Fale um pouco de sua experiência com o vidro arquitetônico.
Ricardo Macedo – Estou no ramo desde 1977. Por dez anos trabalhei na Vidraçaria Cometa, em Curitiba, que foi uma das maiores empresas de vidro do Brasil. Gerenciava a área de vidros temperados, em uma época em que sua utilização autoportante era a coqueluche para uso em residências de alto padrão. Fui sócio fundador da Engevidros, onde atuei por 23 anos, e atualmente participo da Hedron, empresa ainda criança, com menos de dois anos de vida.
Na sua avaliação, o que de mais arrojado os avanços da tecnologia do vidro, aliados ao de estruturas metálicas, têm permitido criar na arquitetura
moderna?
Fachadas ventiladas. Esta solução é o nome da vez, porque permite o uso do vidro como uma segunda pele, para se ter um domínio e controle perfeitos da alta tecnologia, com aproveitamento também perfeito dos recursos dos vidros e esquadrias. Esta segunda pele, que pode usar os mais diversos materiais, e até também ser de vidro, permite o uso de vidros nas mais diversas situações de fachada, mesmo em um país tropical como é o nosso.
Quais outras obras merecem destaque em seu currículo?
Atualmente estamos concentrados na execução de quase 20 mil m² de envidraçamento em fachadas e coberturas, pisos e guarda-corpos de vidro no Rio Mar Shopping, em Recife. Será o maior shopping do Nordeste, com 300 mil m² de área construída e 110 mil m² de ABL. Outras obras importantes foram o aeroporto internacional de Carrasco, em Montevidéu, e o Palácio do Governo do Centro Administrativo de Minas Gerais, em Belo Horizonte, projeto de Oscar Niemeyer.
Por anos, arquitetos e construtores tiveram uma relação de amor e ódio com o sol. Ou seja, na maioria dos casos, a iluminação natural é bem-vinda
e necessária, mas o excesso de calor e a falta de privacidade podem se tornar um inconveniente. A tecnologia do vidro tem dado conta desses impasses?
Na verdade, a relação é de um amor intenso. O “ódio” seria pelo excesso de calor gerado, mas isso só acontece quando o projeto não prevê as soluções corretas para o perfeito uso desta grande fonte de energia.
O vidro, por suas características únicas de transparência e transmissão de luz, e, consequentemente, de eficiência energética, é um material indispensável nas edificações modernas. Sem o vidro, como fazer a integração do ambiente externo com o interno, e como levar a luz natural para dentro do edifício?
Aliando isso à durabilidade do material, seu uso é cada vez maior nos projetos modernos. Atualmente há vidros de excelente desempenho otoenergético, e que permitem a transmissão controlada de luz e calor. Conhecendo – ou buscando assessoria com quem conhece – o produto e seus quase ilimitados recursos, sempre é possível chegar a soluções adequadas.
A tecnologia do vidro arquitetônico no Brasil tem acompanhado os avanços do mercado externo? Em que pontos ainda precisa de ajustes?
Hoje temos no Brasil os mesmos vidros disponíveis no exterior. Há que desenvolver os projetos buscando sempre os recursos ideais e adequados
a cada um deles. No Brasil as fábricas de vidro, os consultores e os sistemistas de fachadas têm acesso às mais modernas tecnologias disponíveis
em todo o mundo.
Quais os principais aspectos a levar em conta na hora de especificar o vidro mais indicado para determinada aplicação?
A correta especificação do vidro em cada obra passa por uma série de questões, inerentes a cada projeto, e que devem ser cuidadosamente avaliadas para a correta tomada de decisão. Quanto ao aspecto estético, por exemplo, deve-se estar atento à definição da cor do vidro. Tanto da cor externa, de reflexão, como da cor interna, de transmissão. É importante lembrar que essas cores são distintas durante o dia e à noite, pela diferença de iluminação entre o ambiente externo e o interno.
E quanto à transmissão luminosa?
A transmissão luminosa requerida pode ser distinta nas diferentes orientações das fachadas em relação ao norte. Esse cálculo é importante pois o correto é evitar o tanto quanto possível a iluminação artificial durante o dia, assim como evitar o excesso de luz que poderia causar ofuscamento nos ambientes,
em determinadas situações.
Os vidros disponíveis no mercado possibilitam infinitas combinações e, seguramente, sempre haverá a mais adequada. Quanto à transparência, devemos determinar em quais locais ela é conveniente, lembrando sempre que o uso do vidro permite transmissão luminosa sem transparência, mediante o uso de vidros translúcidos ou de persianas.
Já para determinar o fator solar, deve-se calcular a quantidade de energia – radiação e transmissão – necessária em cada ambiente. Como o vidro é um elemento transmissor de calor, este fator é muito importante na tomada de decisão. E hoje os fabricantes disponibilizam muitas e diferentes soluções para esta questão.
Quais os principais cuidados para instalação do vidro em coberturas e em fachadas?
Acima de tudo, é imprescindível desenvolver um projeto bem calculado e especificado conforme as normas da ABNT. Com relação à segurança, por exemplo, o dimensionamento e a especificação de vidros deve seguir a NBR 7199, que determina em que situações o vidro deve ser de segurança. vidro Corretamente especificado e aplicado, o vidro pode ser usado como elemento estrutural, servindo como viga, pilar, e, mais comumente, pisos, guarda-corpos, etc.
Entre os projetos em que atuou, qual lhe impôs mais desafios quanto à aplicação do vidro? Quais foram as soluções encontradas?
Esta pergunta requer que se escreva um livro. Vou citar apenas uma obra. O aeroporto internacional de Carrasco – Montevidéu. O principal desafio foi a logística e a instalação de vidros que requereram projeto de elementos de alumínio e aço para içamento de peças de dimensões especiais.
E quais foram os projetos cujo resultado mais lhe agradou, em termos estéticos e funcionais? Por quê?
O Museu do Olho, em Curitiba, foi um trabalho extremamente gratificante, pois ali tive a oportunidade de, pela primeira vez, trabalhar com o genial Oscar Niemeyer. Os desafios impostos pelo desenho especial das fachadas e os exíguos prazos de obra foram extremos.
Qual o impacto da norma NBR 15575, quanto ao desempenho acústico das edificações, sobre o mercado da construção?
Será um estímulo à melhoria da qualidade das edificações. Basta que seja cumprida. O consumidor deve ser incentivado a exigir que a habitação que compra ou usa seja confortável em todos os aspectos. Por que não o acústico?