Normatização Avança: Saiba quais são as mudanças propostas para as normas técnicas

Normatização Avança: Saiba quais são as mudanças propostas para as normas técnicas

Capa: Normatização Avança: Saiba quais são as mudanças propostas para as normas técnicas

A preocupação com a qualidade e segurança das instalações com vidro aumenta a cada dia e o assunto normas técnicas está constantemente sendo colocado em pauta. O mercado se movimenta para rever as necessidades de melhorias nas regulamentações atuais e criar requisitos inexistentes até então, como as Norma de Ferragens, de Profissionalização do Vidraceiro, do Vidro Termoendurecido ou Semitemperado e dos Sistemas de Blindagem, que irá orientar sobre o vidro antivandalismo, que não é considerado propriamente um vidro blindado, pois não resiste a certos armamentos, mas é o tipo de vidro mais utilizado na indústria vidreira para resistir à agressão mecânica e alguns tipos de bala.

Já as normas de de Guarda-corpo e Vidro Laminado passam por um processo de readequação. O mercado também vem se mobilizando para sanar alguns entraves em relação à disseminação dessas importantes informações, já que cumprir estes requisitos é o mínimo para garantir uma instalação segura. Durante muito tempo, a maioria dos profissionais pouco sabia sobre o conteúdo das normas, muito menos seguia as regras e orientações, seja por falta de conhecimento, dificuldade de entendimento ou alto custo de acesso aos documentos.

Recentemente, as reuniões das normas técnicas, que sempre estiveram abertas a receber qualquer profissional, passaram a ser transmitidas pela internet, ampliando e facilitando o acesso de quem quiser acompanhar, de qualquer lugar do País. “A participação remota disponibilizada pela ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) nas reuniões das comissões de estudos era uma demanda antiga da sociedade e para permitir a colaboração de empresas do País todo.

Com a a presença dos vidraceiros vem crescendo cada vez mais e eles têm a oportunidade de apresentar suas contribuições em relação aos temas abordados. A tecnologia tem sido usada por profissionais da Bahia, Brasília, Espírito Santo, Mato Grosso, Minas Gerais, Paraná, Pernambuco, Rio de Janeiro, Rondônia, Santa Catarina, interior de São Paulo, entre outras regiões, alguns deles pela primeira vez participando da elaboração de uma norma”, destaca Clélia Bassetto, analista de Normalização da Abravidro (Associação Brasileira de Distribuidores e Processadores de Vidros Planos).

Agora a participação nos processos de elaboração e revisão das normas se tornou mais acessível a todos e vidraceiros e instaladores, que estão na ponta dessa cadeia e, podem ter uma expressão maior. “Os processos de elaboração de normas são abertos à participação de todos os interessados, mas isso depende de disponibilidade e de disposição para dedicar algum tempo a esse trabalho. A busca para ampliar a participação de pessoas e empresas na elaboração das normas sempre foi uma bandeira da Abravidro e do Comitê Brasileiro de Vidros Planos (ABNT/ CB-37).

Com mais profissionais participando dos processos, a conscientização sobre a aplicação das normas técnicas também aumenta, trazendo mais segurança. O interesse tem aumentado nos últimos tempos e a possibilidade da participação remota contribui para a presença daqueles que gostariam de frequentar as reuniões, mas não estão em São Paulo”, complementa a analista de normatização da Abravidro.

Uma grande reclamação dos vidraceiros é em relação ao texto muito técnico das normas e da difi culdade de entendimento de itens. Para sanar este problema, Clélia diz que as comissões de estudos têm trabalhado na redação dos textos para eliminar dúvidas de interpretação e tornar as informações mais claras, didáticas e completas dentro dos limites técnicos e dos parâmetros estabelecidos pela ABNT. “É importante destacar que a Abravidro está à disposição para esclarecer quaisquer dúvidas sobre as normas do setor”. Qualquer profi ssional hoje pode participar das reuniões, remota ou pessoalmente, basta se inscrever nas comissões de estudo de cada norma da ABNT/CB-37. https:// abravidro.org.br/normas-tecnicas/abnt-cb-37/

Norma de profissionalização do vidraceiro

No momento o comitê está na fase de definição das competências que cada vidraceiro deve ter, as quais foram divididas em vidraceiro vendedor, vidraceiro especificador, vidraceiro transportador e vidraceiro instalador.

Em agosto de 2016 iniciaram as reuniões da mais aguardada norma do setor, que tem o intuito de determinar as competências mínimas de um vidraceiro e definir categorias em diferentes níveis e especialidades. “Estamos dando um passo à profi ssionalização de nosso setor. O vidraceiro é o indivíduo mais importante da cadeia, pois ele precisa conhecer de vidro, de ferragem, de alumínio, de substrato, de aplicações, enfim, é este profissional que irá realizar o desejo e o sonho do cliente na aquisição do produto em si”, avalia Cirilo Paes, técnico em aplicação de produtos da Glass Peças. A previsão é terminar a elaboração do texto até o final deste ano, porém, como se trata de um trabalho discutido em detalhes, por se tratar da primeira norma relacionada ao profissional vidraceiro, este prazo não pode ser previsto com precisão. 

No momento o comitê está na fase de definição das competências que cada vidraceiro deve ter, as quais foram divididas em vidraceiro vendedor, aquele que tem o primeiro contato com o cliente e que irá colher as informações para que elaboração do orçamento; vidraceiro especificador, que especifica corretamente os produtos de acordo com as normas vigentes do nosso setor e as NR’s vigentes; vidraceiro transportador, profissional responsável pelo manuseio, transporte e logística dos produtos relacionados ao projeto em questão; e o vidraceiro instalador, que faz instalação dos vidros, componentes, perfis e outros itens referentes a cada tipo de aplicação do vidro.

“É importante frisar que todos estes profissionais terão pré requisito para exercer cada uma destas competências, podendo inclusive acumular todas, que seria o caso do vidraceiro MEI, que executa todas estas funções”, acrescenta Paes. “Esta norma terá uma importância muito significativa para a profissão do vidraceiro, pois será através dela que iremos elevar o nível do profissional. Até hoje nosso setor tem sido desqualificado e desinformado, o vidraceiro é uma profissão que se aprendia por observação, hoje temos vários cursos, em nosso mercado que tem colaborado bastante para a qualificação do vidraceiro, mas isso não é o suficiente, temos que criar um cultura em todo o setor para que o profissional que queira trabalhar com vidro ter no mínimo o conhecimento básico do produto que trabalhamos. A ideia não é tirar ninguém do mercado, mas adicionar conhecimento àqueles que estão no mercado e cobrar o conhecimento daqueles que irão entrar. Com isso teremos melhores serviços, melhores profissionais, um profissional mais valorizado, e principalmente, serviços com segurança”, afirma.

Atualização das normas de guarda-corpo e vidro laminado

O texto da norma técnica NBR 14.718 – Guarda-corpo em Edificações, criada em 2001, estava em discussão desde 2016 e entrou em consulta pública no último mês. O intuito da revisão foi deixar a norma mais abrangente em relação aos materiais utilizados nos guarda-corpos e suas aplicações. Uma das principais questões é que a norma vigente excluía as aplicações em aeroportos e demais áreas com grande aglomeração de pessoas. “Na época se considerava que estas áreas deveriam ter um estudo específi co e os valores da ABNT NBR 14.718 deveriam ser adotados como mínimos, mas não foi o que aparentemente aconteceu. Portanto, esta nova revisão contou com profissionais que estão projetando e executando guarda-corpos para estas áreas. Então, as mesmas agora fazem parte do escopo da norma, que se tornou mais abrangente, incluindo as aplicações de guarda-corpos em shoppings, estádios, aeroportos e outros”, explica a engenheira Fabiola Rago Beltrame, coordenadora da Coordenadora da CEE-191 – Comissão Especial de Estudos de Esquadrias, da qual faz parte o grupo responsável pela revisão da NBR 14.718.

Os requisitos são basicamente os mesmos, o que terá alteração são as cargas a serem aplicadas, explica Fabíola, agora com uma aplicação mais ampla de acordo com o local de instalação do guarda-corpos e a altura em função das pressões de vento que a norma vigente não considerava. Os testes a serem realizados nos guarda-corpos não tiveram alteração, apenas estão um pouco mais detalhados para não gerar dúvidas aos laboratórios. Os locais onde se aplicam as cargas e são realizadas as leituras estão mais detalhados. Outras peculiaridades também foram observadas neste processo de revisão, conforme explica o professor colocar professor de cursos para vidraceiro da Lead Escola de Negócios. “Alguns sistemas de guarda-corpo mais modernos utilizam vidros de segurança laminado de temperado, unindo a resistência mecânica do vidro temperado com a segurança do vidro laminado, cujo interlayer chamado PVB (Polivinil Butiral) tem a propriedade de manter os vidros unidos, mesmo quando o mesmo se quebra, permanecendo na estrutura. Contudo, em sistemas de fixação pontual tipo ‘Botton’ a fragmentação das duas peças de vidro da composição faz com que o vidro fique como um tapete mole, se dobrando Atualização das normas de guarda-corpo e vidro laminado para fora, perdendo as características de segurança. Nesses sistemas se faz necessário a utilização de interlayer rígido, chamado Sentriglass, que mesmo quando fragmentado permanece oferecendo segurança”. 

Outra norma que está sendo revista é a NBR 14.697 – Vidro Laminado, que foi criada em 2001, substituindo a NBR 13.821 de 1997, e que não tinha ainda passado por nenhuma revisão. Um dos itens revistos é a falta de tabela de empenamento do vidro. A norma de vidro temperado estabelece tolerâncias, mas esta norma não abordava o assunto. “Existe um limite em outras normas de desalinhamento, deslocamento, de uma chapa de vidro com a outra, mas na do vidro laminado não nenhuma referência. Os vidros não ficam exatamente paralelos, aparece a borda por não estar alinhado. Dependendo da situação dá para virar o lado do vidro e o problema não é visível, mas em outros casos não” explica Jackson Santos. “Estamos alinhando uma tabela de deslocamento das peças e usando as referências de outras normas para não haver conflito. 

 

 Teremos uma tabela de empenamento também”, completa. Leonardo Abreu destaca que o empenamento do vidro é uma omissão relevante na norma original. “Hoje a temos a proposta de indicarmos para o vidro laminado standard (formado por dois vidros monolíticos) um empenamento de 2mm/m e para o vidro temperado laminado 2,5mm/m. Ocorre que esta última tolerância é inferior àquela contida na NBR 14.698 (vidro temperado). Particularmente eu acredito que o vidro temperado laminado é um novo produto, cabendo portanto, parâmetros independentes. Estamos na busca desse consenso. Se assim for, se um beneficiador deseja produzir o vidro temperado laminado, precisa ajustar a qualidade do seu vidro temperado de forma a atender o que se pede na norma revisada. Além disto, o aumento no emprego do vidro temperado laminado evidenciou uma lacuna relevante a ser preenchida. Cabe destacar que as normas devem evoluir constantemente de acordo com os novos produtos e aplicações que se apresentam no mercado”

Uma série de outros tópicos não mencionados na norma original também estão sendo abordados, como qual deve ser a espessura mínima do interlayer, seja PVB, 
EVA ou resina, que varia de acordo com o tamanho do vidro a ser laminado. “Temos a sugestão de uma tabela indicativa e casos especiais deverão ser especifi cados em projeto”, diz Abreu. Outra questão são a inclusão de recomendações de instalação e cuidados relacionados à exposição das bordas dos vidros laminados, a utilização de silicones/selantes corretos, distorção óptica – aferimento do roller wave (onda de rolete) e a inclusão de recomendações de processamento, sendo obrigatória a lapidação das bordas dos vidros laminados processados. De acordo com Leonardo Abreu, a norma ainda está em fase de revisão e não há previsão de data para entrar em consulta pública.

Um dos itens revistos na NBR 14.697 – Vidro Laminado é a falta de tabela de empenamento do vidro, estabelecendo um limite de desalinhamento, deslocamento de uma chapa de vidro com a outra.

Criação de normas de ferragem

O texto da norma, que vem sendo elaborado desde 2012 em um processo complexo por se tratar da primeira no País, está em fase de fi nalização e em breve deve entrar em consulta pública. Um dos requisitos é a padronização de códigos e modelo da ferragem, que devem estar gravados de forma indelével na peça. “Antes o mercado tinha nomes padronizados, mas cada empresa foi replicando os modelos tradicionais do mercado com outros nomes, gerando várias nomenclaturas para o mesmo modelo. Agora vamos voltar a ter o mesmo código”.

A norma utiliza como referência até o momento apenas os modelos de ferragem Blindex e Santa Marina, mas provavelmente em uma breve revisão devem ser incluídos mais modelos, acredita o professor. O texto da norma está praticamente finalizado e em processo para entrar em consulta pública. “São muitos itens que precisaram ser definidos, afinal a norma foi criada do zero, não existia nada semelhantes antes, assim, se muitas orientações forem ainda incluídas, o processo de elaboração da norma pode se prolongar demais. Ajustes devem ser feitos conforme as necessidades”, acrescenta.

Um dos requisitos é a padronização de códigos e modelo da ferragem, que devem estar gravados de forma indelével na peça.

Mercado pede a revisão da ABNT NBR 7.199
 

Um assunto que vem sendo debatido no mercado vidreiro é a necessidade da norma NBR 7.199 – Projeto, execução e aplicações de vidros na Construção Civil, que foi revisada em 2016, ser atualizada novamente, pois muitos profissionais possuem dificuldade com a complexa explicação dos cálculos de espessura dos vidros. Os programas que fazem este cálculo orientam, mas precisam de um refinamento do profissional através de um conhecimento técnico. “A NBR 7.199  orienta sobre a forma de dimensionar as espessuras de vidro a serem utilizados em sistemas de vários tipos. Porém, para envidraçamento de sacadas existe uma norma específica, a NBR 16.259, que também não fala das espessuras 
conforme a dimensão. O mercado adota a posição de que, se o vidro laminado tiver até 1,80m, a espessura 4+4(8mm) é suficiente. A partir deste tamanho somente 5+5(10mm) devido a dificuldade de se obter a espessura através do cálculo que a norma NBR 7.199 orienta”, explica Santos.

De acordo com o especialista, há também outros itens a serem considerados, como a questão da fechadura e trinco. “O que acontece é que os ensaios são realizados com base em um sistema que não contempla fechadura em vidro pela norma, e quando ensaiado em laboratório, se instala como será feito na obra. A fechadura em vidros laminados é apenas colada no vidro, com fita dupla face, que se solta antes mesmo do sistema atingir seu pico de resistência à pressão do vento. Para tanto, os laboratórios permitem colocar várias fechaduras no sistema na hora do ensaio, a fim de conseguir submeter o conjunto a uma carga de esforços que atenda aos requisitos mínimos para cada região onde será empregado o sistema, segundo a tabela de isopletas da norma NBR 6.123. Quando as fechaduras são instaladas no leito e ancoradas nos trilhos, os resultados são satisfatórios, mas para uso do cliente quando se trata de varanda com sistema até o piso, a dificuldade de se abaixar para acionar pode ser um entrave na hora da entrega do produto”, pontua.