Situada entre os mais importantes players da indústria vidreira em âmbito global, a multinacional Guardian anunciou recentemente a venda de uma parcela minoritária de suas ações para o segundo maior conglomerado privado do mundo, a norte-americana Koch Industries. Também de origem norte-americana, a fabricante de vidros planos e espelhos passou para a Koch 44% de suas ações, em uma operação concluída no último mês de dezembro. Simultaneamente, as empresas anunciaram a nomeação de um novo presidente e CEO para compor o conselho gestor da Guardian Industries, Ron Vaupel, ex-presidente da Koch Hidrocarbon Co. LP e ex-vice-presidente de desenvolvimento de negócios da Koch Industries, posição que ocupava desde 2002. A Guardian Glass permanece sob a presidência de Scott Thomsen.
A transação foi concretizada após um longo período em que a família Davidson, proprietária da Guardian, avaliou diversas propostas tendo em mente o objetivo de que a empresa permanecesse no setor privado e de que mantivesse uma cultura corporativa similar. Somadas a isso, a expertise e a forte presença global da Koch foram decisivas na transação. “Guardian e Koch são empresas globais, familiares, com negócios nas principais capitais do mundo. Apresentam uma cultura empresarial muito semelhante e gestão focada no negócio”, comenta a diretora de marketing da Guardian Brasil, Ana Paula Camargo. “Além disso, são empresas que primam pela qualidade de produtos e serviços e que atendem o consumidor de forma comprometida e eficiente, respeitando as peculiaridades dos países onde atuam.”
“Existem inúmeros pontos de sinergia entre a Guardian e as empresas do grupo Koch. Já estamos interagindo em diversas operações e nos beneficiando em áreas como supply chain, pesquisa e desenvolvimento, excelência operacional e transacional e recursos humanos”, declarou Scott Thomsen, presidente e CEO mundial da Guardian Glass, em entrevista concedida a Vidro Impresso. “Podemos recorrer a um vasto conjunto de talentos e recursos para ajudar a fazer da Guardian uma empresa mais forte. Isso vai impactar positivamente no Brasil em muitas outras frentes de atuação da empresa.”
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A Koch Industries é um dos maiores conglomerados privados do mundo, com 60 mil funcionários, tendo gerado uma receita de US$ 110 bilhões em 2011. Liderada pelos irmãos David e Charles Koch, que detêm uma participação acionária de 84%, a holding inclui, além da Guardian, a Georgia-Pacific, a fábrica de tapetes Stainmaster Co Invista, a Koch Pipeline. LP, a fabricante de produtos químicos Flint Hills Resources LP, a Koch Fertilizer LLC e a Koch Agricultural Co.
Com a aquisição, a Koch passa a integrar, com a família Davidson, o conselho gestor da Guardian, uma das maiores empresas no segmento de vidros e espelhos, presente em mais de 25 países e que emprega 19 mil funcionários. No mundo, aproximadamente dois terços da receita da Guardian são gerados pelo segmento de vidro. Suas unidades de negócios nesse setor incluem construção, energia solar, eletrônicos e produtos automotivos. Segundo Ana Paula Camargo, deve prevalecer também na operação brasileira a tendência mundial da empresa de se voltar cada vez mais para o mercado de geração, armazenamento e conservação de energia. “Estamos trabalhando na vanguarda, acompanhando o padrão mundial”, diz a diretora. “Mas para que todos possam se beneficiar, é importante o incentivo do governo ao uso materiais com mais eficiência energética, cenário em que o vidro pode ter papel de destaque.”
A entrada de novos players no mercado nacional, como a multinacional japonesa AGC e a brasileira CBVP, é vista pela Guardian como estímulo para uma postura cada vez mais competitiva. “A Guardian já compete há muitos anos no mercado nacional, principalmente com vidros importados”, frisa Ana Paula. “A principal mudança é que a concorrência vai oferecer novas perspectivas às empresas e aos consumidores, com produtos fabricados localmente, sem subsídios governamentais, algo que resulta em valores de comercialização semelhantes. A crescente evolução da qualidade na fabricação e no atendimento, como também desenvolvimento de produtos que atendam às necessidades do consumidor brasileiro, já fazem parte do padrão Guardian e serão mantidos como estratégia para lidar com a concorrência.”
Para a diretora, a falta de conhecimento e de aprimoramento da cadeia vidreira é um grande desafio para indústria local, que precisa investir em treinamento e recursos para que as informações sobre o uso do vidro sejam transmitidas por todos os canais, de estudantes a vidraceiros. E exemplifica: “Atualmente o curso de arquitetura aborda o vidro em menos de 4 horas de seu programa. Se olharmos à nossa volta, vamos notar uma tendência local e mundial ao uso de pele de vidro em edifícios, em busca de eficiência energética, interação com o ambiente externo, iluminação, etc. Mas os formandos brasileiros não estão sendo preparados adequadamente. E isso se estende a escritórios de arquitetura, designers, processadores etc.”
Confira, a seguir, entrevista com Scott Thomnsen.
Entrevista
Scott Thomsen – Presidente e CEO da Guardian Glass
Scott Thomsen
Qual a importância do mercado brasileiro para Guardian?
O Brasil um país grandioso tanto em termos territoriais quanto populacionais, com uma economia que continua crescendo ano a ano. Identificamos uma tendência de forte aumento do consumo per capita de vidro plano nos próximos anos. À medida que a classe média cresce, aumenta a demanda por produtos que usam o vidro como matéria prima básica. Nossa atenção está especialmente voltada para os códigos energéticos na América do Sul, fator-chave para o aumento do consumo de vidro.
Como descreve a atuação da empresa no Brasil nos últimos anos?
O primeiro investimento da Guardian no Brasil ocorreu em 1998, com a implantação de nossa planta de float em Porto Real. Desde então temos aumentado constantemente nossa presença e grau de investimento. Nosso foco principal é e continuará sendo em produtos de maior valor agregado, como os vidros de controle solar, revestimentos de baixa emissividade, espelhos, vidros laminados, pintados, coloridos etc.
Como avalia o potencial do mercado brasileiro? Acredita que o Brasil apresentará aumento da demanda suficiente para justificar o investimento em novas linhas de float?
Essa é uma questão difícil de responder em poucas palavras. Há um grande potencial de crescimento para o vidro no Brasil e são muitos os fatores que podem desempenhar papel importante nesse processo. Um fator crucial será a capacidade do governo de manter um forte crescimento do PIB ano após ano, ao mesmo tempo em que mantém o controle da inflação. Em comparação com outras economias do mundo, o custo de produção no Brasil tem crescido, o que pode tornar o País suscetível a uma enxurrada de importações de países que apresentam baixo custo da produção. Isso tende a reduzir o investimento local na produção de vidro. Outro fator que vai impactar a demanda de vidro é a questão enérgica. Em mercados como o norte-americano e o europeu, por exemplo, o crescimento do setor vidreiro, em termos de produção e valor, tem sido impulsionado pela busca de eficiência energética em edifícios residenciais e comerciais. Hoje, 70% do consumo global de vidro está voltado para aplicação em fachadas de edifícios residenciais e comerciais. Se os códigos de eficiência energética não conduzirem ao uso de mais de uma lâmina de vidro por abertura, a demanda permanecerá limitada.
A Guardian pretende investir em novas plantas no País nos próximos anos?
Estamos avaliando múltiplas propostas de negócios para expandir nossa presença no Brasil.
De que forma a Guardian Brasil pretende ser mais competitiva a partir da chegada de novos players ao mercado nacional?
Nossa abordagem para sermos competitivos é muito simples: foco implacável em qualidade, redução de custos e um senso de urgência quanto a agregar mais valor aos nossos produtos.
Pesquisas recentes divulgadas pela Abravidro apontam que o consumo per capita de vidro no Brasil é baixo em relação a outros países. A que a Guardian atribui esse quadro?
O consumo per capita é baixo se comparado ao de outras regiões, mas está crescendo em ritmo constante.
Qual a responsabilidade de cada elo da cadeia para eliminar as barreiras ao pleno desenvolvimento da indústria vidreira no Brasil?
Esta é uma pergunta muito boa. Os vidros de hoje podem trazer incontáveis benefícios em termos de eficiência energética, conforto, segurança, flexibilidade de design, estética e sustentabilidade. Todos os envolvidos na fabricação e na venda dos produtos devem trabalhar incansavelmente para transmitir essas vantagens ao consumidor final.