura e a paisagem da cidade e, por outro lado, que criasse uma atmosfera intimista, convidando ao repouso e ao descanso”, conta Anne.
Situada em distrito repleto de velhos armazéns abandonados, a edificação deveria refletir em suas escolhas construtivas a vibração de um bairro novo. Para dar conta dessa tarefa, Anne priorizou recursos que contribuíssem para transformar essa característica da região em cada edifício ali construído ou reformado. “Nosso intuito foi promover uma renovação ousada, mas que ainda assim se harmonizasse com seu entorno”, diz a arquiteta. “Para isso, combinamos elementos novos e antigos para dar vida a um armazém repaginado”.
Segundo a arquiteta, o uso extensivo do vidro foi essencial para cumprir o propósito central do projeto, que era fazer de um armazém sombrio uma residência arejada e inundada por luz natural. “Optamos por incorporar ao projeto uma área de lazer interna e fechá-la com vidros nas laterais, acrescentando no espaço do deck uma cobertura escultural, rasgada por uma série de claraboias”, descreve Anne.
“Esta solução permitiu reduzir o peso da iluminação artificial e aumentar o nível de conforto para os moradores. Seguindo o desenho do antigo armazém, a nova cobertura ganhou um formato natural e integrado à paisagem da cidade, como um grande inseto pousando suavemente na superfície do edifício”. Não por acaso, a residência foi apelidada de “Tehama Grasshopper”. Tehama é o nome da região da Califórnia onde a casa está instalada, e “grasshopper” significa gafanhoto em inglês.
O projeto da Fougeron Architecture resultou em uma casa distribuída em três ambientes principais e interligados, cada um com sua própria personalidade e função: escritório, sala de estar e cobertura. “A rigidez da estrutura original, de concreto, foi diluída e distribuída em um jogo sutil entre iluminação, superfícies, níveis e espaços internos e externos, intensificando a experiência de vida urbana e tornando-a tão rica em suas texturas quanto a cidade em si”, ressalta a arquiteta.Diálogo com a cidade
A combinação de elementos industriais e residenciais está entre as características marcantes do projeto. No segundo andar, o mais usado pelos jovens proprietários, o foco principal está voltado para o novo pátio, que cumpre a função de conectar a edificação à área externa, promovendo um corte vertical capaz de oferecer múltiplas camadas de transparência e pontos de vista distintos para quem se desloca de um andar a outro. “Sobretudo, o uso do vidro permite misturar os espaços internos com o exterior, promovendo um sugestivo jogo de luz e sombra”, diz Anne.
Segundo a arquiteta, o material foi amplamente explorado em todo o projeto, sempre com o intuito de alcançar os níveis de abertura e transparência desejados pelo cliente. “Mais do que em outros projetos, o vidro foi um recurso predominante em áreas externas, tanto nos guarda-corpos como em paredes e divisórias, sempre com o intuito de organizar a distribuição e separação dos espaços programados, sem perder a conexão visual, que era uma das principais exigências dos proprietários”.
Para garantir isolamento acústico e alto desempenho térmico, a escolha recaiu sobre unidades insuladas com vidros low-e, o que contribuiu para uma redução significativa dos ganhos de calor dentro dos ambientes. Para o fechamento, chapas de formatos triangular e trapezoidal garantiram a flexibilidade necessária para criar o desenho arejado da cobertura. Os painéis foram fixados em estruturas de aço na forma de HSS (Hallow Section Stell), sigla para “perfil de aço oco”. “Essas estruturas foram as mais indicadas para criar o formato da cobertura, que simula asas de borboleta batendo”, cita Anne. “Para sustentação das chapas facetadas de vidro, foi necessário empregar esquadrias de aço sob medida.Além disso, finas vigas de aço de formato cônico atuam como suporte do delicado teto de vidro”.
Nos níveis inferiores, caixilhos especiais foram projetados para reforçar uma superfície transparente contínua e sem interferências visuais. “O cliente nos solicitou uma aparência interna predominantemente marcada por transparência”, ressalta Anne. “Por isso, praticamente todas as aplicações internas do vidro foram feitas sem fixação aparente”. Segundo a arquiteta, além do aspecto funcional, o vidro também foi parte essencial do design do projeto. “A proposta foi criar uma casa visualmente aberta, que celebrasse a vida urbana por meio de uma intensa conexão com a cidade lá fora. De todos os pontos da casa é possível desfrutar de vistas de tirar fôlego para o horizonte de São Francisco”.