Em toda parte do mundo, a arquitetura das grandes metrópoles passa por renovações marcantes, capazes de reconfigurar antigos edifícios sem por isso lhes roubar a identidade ou reduzir sua importância no contexto histórico e urbano em que estão inseridos. Ícone da cidade canadense de Montreal, o Palais des Congrès foi originalmente projetado em 1970, pelo arquiteto Victor Prus, e integra mais de três séculos de história, reunindo vestígios e reminiscências da parte antiga da cidade, chamada de Old Montréal. Embora partes de sua construção remontem a mais de 100 anos (o complexo preserva intacta a fachada de uma fundação datada de 1885 e uma estação de trem construída no início do século XX), o edifício passou por ampla revitalização, entre 2000 e 2002, da qual emerge como aspecto mais marcante uma extensa, envidraçada e multicolorida superfície que reveste sua fachada de ponta a ponta.
Dirigida e supervisionada pelo arquiteto Mario Saia, a renovação e expansão do Palais envolveu o trabalho conjunto de três escritórios canadenses: Tétreault, Parent, Languedoc et Associés; Saia et Barbarese Architectes; e Dupuis, Dubuc et Associés (Aedifica). A reforma passa por inúmeras intervenções no antigo edifício, mas, segundo Saia, é na fachada arco-íris que se identifica o elemento central responsável por materializar a nova linguagem concebida para o projeto. “Os vidros multicoloridos foram posicionados de modo a criar um impactante efeito visual, tanto do lado de fora como de dentro do edifício”, comenta.
Convertido em um dos principais pontos turísticos de Montreal, o Palais des Congrès é considerado peça emblemática entre as obras pertencentes à chamada “nova onda” arquitetônica que tomou conta da cidade. Símbolo de dinamismo e modernidade, a fachada é composta por mais 330 painéis de vidro colorido, somados a 58 painéis de vidros transparentes. “Ao longo do dia, conforme as variações de incidência solar, um lindo jogo de cores projeta-se pelas paredes e pisos internos, emulando um vibrante caleidoscópio”, descreve Saia. “Já no período noturno, em composição com a cena urbana ao redor, o edifício transforma-se em uma pintura impressionista marcada pela decomposição de cores e pelos efeitos de sombras coloridas e luminosas”, romantiza o arquiteto.
Sanduíche de cores
Segundo descreve Saia, cada fachada exerce participação determinante na função global das características arquitetônicas do projeto, destacando suas especificidades em relação ao entorno do edifício. “Na face voltada para a cidade histórica, mais introvertida, a sobriedade marcada por pequenas pedras de calcário é o aspecto predominante, aliado ao vidro transparente, que garante iluminação às atividades internas, preservando a privacidade”, diz o arquiteto. “Já na fachada voltada para o centro da cidade, frenético e modernizado, a transparência das cortinas de vidro coloridas projeta um ambiente festivo e exuberante”.
Anteriormente isolado na cidade, o Palais é hoje um elemento vivo, integrado e permeável. “O vidro está por toda parte, estabelecendo uma aliança entre os ambientes internos e externos, trazendo luz natural para dentro e abrindo passagem para uma interação constante”, observa Saia. “Os espaços são continuamente modificados conforme a luz penetra através dos painéis laminados por diferentes ângulos ao longo do dia.”
“Durante o dia, a pele de vidro multicolorida acompanha um corredor de passagem banhado por luz. Nos pisos e paredes, as cores, luzes e sombras da estrutura são projetadas e diluídas de acordo com a incidência solar”
Para criar essa pele de vidro singular, o arquiteto recorreu aos vidros laminados com as películas de PVB Vanceva, da Solutia. “A laminação com essa película não apenas garante resistência e durabilidade, como também agrega transparência e cores vivas aos painéis”, diz o arquiteto canadense Hal Ingberg, que atuou como consultor do projeto. “No caso do Palais, foram combinadas películas nas cores verde, azul amarelo e vermelho. O efeito visual é de tirar o fôlego”, comenta Ingberg. A laminação dos vidros ficou a cargo da Viracon. Já a instalação dos painéis foi executada pela canadense Visionwall.