Em outubro de 2016 iniciaram as reuniões da comissão de uma nova norma técnica, desta vez, a que vai determinar as competências mínimas de um vidraceiro e definir categorias em diferentes níveis e especialidades, novidade que tem gerado um pouco de inquietação em alguns profissionais. Para Francisco Marin, coordenador da Comissão da Norma de Qualificação do Vidraceiro, não há motivo de preocupação, pois a norma será benéfica para todos os elos da cadeia. Para o vidraceiro irá valorizar a profissão e resultar em mais vendas pela maior confiança no produto. O fabricante, por sua vez, vai ver que seu produto sendo aplicado da maneira correta.
O primeiro beneficiado será o consumidor final, que, como destaca Claudio Luis Acedo, diretor comercial da Mansur e presidente da Anavidro, está cada vez mais ciente dos seus direitos e procura segurança acima de tudo, devido a tantas notícias sobre acidentes que rapidamente viralizam nas redes sociais. “A norma de profissionalização vem em uma hora crucial para o mercado vidreiro. É preciso que o consumidor enxergue que há profissionais qualificados e certificados, que estarão mais seguros ao dedicar sua obra a estes profissionais. E uma norma corrobora com o que o vidraceiro responsável apresenta para seu cliente”.
“Se você faz do vidro sua profissão, você não pode ser amador, você não pode simplesmente alegar que desconhece uma norma técnica, que desconhece princípios básicos de alinhamento, de cálculos, de instalações, de adequações de materiais e, principalmente, de segurança do trabalho. Não adianta trabalhar a semana inteira e não ter tempo para se profissionalizar. Se você comete o mesmo erro todo dia, ou nem sabe que está errando, como vai evoluir? Por isso a profissionalização é uma necessidade não um requisito”, reitera Acedo.
Cassio Ghiotti, diretor técnico da I Love Glass Consultoria Treinamento, também avalia que a norma não eliminará profissionais do mercado, pelo contrário, vai oferecer parâmetros para que eles se qualifiquem cada vez. “Eu acredito que a norma oferecerá pré-requisitos para que tenhamos uma grade de ensino, podendo ser completa ou por formação continuada, como já existe em outros setores industriais”, afirma. Apenas profissionais ruins, que denigrem a imagem do setor, serão prejudicados, já que profissionais não qualificados, mas bem intencionados, poderão se capacitar. “Trabalhamos com produtos que envolvem a segurança de outras pessoas e as atividades acabam sendo aprendidas na casa dos clientes, entre erros e acertos”, completa Ghiotti.
O vidraceiro Ricardo concorda com a iniciativa, pois, assim como em outras profissões em que é necessário um diploma que comprove requisitos técnicos mínimos, deve ser com o mercado do vidro. “Muitos vidraceiros, como eu já fui, faz muitas coisas mas desconhece as normas. Tem que ter conhecimento teórico do vidro, a finalidade de cada um e as normas técnicas. Tenho dúvidas em como se dará isso, como os vidraceiros que já estão no mercado serão avaliados, como será definido o nível e como se dará a especialização”.
O questionamento de Ricardo ainda não pode ser totalmente respondido, pois as reuniões ainda estão no início e ainda há um longo processo para finalização da norma. “Ainda estamos no início de tudo e as reuniões deverão perdurar por algum tempo. Depois de definidos os tópicos a norma ainda fica um ano sob consulta pública até entrar em vigor”. Francisco Marin, coordenador da norma, que conta que no momento estão sendo definidas as exigências mínimas.
Como participar?
As participações podem ser presenciais ou pela internet. Ao final de toda reunião é publicada uma ata, a qual qualquer pessoa se inscrever no site da comissão da ABNT pode acompanhar, podendo mandar suas contribuições e sugestões por e-mail. Todas essas mensagens são lidas na reunião seguinte e consideradas no debate. Claro que a ata é um resumo e a participação presencial é mais completa porque há muito detalhes no calor das discussões que não são registrados.
Quem tiver interesse em participar pessoalmente das reuniões, basta se inscrever. Marin diz que a entrada sem aviso prévio não é proibida, mas a inscrição é importante para que seja previsto o número de pessoas e providenciado espaço adequado. Normalmente, tem comparecido de 10 a 35 profissionais, conta o coordenador da norma, um número aquém do esperado, pois é importante que os principais interessados, os vidraceiros, participem mais ativamente da definição das regras que serão determinantes para a profissão.
“Acreditamos que a norma tem que ser mais divulgada pelos meios online através da ABNT para que mais pessoas possam participar e contribuir. Todos estão convidados, as portas estão abertas. Há um limite de espaço físico, mas todos podem entrar e se não houver espaço cancelamos a reunião, providenciando outro espaço, pois todos têm que poder participar. Seria um problema bom se isso acontecer, ninguém será barrado, mas pedimos a confirmação de presença com a comissão pela ABNT”, acrescenta.
A não participação em todas as reuniões também não é obrigatória nem gera a punição de ser excluído do grupo, mas geralmente quem entra participa ativamente porque senão perde o fio da meada, porque tem uma série de arestas sendo alinhadas e não conseguirá acompanhar e entender as discussões se não participou da reunião anterior”, completa Marin. No decorrer das reuniões da comissão alguns textos já vão sendo definidos, podendo ser alterados. O texto depois de pronto ficará em consulta pública para todos analisarem até que a norma finalmente entre em vigor.
Está em projeto ainda a disponibilização da transmissão das reuniões em vídeo para que qualquer um possa acompanhar pela internet, pois nem todos conseguem estar presentes, especialmente quem é de outro estado. Neste caso, a opinião e sugestões poderão ser dadas pela internet, mas embasado na reunião na íntegra, não apenas na ata, que acaba sendo um resumo. Inclusive a última reunião foi adiada para a questão ser resolvida e ela já acontecer neste formato.
A definição do que deve ser um conteúdo mínimo exigido do profissional para receber a denominação de vidraceiro é bastante complexa. Acredito que com a participação direta de um grande número de vidraceiros, presencialmente ou através de vídeo conferência, vai permitir que o grupo de normas encontre a melhor solução. É essencial a participação do vidraceiro, porque a norma trata sobre a profissão deles e estabelece limites de sua atuação e barreiras de entrada”, ressalta Sergio Koloszuk, diretor da Alclean, que participa da Comissão da Norma de Qualificação do Vidraceiro.
Exigências mínimas
Marin explica que, no primeiro nível de habilidade, o vidraceiro deve saber instalar o vidro e seus componentes, estudar o vão e planejar a instalação, assim como fazer manutenções, podendo analisar, inclusive, instalações de terceiros. “Temos definido nos baseando em competências. Acreditamos que no primeiro nível de habilidade o vidraceiro deva saber estudar o vão, se curvo ou fora de esquadro, verificar o substrato, se há interferências dos elementos do ambiente, verificar iluminação, saber dimensionar e registrar isso num croqui e identificar que tipo de ferragem será aplicada”, descreve.
No momento, a comissão analisa quais são os tipos de instalação mínimo, como por exemplo, saber montar quadros e molduras, fazer divisão de ambientes, guichês, espelhos de pequenas dimensões, vidros decorativos em geral, porta de correr, etc. Quem estiver nesta primeira categoria não poderia fazer instalações acima de uma certa altura, com vidros de dimensão jumbo, porque tem que entender o peso daquele vidro e o risco da instalação. A equipe está analisando, na verdade, como definir e dividir essas funções, se por tipo de instalações ou tipo de vidro, temperado, laminado, etc, ou tipos de interferências, vidros maiores, do chão ao teto, curvo.
Claudio Acedo destaca que primeiramente tem que definir o que está na alçada do vidraceiro, pois, muitas vezes, este profissional é pressionado pelo cliente a desenvolver um projeto, o que, na sua opinião, é um grande erro. “A divisão entre vidraceiros executores e desenvolvedores de projetos deve ser exaltado no nosso setor. O desenvolvimento do projeto requer conhecimento de normas estrutural, resistência, pressão e por ai vai, por mais que o vidraceiro saiba muito mais que um engenheiro ou um arquiteto, ele não pode desenvolver se não foi um engenheiro ou arquiteto pois ele terá que apresentar uma ART. Quando o cliente solicita o desenvolvimento de um projeto tem que ser considerado em seus orçamentos o custo deste profissional que irá desenvolver o projeto”.
Categorias por competências
A partir da definição das atividades mínimas executada por um vidraceiro, a comissão irá considerar as especialidades, ponto ainda não alcançado. “Vamos dividir em categorias, como A, B e C. Assim o fabricante também pode definir que tipo de profissional, em que categoria, é necessário para instalar seu produto. Dentro disso vamos fazer as separações. Cada categoria precisa de uma competência diferente. Para o fabricante será ótimo porque ele terá a garantia de funcionamento adequado de seu produto, que se mal instalado por um profissional inadequado, poderá gerar problemas e denigrir a imagem de sua qualidade”, explica Francisco Marin.
O mercado está em movimento e sempre vão surgindo novas formas de instalação. O vidraceiro precisa se atualizar como qualquer outro profissional, pois o que faz a fachada não é o mesmo que instala box, são níveis diferentes de profissionais, como ressalta Marin. “Até pela segurança dele, que ficará em um andaime há metros do chão. Estamos pensando em colocar obras com mais de dois metros de altura no andaime em outra categoria, a norma busca, assim como garantir instalações seguras para o usuário, proteger o vidraceiro dos riscos de uma obra. Uma obra mal feita pode colocar a vida de alguém em risco, é uma responsabilidade muito grande”, acrescenta.
Para alcançar as categorias superiores e se tornar especialista em um tipo de obra mais complexa, o vidraceiro, provavelmente, terá que passar por uma avaliação para saber em qual tipo de qualificação está enquadrado, talvez passar uma certificação, podendo estudar e subir nas habilitações, ou se manter na categoria mínima executando serviços padrões caso não tenha ambição na carreira. Porém, essa divisão estimulará o desenvolvimento do profissional. Esta questão ainda está longe de ser definida, já que primeiro precisam ser definidas as categorias.
“Todos terão espaço, porém a fatia maior será dos profissionais, pois a exigência dos clientes está mudando. Portanto, a iniciativa de ter uma norma para que seja criada a certificação que qualifica o vidraceiro com uma gama de cursos que o preparam de forma completa que seja capaz de posicionar o vidraceiro para atender um nível de obra que condiz com sua qualificação é fundamental para que esta divisão entre profissionais e amadores seja realmente visível”, analisa o presidente da Anavidro.