Como demonstram as obras para a Copa do Mundo, o vidro assume crescente protagonismo em projetos de aeroportos, pontes, passarelas, pontos de ônibus e estações de metrô, rodoviárias e ferroviárias, em um contexto de crescente preocupação com a mobilidade urbana. “A vantagem da transparência, com a menor interferência visual possível, aliada a estruturas leves e seguras, resultado da tecnologia de ponta na fabricação e aplicação do material, situam o vidro no centro das atenções da arquitetura moderna”, diz diretora de marketing da Glassec Viracon, Claudia Mitne.
“Trata-se de uma tendência iniciada na Europa e que hoje encontra no Brasil um grande expoente”, acrescenta o coordenador de marketing da Cebrace, Carlos Henrique Mattar. “Hoje, podemos encontrar, nas cidades brasileiras, abrigos de ônibus, aeroportos e estações de metrô que são exemplos de soluções com vidro. E não apenas os incolores comuns, mas também os de proteção solar, caso da Estação Tubo, de Curitiba, do BRT, no Rio de Janeiro, e as novas estações do metrô de São Paulo”, observa.
Projetos ligados à mobilidade têm explorado cada vez mais as características técnicas e estéticas do vidro. “Como esse tipo de aplicação requer robustez, durabilidade e resistência a intempéries e a ações de depredação, o grande desafio é desmistificar características atribuídas ao material, como fragilidade e desconforto térmico”, comenta o coordenador da Cebrace.
“As inovações tecnológicas empreendidas pela indústria vidreira têm provocado uma reviravolta em tais conceitos, à medida que agregam ao material propriedades antes inimagináveis de resistência, proteção solar e termoacústica”, cita Mattar. “O potencial do vidro neste segmento é enorme. Com a especificação correta, é um produto versátil que oferece segurança e alto nível de durabilidade, conforto térmico e controle de luminosidade”, acrescenta o gerente de marketing da Guardian, Renato Sivieri. “Nesse aspecto, destacam-se os vidros estruturais, acústicos, de controle solar, autolimpantes e de segurança.”
Para garantir segurança e conforto térmico, os vidros mais indicados para esse perfil de projeto são os de alta performance low-e, associados com processos de laminação e têmpera. “Sistemas como o ecoglazing sobre estruturas metálicas são os mais indicados para isso, pois já foram testados com sucesso em diversas soluções de metrô, aeroportos e portos”, afirma o sócio-diretor da Vidraçaria Iguatemi, Henrique Barbosa de Carvalho.
Entre as metrópoles brasileiras, Mattar destaca São Paulo e Curitiba como as mais avançadas na aplicação do material, com destaque para as estações de metrô. No caso da capital paulista, o amplo emprego do vidro desponta em praticamente todas as estações implantadas nos últimos cinco anos. Apontada entre as mais problemáticas do mundo no quesito mobilidade, a cidade ganha novas linhas, que refletem a promessa de um incremento no transporte público capaz de aliviar o caos vivido pelo cidadãos em seus trajetos diários.
Membrana de vidro. Uma fachada formada por 12 mil m2 de superfície envidraçada contínua marca o Bonn Airport, em Colonia, na Alemanha
As estações inauguradas recentemente incorporam conceitos de sustentabilidade em seus projetos, incluindo iluminação natural abundante, visibilidade, amplitude, acessibilidade e a melhoria do entorno. Os sistemas construtivos e soluções estéticas adotadas têm em comum dois elementos principais: o vidro e o aço.
“Neste tipo de construção, as novas tendências contemplam, em primeiro lugar, o uso dos vidros em coberturas, skylights ou claraboias e, em segundo lugar, em fachadas e aplicações internas, como revestimento de paredes e guarda-corpos, além de colunas e vigas estruturais”, diz Mattar.
Entre os exemplos emblemáticos ele cita a estação Vila Prudente, inaugurada em 2010. Com projeto da Luiz Esteves Arquitetura, o projeto, erguido em uma áspera paisagem, contribuiu decisivamente para a transformação do local por meio de um agradável contraponto com o entorno. A fração visível de sua arquitetura caracteriza-se pela cobertura envidraçada, apoiada sobre estrutura metálica na forma de grelha que demarca o acesso principal.
Como em outras estações da linha 2 – Verde, a prioridade era aproveitar a iluminação e a ventilação naturais. A estrutura de aço e vidro que cobre a estação permite a entrada da luz natural até a plataforma, a 21 metros de distância. A especificação de vidros de controle solar e autolimpantes, fabricados pela Cebrace e beneficiados pela Fanavid, permite preservar a transparência com pouca exigência de manutenção. “Espaço e luz são os principais elementos que valorizam a arquitetura da estação”, avalia o autor do projeto, arquiteto Luis Carlos Esteves.
Segundo o diretor de marketing da Fanavid, Roberto Holzheim, os mais de 2 mil m² de vidros especificados tiveram papel fundamental para oferecer conforto, luminosidade e segurança. “Como a cobertura é de difícil acesso para limpeza, o vidro de proteção solar de alto desempenho Cool Lite KNT foi laminado com autolimpante Bioclean, ambos da Cebrace, reduzindo os gastos com limpeza e contribuindo para a redução do consumo de água e energia”.
Além da grelha estrutural São Paulo estão nas estações Santos-Imigrantes, Alto do Ipiranga e Sacomã, da linha Verde, nas Estações Luz, Faria Lima e Pinheiros, da Linha Amarela, em que os vidros também aparecem em portas automáticas e catracas, e, mais recentemente, na Estação Adolfo Pinheiro, da Linha Lilás, com sua cobertura com sistema Ecoglazing, da Avec Design, em que foram utilizados mais de 800 m² de vidro temperado e laminado KNT 140, da Cebrace, de 12 mm. Nos fechamentos laterais, foram mais 320 m² do material.
O abrigo de ônibus assinado pelo arquiteto chileno Smiljan Radic foi inspirado pela tradição artesanal da província de Vorarlberg, na Áustria.
Avanço no Brasil
Em Curitiba, as estações tubulares da Linha Verde do Bus Rapid Transit (BRT), conhecidas como estações-tubo, já se tornaram um dos cartões postais da cidade. Para os fechamentos laterais dessas unidades de embarque e desembarque de passageiros, a opção foi o uso de vidros com película interna capaz de reduzir a incidência de luz solar e aumentar o conforto térmico. Os vidros curvos empregados no projeto são os de proteção da linha Reflecta Float, da Cebrace.
Em Salvador, um projeto em evidência é o Terminal de Navios de Turismo (TNT), para embarque e desembarque de passageiros, com assinatura dos arquitetos Antonio Carlos Brito e João Carmo Filho. Ainda em fase de finaliza ção, a instalação dos vidros está a cargo da Avec Design, em parceria com a Vidraçaria Iguatemi.
Para os sistemas de sustentação sobre estruturas de aço, a escolha recaiu sobre o Ecoglazing. Já os vidros foram os laminados low-e de baixa reflexão Light Blue 52 on Green, fabricados pela Guardian. Com 12 mm de espessura, as chapas têm medidas de 2550 X 1600 mm. “Trata-se de projeto diferenciado, que faz um belo contraste com a paisagem antiga da Cidade Baixa de Salvador”, comenta Henrique Barbosa, da Vidraçaria Iguatemi.
Já no Rio de Janeiro, dois projetos recentes merecem destaque. Um deles é o das estações de embarque e desembarque da linha Transoeste do BRT, obra do arquiteto e urbanista Jozé Candido, da JC&S Arquitetos Associados. Equipamentos essenciais para garantir agilidade e segurança dos cerca de 200 mil usuários diários, as estações são compostas por módulos que receberam brises com estrutura de ferro e esquadrias fixas de vidros laminados com caixilhos horizontais.
Os vidros aplicados foram os laminados de segurança e de controle solar SunGuard, com revestimento baixo-emissivo (low-e), da Guardian. Os mesmos vidros estão presentes nas portas automáticas com folhas de correr, com acionamento por radar externo. “Nossa preocupação maior foi a aplicação exata dos materiais especificados, que foram minuciosamente pensados para garantir a eficiência necessária”, comenta Candido. “No caso do vidro, o objetivo básico foi o controle da radiação solar”, exemplifica.
Ainda no Rio, vidros laminados e temperados Low-e com Sentryglas, beneficiados pela PKO, foram usados nos fechamentos laterais da Estação Uruguai, inaugurada em março. O supervisor de vendas da PKO, Fábio Persio, destaca: “Os vidros de controle solar Low-e aplicados nos cinco acessos da estação diminuem significativamente a entrada de calor no ambiente, sem interferir na neutralidade e transparência, fato que manteve os traços de leveza e suavidade da estrutura metálica, em perfeita harmonia com os conjuntos de vidros”.
A película intercalar Sentryglas, da Dupont, garante que os vidros permaneçam em seu vão mesmo se quebrados por vandalismo ou acidente. “Além disso, os vidros são temperados e laminados, procedimento que aumenta até seis vezes a resistência mecânica do material”, explica Persio.
Os holandeses do UNStudio assinam o projeto do aeroporto internacional de Kutaisi, na Georgia, EUA, inaugurado em 2013.
Longas distâncias
Portas de entrada e cartões de visita de suas cidades, projetos de aeroportos e estações ferroviárias exercem importante função na organização do fluxo de pessoas e no conforto e segurança dos passageiros. Também nestes casos, é crescente a ousadia na aplicação do vidro que, além, de segurança, integração e luminosidade, desempenha papel importante no isolamento acústico. “Acústica é um assunto muito discutido hoje”, diz Claudia Mitne, da Glassec Viracon. “Grandes cidades produzem muito ruído, e as construções devem incorporar soluções de fachadas com vidro capazes de atenuar e controlar os níveis de ruído.”
No caso de aeroportos, lembra a diretora, existem normas específicas que definem os requisitos básicos a serem cumpridos.
“Entre os aeroportos que estão sendo reformados no País, todos optaram por muito vidro”, diz Henrique Barbosa, da vidraçaria iguatemi. “Por força das dimensões continentais do País, o desafio está na adequação às características regionais de onde se encontra cada aeroporto, principalmente no que se refere ao clima”, afirma o arquiteto Sergio Jardim, especialista em projetos aeroportuários e responsável pela reestruturação do Aeroporto Santos Dumont, no Rio de Janeiro, entre outros. “Há uma tendência mundial de expansão das superfícies envidraçadas. Os vidros de última geração têm características que permitem aperfeiçoar as instalações complementares”.
Outro projeto concluído recentemente que chamou a atenção pela tecnologia de suas instalações é o Terminal 3 do aeroporto de Guarulhos, que recebeu 17 mil m² de vidros insulados, laminados e de controle solar, aplicados nas fachadas e coberturas.
Beneficiados pela Glassec-Viracon, os vidros oferecem uma atenuação de ruído de 41dB. “Trata-se de um projeto que se tornou referência hoje no Brasil. Foram meses de desenvolvimento de produto, para atender a todos os requisitos, além de cumprimento do prazo da obra, conta a diretora da Glassec.
Mundo afora, são incontáveis os projetos que exibem extensas superfícies envidraçadas como ponto alto de sua linguagem arquitetônica. Entre os mais impressionantes está a Estação de trem Strasbourg (Gare de Strasbourg), na França, obra assinada pela arquiteta Jean-Marie Duthilleul. A estação passou por uma ampla reforma, na qual um gigantesco domo de vidro foi acoplado ao edifício histórico erguido em 1883.
De formato similar a um casulo, a concha envidraçada “embrulha” toda a extensão do edifício original, desempenhando as funções de hall de entrada e área de conexão. A estrutura envidraçada foi executada pela austríaca Seele e recebeu mais de 6 mil m² de vidros curvos, laminados e termicamente reforçados. As chapas são formadas por duas camadas de 6 mm, uma de vidro serigrafado e outra de low-e.