Amplamente empregados em projetos arquitetônicos europeus, os vidros especiais resistentes a fogo disponíveis hoje no mercado dispõem de tecnologia capaz de bloquear o curso das chamas no caso de um incêndio. Embora ainda não fabricados no Brasil, têm-se disseminado entre arquitetos e especificadores que buscam um diferencial tecnológico e de segurança em projetos que vão de clínicas e hospitais a escritórios e edifícios comerciais. “Esses vidros são indicados principalmente para escritórios que necessitam de compartimentação, em saídas de emergência e rotas de fuga de locais públicos como shopping centers, estações de trem e aeroportos, além de coberturas e laterais de túneis e fachadas de prédios”, afirma Carlos Henrique Mattar, gerente de desenvolvimento de mercado da Cebrace.
Detalhes para especificação dos vidros à prova de fogo
1. Tipo de aplicação e local a ser instalado. Ex: rota de fuga, áreas enclausuradas, porta, divisória, visor, etc.;
2. Tempo exigido de acordo com as Instruções Técnicas do Corpo de Bombeiros local. Ex: A integridade pode variar de 30 a 120 minutos ou isolamento de 15 a 120 minutos. Essa informação determinará a espessura do vidro;
3. Dimensões. De acordo com as normas internacionais, a dimensão da peça poderá influenciar no tempo de resistência requerido e consequentemente em sua espessura;
4. Caixilhos. Somente os caixilhos em aço inox ou aço pintado com as mesmas características do vidro são aprovados. Não é possível a utilização de perfil U;
5. Tipo de acabamento e materiais de vedação. A linha de vidros resistentes ao fogo fabricadas pela SCHOTT segue com fita de vedação denominada I-10, a ser aplicada em frente e verso em todo o perímetro da peça. (Fonte: Schott)
Os custos mais altos e a dificuldade de adequação às normas brasileiras estão entre os principais fatores que limitam a difusão dos vidros resistentes a fogo no Brasil. “Por ainda serem importados, esses vidros acabam sendo mais caros do que as soluções tradicionais”, afirma Mattar. “A concorrência com o aço e a não exigência desse material por parte do corpo de bombeiros são outros aspectos que limitam a expansão do produto.”
O museu da Mercedes Benz em Stuttgart, na Alemanha, usou em suas janelas 50 m2 de vidro Pyran S serigrafado, da Schott. O produto evita que chamas e vapores penetrem nos ambientes por até duas horas e mantém a transparência mesmo sob altas temperaturas
Segundo a gerente de vendas da alemã Schott, Viviane Moscoso, ainda são muitos no Brasil os arquitetos, engenheiros, construtores e bombeiros que desconhecem esse tipo de solução. “Não temos uma norma específica para vidros resistentes ao fogo ou uma instrução técnica nacional que facilite uma mesma linguagem em diversos Estados”, comenta Viviane. Apesar dessas limitações, no entanto, ela informa que a empresa tem conseguido difundir as aplicações dos seus vidros antifogo no Brasil, onde são comercializados pela Glassec Viracon e SSG Consultores, além da própria Schott.
No caso de aplicação em lareiras, o material utilizado é o vitrocerâmico, que tem grande resistência a choques térmicos e a amplas variações de temperatura. Este tipo de vidro oferece a vantagem de impedir a passagem da fumaça produzida pela lareira, mas deixar passar o calor para o ambiente a ser aquecido. É o caso do Robax, da Schott, que, com apenas 4mm de espessura, pode chegar a uma vida útil de 5 mil horas, sob uma temperatura de 560º.
São dois os tipos de vidro resistentes a fogo comercializados atualmente: o corta-fogo, ou antifogo, e o para-chamas, também conhecido por para-fogo ou antichamas. As diferenças entre os dois incluem o tipo de fabricação e a finalidade a que se destinam. O vidro antichamas tem função de bloqueador do fogo. Como barreira física, impede que as chamas e os gases se alastrem de um ambiente para outro. Já o corta-fogo, além de bloquear as chamas e gases, também impede a transmissão do calor, ou seja, cria vedação térmica. “O vidro antichamas pode ser monolítico, ou seja, formado por apenas uma chapa de vidro. Já o tipo corta-fogo precisa ser laminado ou duplo, pois terá dentro dele um material capaz de barrar o calor”, explica Mattar.
O antichamas é um vidro temperado que, em seu processo de fabricação, recebe a adição de outros materiais para ficar mais resistente ao fogo. O boro é um dos produtos mais usados nessa mistura e é daí que vem o termo boro-float usado para vidros resistentes ao fogo. Com espessura de 5 a 12 mm, suporta exposição ao fogo por 15 a 120 minutos.
A gerente de vendas da Schott explica que o diferencial entre os dois tipos de produto reside na integridade ou isolamento exigidos em cada aplicação. No caso da fabricante alemã, o produto que garante integridade é o parachamas Pyran S, vidro monolítico em borosilicato, plano, temperado e resistente a altas temperaturas. “Ele impede a passagem de gases tóxicos e fumaça, mas deixa passar o calor”, informa Viviane. “A vantagem é que, no caso de um incêndio, continuará transparente, facilitando a evacuação das áreas atingidas”.
Na segunda classificação, que atende a necessidades tanto de integridade quanto de isolamento, encaixa-se o corta-fogo Pyranova, multilaminado com camadas intumescentes que tornam o vidro gradualmente opaco e barram a passagem de gases tóxicos, fumaça e calor. “A espessura do vidro será determinada pelo tempo de resistência exigido”, acrescenta a gerente, lembrando que esses vidros são fabricados sob medida e, portanto, não podem ser comercializados em chapas.
CAIXILHOS
Especificação e instalação adequadas são fatores determinantes para o bom desempenho dos vidros à prova de fogo. A utilização de caixilhos com classe e tempo de resistência igual ou superior ao do vidro é fundamental para garantir o nível de proteção e segurança desejado. “Além de levar em conta o local de instalação ou o tempo de resistência necessário, é preciso adotar uma solução de caixilhos adequada ao produto”, ressalta Lanza, da Pilkington.
A especificação depende de uma consultoria completa, já que a instalação dos vidros demanda esquadrias, silicones e folgas específicas, igualmente resistentes ao fogo. “E todos os materiais precisam ser testados e aprovados pelos bombeiros e laboratórios específicos”, completa Mattar, da Cebrace.
Classificação do desempenho contra incêndio
E = ESTABILIDADE
Os vidros antichamas oferecem resistência mecânica à passagem de gases, chamas e fumaça em um incêndio.
EI = ESTABILIDADE E ISOLAMENTO
Já os vidros corta-fogo apresentam as mesmas características do antichamas e ainda conseguem barrar a transmissão de calor por radiação
e condução.
O Shanghai Opera Theatre, na China, recebeu vidros Pyroswiss, da Saint-Gobain Glass. Ainda não comercializado no Brasil, o produto encaixa-se na categoria antichamas e destina-se a obras que tenham de satisfazer critérios de bloqueio de chamas e gases quentes por um período de 30 a 60 minutos
Embora a resistência esteja normalmente relacionada à espessura do vidro, esse não é o único fator a determinar por quanto tempo ele se manterá íntegro em contato com o fogo. “A resistência é proporcional à espessura, mas mais importante que isso é a matéria-prima, o tratamento térmico e o número de camadas de gel que o vidro recebe”, afirma Carlos Henrique Mattar, da Cebrace.
Entre os antichamas, o que conta mais é a composição química. Mattar informa que esses vidros são fabricados em um processo de têmpera diferenciado e submetidos ao chamado “heat soak test”, de maneira a não estourar com a alta temperatura. “Os vidros com boro na composição, como o Marinex, têm expansão reduzida em alta temperatura, por isso não quebram”, explica.
Quanto à espessura, no caso do Pyran, da Schott, por exemplo, um vidro de 6mm corresponde a um resistência de 90 minutos. Nos demais casos, que variam de 8mm a 15mm, o tempo de resistência é mesmo: 120 minutos.
A resistência também está ligada à área da peça. Um vidro antichamas com integridade garantida por duas horas não poderá ultrapassar 3,53 m2. Já para integridade de uma hora, a área máxima não poderá passar de 4,08 m2. Em ambos os casos, essa relação independe da espessura.
Entre os vidros corta-fogo, a resistência tem relação direta com a quantidade de camadas de gel intumescente aplicadas na composição. “O maior número de camadas de gel resulta em um maior número de lâminas, tornando o vidro tanto mais espesso, quanto maior o período de resistência necessário”, afirma o arquiteto Julio Cesar Lanza, da Pilkington, fabricante do corta-fogo Pyrostop.
Dessa forma, uma resistência de 60 minutos pode ser alcançada com um vidro duplo, mas para 120 minutos será preciso pelo menos um vidro quádruplo. Dentro dos limites da obra, é possível estender o número de camadas de gel e vidro (e a espessura, por consequência) para se obter o nível de proteção desejado. No caso do Pyranova, da Schott, por exemplo, o vidro de 15mm resiste por 30 minutos, o de 19mm por 45 minutos e assim por diante, até o mais espesso, de 54mm, que pode chegar a 120 minutos de resistência. Assim que atinge seu limite de resistência, o vidro começa a ceder. O antichamas pode derreter ou abrir pequenos furos, enquanto o corta-fogo começa a apresentar furos.