Não é exagero dizer que a implantação da Cebrace no Brasil, há exatos 40 anos, foi um marco na história da indústria de vidros planos no País. Efeito da revolução tecnológica do float na Europa dos anos 50, a chegada da primeira fábrica vidreira em solo nacional mudou os rumos do setor ao trazer para o Brasil o sistema float de produção, processo desenvolvido pela Pilkington em 1959 e que ditaria novas normas para a fabricação do material. Fruto de uma joint venture entre dois gigantes mundiais do segmento, Pilkington e Saint-Gobain Glass, a empresa instalou sua primeira planta em Jacareí no ano de 1974, marcando o início de uma parceria bem sucedida entre dois tradicionais players europeus, por meio de suas filiadas brasileiras Blindex e Santa Marina. Com uma administração moderna, o sucesso da aliança entre empresas que, embora associadas na produção, continuavam sendo concorrentes diretas no beneficiamento do vidro, reflete-se nos dias atuais e personifica-se na dupla de executivos Leopoldo Castiella e Renato Holzheim, hoje à frente da Cebrace. Engenheiro industrial de formação, Leopoldo Castiella conta com uma bagagem de mais de 20 anos no segmento do vidro, tendo iniciado sua carreira na Pilkington, em 1992. Já atuou como gerente geral da Blindex e diretor comercial da Pilkington e atualmente acumula os cargos de Diretor-Executivo da Cebrace e Presidente da Pilkington Building Products para a América do Sul. Renato Holzheim ingressou no segmento como gerente comercial da Sekurit, divisão automotiva da Saint-Gobain, tendo assumido a diretoria da divisão de vidros planos da empresa em 2007. Juntos, eles respondem pela diretoria executiva da Cebrace, hoje a maior fábrica de vidros planos da América do Sul. Em entrevista a Vidro impresso, os executivos compartilham sua avaliação sobre o desempenho do mercado vidreiro, expectativas de crescimento e principais apostas e estratégias da empresa para os próximos anos.
Qual o principal foco de atuação da Cebrace hoje?
A Cebrace atua em todos os segmentos do vidro plano. Nosso foco concentra-se tanto na produção de vidro float comum como nas mais avançadas tecnologias, como os vidros de proteção solar, os autolimpantes, os antirreflexo, os laminados de segurança, os baixo-emissivos e os extra clear. Também temos dado atenção especial aos vidros usados na decoração, como o Coverglass e o Prisma, e os espelhos.
Como avaliam o desempenho de mercado vidreiro em 2013?
Foi um ano positivo, o vidro tem ocupado espaços de outros produtos e os nossos lançamentos têm colaborado para o crescimento do mercado, mas também foi um ano de preocupação com os aumentos contínuos dos custos de fabricação, matéria-prima e mão de obra.
Quais são as principais apostas da empresa em termos de produtos, tecnologias e estratégias de mercado?
A Cebrace continua com o foco nos produtos de valor agregado, e os investimentos do ano passado ilustram bem esta estratégia. Uma das grandes apostas da Cebrace, em termos de produto, são os vidros de proteção solar. Recentemente realizamos investimentos em nossa linha de produção para aprimorar e aumentar nossa capacidade produtiva com a tecnologia de coating, que é a deposição de óxidos metálicos na superfície do vidro. Da mesma forma, o espelho tem tido uma demanda crescente no mercado por ser uma tendência em decoração e revestimento. Por isso, investimos na nova linha de produção de espelhos, inaugurada no ano passado. Agora disponível em chapa jumbo (3,21 x 6,00 m), o espelho Cebrace, 10 vezes mais resistente a manchas que um espelho comum, é também ideal para aplicações decorativas mais ousadas. Em termos de mercado, apostamos na qualidade do serviço prestado, e uma das iniciativas que mostram isso é a criação de um departamento de pós-vendas. Uma das nossas estratégias é incentivar o conhecimento dos profissionais do setor, como clientes e vidraceiros, que estão cada vez mais se especializando nos vidros que oferecem soluções ao consumidor.
O Brasil assiste ao ingresso de dois importantes players na base de sua indústria vidreira. Como isso deve impactar as ações da maior fabricante de vidros da América Latina?
Vemos com naturalidade a chegada dos novos concorrentes, dada a relevância do Brasil no cenário mundial. A concorrência leal e ética certamente nos dará grande estímulo para melhorarmos a cada dia, oferecendo produtos e serviços inovadores.
O que esperar do comportamento do mercado a partir do aumento da capacidade instalada para produção de float?
O aumento da capacidade produtiva, em torno de 30% em 2013, é um reflexo da demanda.
Como evitar a guerra de preços e a depreciação do produto?
O que menos se espera para os clientes é uma espiral de decréscimo de preço, porque aí perde a cadeia como um todo. É um conjunto bastante complexo: tamanho de mercado, capacidade existente, capacidade de exportação e o nível de equilíbrio de todos esses vetores.
Alguns setores do mercado manifestam apreensão diante de um possível cenário de retração econômica no Brasil. Qual a expectativa da Cebrace para 2014?
Compartilhamos dessas preocupações. O País, nos últimos meses, tem mostrado indicadores contraditórios, sendo muito difícil no momento fazer um prognóstico claro sobre o ano de 2014.
Quais as principais barreiras para o pleno desenvolvimento da indústria vidreira no País? De que forma a Cebrace pode contribuir para eliminar tais entraves?
A falta de conhecimento do consumidor acerca de benefícios e usos que o vidro pode ter é uma das principais barreiras. A Cebrace atua ao lado de comitês e associações para promover essa conscientização.
Como avalia os prejuízos que a massificação da entrada de vidro chinês (e de outras procedências) no Brasil tem causado à produção nacional?
Os prejuízos são muitos, desde a deterioração das margens de toda a cadeia até a concorrência desigual e a falta de qualificação dos importadores. A iniciativa da Abividro para defender a indústria nacional de práticas predatórias de comércio internacional é apoiada pela Cebrace e de extrema importância para o desenvolvimento do setor.
As últimas ações de defesa comercial pleiteadas por parte dos fabricantes de vidro float refletem um conflito de interesse entre fabricantes e beneficiadores, ao estimularem a entrada de vidro processado no País em condições concorrenciais desiguais?
A Abividro pleiteia junto ao governo formas de garantir a concorrência leal. Não existe um conflito de interesses, muito pelo contrário. A preocupação da Cebrace é que haja um mercado de concorrência igualitária, em que existam políticas coerentes com os processadores.
Qual o impacto da recente decisão governamental de não renovar o aumento de tarifas de importação de vidros?
Lamentamos a decisão, que aumenta a vulnerabilidade do setor como um todo.
Pesquisas recentes divulgadas pela Abravidro apontam que o consumo per capita de vidro no Brasil ainda é baixo em relação a outros países. A que se deve esse quadro e como revertê-lo?
O que podemos dizer, de acordo com esses indicadores fornecidos pela Abravidro, é que o consumo do vidro per capita no Brasil cresceu de forma muito significativa, aproximando-se de economias desenvolvidas. Isso indica um menor potencial de crescimento futuro.
Qual a responsabilidade dos fabricantes para que o vidro passe a ser aplicado de forma mais ampla e versátil do que é hoje?
Ao longo dos anos, a Cebrace tem contribuído para programas de treinamento e capacitação junto às associações, visando levar conhecimento e informações aos profissionais que fazem parte da cadeia vidreira.
Quais as potencialidades dos vidros de controle solar no mercado brasileiro?
A Cebrace oferece uma linha completa de vidros de proteção solar para o mercado comercial, assim como lançou a Rede Habitat, de vidros de proteção solar especialmente desenvolvidos para residências. Em um país como o Brasil, com alta intensidade de luz e calor, o uso dos vidros de proteção solar oferece maior liberdade de criação, novas possibilidades de uso. Além disso, eles têm um papel sustentável, uma vez que colaboram para a redução de 15 a 30% nos gastos de energia. A sustentabilidade e o conforto térmico são um caminho sem volta e nós apostamos nisso.