Regulamentação inédita

Regulamentação inédita

Capa: Regulamentação inédita

Tendência em alta no cenário arquitetônico urbano, as sacadas envidraçadas representam uma solução para tornar esses espaços mais aconchegantes, por ganharem proteção acústica ou térmica em locais barulhentos, de inverno rigoroso ou de calor excessivo. O crescimento desse mercado levou à necessidade de parâmetros regulatórios para o segmento, como a NBR 16259, da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), em vigor desde 16 de fevereiro deste ano.
Com cinco anos de desenvolvimento, participação de 200 pessoas e representação de 97 empresas, a NBR 16259 é inédita no mundo. “Não existia uma norma internacional que pudesse balizar os requisitos. Ensaios preliminares foram realizados para estabelecer parâmetros de avaliação do produto, como resistência à pressão do vento, corrosão das partes metálicas e outros”, explica o gerente-técnico da Associação Brasileira de Distribuidores e Processadores de Vidros Planos (Abravidro), Silvio Ricardo Bueno de Carvalho.

 

Neste projeto em Riviera, em Bertioga (SP), do arquiteto Daniel Kalil, foram aplicados cerca de 20 m² de vidro laminado de 10 mm com película solar incolor para o fechamento da varanda

Antes dessa especificação técnica, não havia qualquer regulamentação que definisse os padrões mínimos de segurança e desempenho dos sistemas de envidraçamento de sacadas. “A concorrência nesse mercado é intensa e a NBR 16259 oferece ao consumidor parâmetros de exigência quanto à qualidade e à segurança. O fabricante terá de se ajustar a esses parâmetros para não correr o risco de ficar fora de obras importantes”, observa Carvalho. “O objetivo é garantir melhor qualidade do processo de instalação e de manutenção por parte dos fornecedores.”

 

Por dentro da NBR 16259

 

“A norma técnica abrange desde a avaliação estrutural do prédio, para possibilitar a instalação dos sistemas, passando pelas exigências de desempenho e os requisitos de instalação”, esclarece o gerente-técnico da Abravidro. “Além disso, a NBR 16259 sugere procedimentos relacionados à manutenção a serem informados ao usuário para que o sistema tenha vida útil maior”, acrescenta. Os principais tópicos: tipos de envidraçamento; fixação do vidro no perfil; instalação; envidraçamento sobre guara-corpo existente; peso do sistema; pressão do vento; resistência às operações de manuseio; resistência à corrosão. Os ensaios previstos englobam verificação de ciclos e dos perfis de alumínio anodizados ou pintados, resistência à corrosão, ao impacto de corpo mole e às cargas uniformemente distribuídas. 
Observação dos fabricantes

Os vidros usados em varandas devem ser temperados (NBR 14698) ou laminados (NBR 14697), devendo a espessura ser calculada com base na NBR 7199. Segundo o engenheiro civil da equipe de Especificação Técnica da PKO do Brasil, Jefferson Martins, os vidros podem ser comuns ou de controle solar. “Hoje temos tipos e cores de vidros que oferecem destaque ao empreendimento, proporcionando conforto térmico sem perder a integração com o ambiente externo e a devida proteção contra a intempérie. Outra vantagem é possibilitar ampla ventilação”, explica. Quanto à conservação, o gerente de Marketing da Cebrace, Carlos Henrique Mattar, recomenda limpeza com um pano macio, água e sabão neutro. Com relação às ferragens, é importante a manutenção das roldanas, puxadores e canaletas.”

O projeto da Dinna Albuquerque Design de Interiores foi concebido em 30 dias, com dois dias de instalação, em São Paulo (SP).

 

Negócios em expansão

 

Os players do setor procuram tirar proveito da verticalização das metrópoles para expandir seus negócios. É o caso da Neovidro, que tem investido na qualificação de mão de obra e tecnologias avançadas. O diretor da empresa, Mariano Lucente, lembra que o sistema de envidraçamento, aplicado em sacadas, varandas, churrasqueiras, divisões de ambientes e áreas gourmets, é um acréscimo que sempre valoriza o imóvel. Seu sócio na Neovidro, Jorge Zakaib sugere também a aplicação de envidraçamento para a criação de salas de leitura, salas de ginástica, brinquedoteca, entre outros.
A Sanglass acompanhou as reuniões da comissão de elaboração da NBR 16259 e foi modelando os processos produtivos de acordo com as exigências. Segundo seu diretor Eduardo Sandron, o envidraçamento de sacadas requer conhecimento técnico e estrutural para avaliar se o local de instalação suporta o peso adicional. “Vale citar como exemplo uma sacada de 10m x 2m. A aplicação do sistema, quando 100% aberto, corresponde a 560 kg concentrados em um só ponto, com sério risco de acidentes.”

Presente nos estados de São Paulo e Rio de Janeiro, a Sanglass tem unidades também no Maranhão e no Pará, focadas no mercado de caixilharia predial, atendendo diretamente as construtoras. Nos próximos meses abrirá uma nova unidade em Minas Gerais com uma área fabril de 2.000 m², estrutura para corte e lapidação. Outra empresa nessa área é a Dorma, que no Brasil atua no interior e na Grande São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia, Ceará e Alagoas, e na América Latina está no Chile e Argentina.

Segundo a gerente de produto da Dorma, a empresa trabalha com dois sistemas: o Comfort Space System, voltado exclusivamente para fechamento de varandas, que atende painéis com até 800 mm de largura por 2.800 mm de altura, para vidro temperado de 8,10 e 12 mm; e o HSW, que pode ser usado tanto em varandas como divisória temporária de área, que trabalha com painéis de até 1250 mm e altura de 4000 mm e peso máximo de 150 kg por folha. 
A Sacada Brasil trabalha com o sistema articulado de envidraçamento e já está em conformidade com os requisitos aprovados. “Apesar de a norma técnica definir os parâmetros, algumas exigências dependem de detalhes como a região em que será aplicado o sistema, a topografia do local e a quantidade de pavimentos, entre outros itens. Por isso, cada obra deve ser analisada individualmente para seguir todos os pontos da norma”, ressalta o gerente comercial da empresa, Alberto Ferrari. 

 

Na equipe de instalação própria da Sanglass, técnicos uniformizados usam equipamentos de segurança para o envidraçamento da sacadaNa equipe de instalação própria da Sanglass, técnicos uniformizados usam equipamentos de segurança para o envidraçamento da sacada

O diretor técnico da Barravento, Fernando Bolsanello, avalia a normatização como um verdadeiro marco, com grandes impactos sobre o processo de fabricação e com relação à informalidade com que a maioria das instalações é feita. “Fizemos uma pesquisa que aponta a varanda gourmet como uso preferido do envidraçamento, principalmente em tempos de Lei Seca, em que os que gostam de curtir uma happy hour com os amigos têm em casa a melhor alternativa”.
A New Vision, que também trabalha com envidraçamento de sacadas, prevê a criação de franquias em cidades como Campinas (SP) e São José dos Campos (SP) e nos estados de Mato Grosso e Goiás. Já a Blindex possui o Sistema View, de fechamento de sacadas aplicado nas mais variadas formas: retas, curvas, em L etc. As cores das sacadas são determinadas pela escolha do vidro: incolor, verde, cinza, bronze ou refletivo (metálico). “As cores do perfil também variam: branca, preta, bronze, prata fosca. Os consumidores podem personalizar suas sacadas de acordo com o projeto do ambiente a fim de compor um espaço harmônico”, afirma o coordenador de franquias, Jairo Gonçalves Martins.

No seu portfólio, a Solid Systems destaca o sistema Allglass Solid, utilizado em varandas, jardins de inverno e ambientes diversos, e o Folding Glass Solid, sistema com folhas em vidro tipo sanfona, usado em ambientes internos. De acordo com o arquiteto Rodrigo Belarmino, o Allglass Solid tem perfis robustos e resistentes, tecnologia inovadora de travas automáticas, tampas de acabamento laterais e frontais, escovas de vedação duplas embutidas no painel, roldanas com rolamentos de alta performance, perfis de silicone transparente entre os vidros, tecnologia alemã de fixação dos vidros por meio de parafusos e travamento magnético com vidros recolhidos. 

Para o cofundador da empresa Rei da Reforma, Leonardo Jakobi Conter, a expectativa é que cada vez mais os fornecedores se adaptem às especificações da NBR 16259. “Apesar de estar em vigor desde fevereiro, sabemos que a sua implementação no mercado se dará com o tempo, principalmente pela mão de obra autônoma que executa este tipo de serviço. E, também, porque resultará em maior custo do produto final, aumento que será compensado pelos benefícios de segurança da regulamentação”, completa.